Quem não sabe apreciar as pequenas coisas da vida, está fechado para as grandes. Talvez por isso, que eu saiba, até hoje não surgiu uma sociologia da gorjeta.
Vem à mente uma cadeira um pouco alta sobre um estrado, em que o cliente sobe com um pequeno esforço, para que a posição das mãos dos engraxates, sentados sob a altura de seus pés, esteja na posição adequada. “Quer um jornal?” o servidor oferece-o para ser lido durante a singela ação que vai executar
São homens que geralmente se esmeram em ser atenciosos. Um socialista diria que a cena é uma imagem da desigualdade social que existe no Brasil. Mas os rapazes nem sabem o que é isso, e se soubessem não se incomodariam. Bah! Os intelectuais!
Se o engraxate é um velho profissional, depois de uma limpeza rápida e de algumas providências prévias, ele toma duas escovas, uma em cada mão. E numa fúria frenética, mas ao mesmo calma (um paradoxo), bem humorada e pacífica, dá lustro aos dois calçados. As escovas sobem e descem simultaneamente, em alta velocidade.
Depois, com uma flanela, e a mesma celeridade, vem a hora de dar brilho: os sapatos estão reluzentes e luzidios. Ele finalmente começa a retirar os anteparos que tinha colocado nos lados dos calçados, para preservar as meias do freguês. É sinal de que a “engraxagem” terminou, e chegou a hora de pagar.
‒ Quanto é? O freguês paga justo e deixa um pouco mais. É a gorjeta. Até logo! Até a próxima! Felicidades, doutor (é sempre presumido que é doutor).
Vejo com simpatia esta cena certamente do passado mas estritamente contemporânea nossa; de hoje, mas que lembra coisas de antanho. Deveria ser objeto de uma sociologia dos fatos pequenos mas palpitantes da vida, pois a gorjeta não é um pagamento, mas uma concessão. Enquanto concessão, ela exprime confiança, gratidão e reconhecimento de quem concede e de quem recebe. Nela reside um sentimento de ordem social, segundo o qual cada um se afeiçoa às desigualdades, que não esmagam, mas se auxiliam e se completam.
É o Brasil real, o Brasil brasileiro que no silêncio da mídia e na ausência das atenções, vai dando lições de uma felicidade sem prazer, pouco planejada, nada planificada, nunca inteiramente impessoal, mas autêntica, tranquila, despretensiosa, que passa quase desapercebida. Episódios como este hoje em poucos países se veem.
Há meninos que, como primeira obra de carpintaria da vida, fazem uma tosca caixa para lustrar sapatos e ganhar uns trocadinhos. Tempos atrás havia um número bem maior desses simpáticos adolescentes, nas ruas e praças do Brasil, mas ainda existem.
Dentro de uma “engraxagem”, a gorjeta é uma nota harmônica ou cacofônica? Diria alguém que é uma estridência pois, onde entra o “vil metal”, as coisas desafinam. Mas numa cena quase familiar como a descrita, a gorjeta cabe naturalmente. Ela acentua a nota de desigualdade gentil, respeitosa e, como diz Dr. Plinio, musical. Uma maneira honesta de ganhar a vida. A gorjeta aproxima as classes sociais. Não quer dizer que não possa haver abusos de parte a parte, mas isso é bem outro assunto. O abuso não exclui o uso, e este uso de si é aperfeiçoante dos trabalhos.
Há muitos tipos de serviço que postulam uma gratificação: hotéis, taxis, postos de gasolina, etc. Num restaurante, as gorjetas, são de duas modalidades: as espontâneas e as compulsórias, sendo estas incluídas na nota. Falemos das espontâneas, as dadas diretamente pelos clientes aos garçons. Se o serviço não agradou, não há por que gratificar largamente. Mas se a gorjeta foi boa, é um elogio ao serviçal. É um estímulo à perfeição. Há uma discreta relação de personalidades entre ambos.
As gratificações azeitam as desigualdades, e nesse sentido, pode-se até falar em “função social da gorjeta”. É um fator pequeno, minúsculo, insignificante até, mas, que dizer? não é em torno de minúcias não planificadas, orgânicas, familiares, honestas, cristãs como esta, que se pode consumar ou não, o bem estar da civilização?
A essas atividades se aplica, à merveille, um magnífico comentário de Dr. Plinio: “Cada pessoa deve ser ela mesma. Cada um deve respeitar a personalidade do outro, sentir as afinidades e sentir as diferenças […] a cortesia é o laço cheio de respeito, de distinção, de afeto, que prende pessoas diferentes, e as coloca numa relação como as notas de uma música entre si”.[1]
[1] À Procura de Almas com Alma, excertos do pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998, p. 201.
A GORJETA é uma gratificação aos bons serviços prestados pelos RESTAURANTES, onde as pessoas são atendidas com atenção, principalmente nos lugares em que costumam frequentar assiduamente ….. Logo, essa instituição, a GORJETA, é salutar … E, evidente que em bares, lancherias, butecos e assemelhados, não pode ser aplicada, aliás, nenhum desses estabelecimento de senta-come-levanta sequer mencionam isso …
De acordo com o dicionário é uma gratificação, dada através do dinheiro.
Pensando nas relações comerciais, ao vender um produto o comerciante analisa o seu custo de produção ou aquisição e acrescenta o seu lucro esperado, a fim de passar ao cliente o preço final do produto ou do serviço.
Portando em um menu de restaurante já deve conter todos os custo para a preparação da comida, vendê-la e por mim o lucro devido. Então por que cobrar 10% a mais em cima do consumo?
Em muitos estabelecimentos a cobrança se torna praticamente obrigatória, pois se o cliente não paga, nem adianta voltar lá porque ele não será atendido. Que belo “tiro no próprio pé” do comerciante, perdeu a gorjeta e o cliente.
Quando isso acontece comigo eu não entro mais no estabelecimento.
A desigualdade, no que se refere não à natureza humana, mas à situação sócio-econômica dos brasileiros na questão das classes sociais, é extrema: milhões de famíias não têm moradia, alimentação adequada, assistência médica, educação satisfatória: moradores de rua, desvinculados da verdadeira vida de um ser humano. Do outro lado dessa miséria, bem distante, vive a opulência, o luxo e a avareza.
Caridade?! Raríssima. Estou falando de solidariedade, não da divisão de bens conforme preconiza o socialismo.
Parabenizo a todos aqueles que trabalham e estudam para ter um futuro melhor para si e suas famílias, por exemplo: o office-boy que triunfante consegue emancipar-se através de ferrenha decisão e luta diárias, etc. Esclareço que considero qualquer trabalho honesto edificante e necessário.
Caramba… que página doida. É muito psicopata proliferando ódio
As pessoas podem ter perdido o costume de dar gorjeta, mas se o restaurante institui a gorjeta compulsória é pior, porque aí sim com certeza que ninguém vai mais dar gorjeta, já está dando obrigatoriamente, pra que vai dar duas vezes?
Aquilo que todos pagam não é gorjeta, pois o cliente sabe que vai ter que pagar aqueles 10% a mais e ele já calcula como se fosse o custo de almoçar naquele lugar 10% mais caro que no outro lugar com o mesmo preço. Se engana o dono de restaurante que acha que poderá tirar vantagem disso, o cliente não é besta.
Se eu fosse garçom não ia querer isso, eu prefiro trabalhar num lugar que valorize meu esforço, ao invés de juntar toda grana no caixa e no final do expediente dividir igualmente com todo mundo, extingue-se o mérito.
Gosto muito desses artigos com análises de situações psicológicas. Sem contar que é muito bom ir conhecendo o pensamento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nas várias gamas de assunto. Por favor, continuem publicando.
Já ganhei muita gorjeta quando engraxate e depois barbeiro. Era um incentivo para fazer cada vez melhor atendimento.
Ousei fazer um interpretação da musica Menino da Porteira exatamente pela falta de gratidões a um simples gesto de bem servir. Desculpem a extensão da interpretação, mas acho que vale a pena.
MENINO DA PORTEIRA
Professor José Antônio da Silva
Paraíso do Tocantins. 2013
TODA VEZ: persistência, constância, frequência, costumeiro, rotineiro, habitual.
VIAJAVA: sair de casa para conhecer pessoas, lugares e costumes. Isso enriquece a gente.
ESTRADA DE OURO FINO: belíssima estrada das grandes realizações, uma estrada de amor, estrada da prosperidade, progresso e sucesso. O inicio da caminhada de todos nós está no ensino básico e fundamental. Em toda formação de bons princípios e bons costumes, religiosos e educacionais para a longa caminhada da vida.
LONGE EU AVISTAVA A FIGURA DE UM MENINO: Como estamos vendo as crianças hoje? Distantes? Indiferentes? Desassistidas? Anônimas?
CORRIA ABRIR A PORTEIRA: Estaria brincando, mas era prestativo, esperto. Gesto simples de uma criança, mas significativo.
“TOQUE O BERRANTE SEU MOÇO QUE É PRA ”MIM” FICAR OUVINDO”: para ficar na saudade. Quantos de nós temos boas lembranças da infância? Outros têm traumas!
“QUANDO A BOIADA PASSAVA”: efeito de sua ação espontânea e benéfica que facilita o escoamento de bens e riqueza.
A “POEIRA IA ABAIXANDO”: quanta poeira ainda ofusca, impede, desvia ou atrasa a formação, não só das crianças, mas de tantos necessitados. Poeira a ser abaixada nos ensinos, nas aprendizagens, nas oportunidades. Poeiras que não abaixam, tornando opacas as vistas em seus futuros.
“JOGAVA UMA MOEDA ELE SAÍA PULANDO”: no sentido de valorizar o gesto prestativo do menino. Sentindo-se valorizado ele saía pulando; para ele bastaria o toque do berrante para ficar na memória.
Calculo: 4 por semana X 16 no mês X 52 semanas no ano = 832 sem especificar cifras
“OBRIGADO BOIADEIRO”: Ninguém é ou deve fazer coisa alguma obrigado contra a vontade; OBRIGADO é muito mais que um agradecimento, tem o sentido de reciprocidade, isto é, retribuição do favor recebido a quem me favorece hoje, e quando estiver precisando de minha ajuda por sua vez, amanhã.
E fazer de BOA VONTADE.
Em família seria muitíssimo bom que os filhos e filhas retribuíssem espontaneamente um pouco do muito que recebem dos pais. Não ir a certos lugares nem andar com certas companhias para não contrariar os pais. Ser uma Bênção!
Demonstrar a unidade de família verdadeiramente feliz! Obedecer é fazer o correto e justo. A justiça começa em casa! Lembra-se de quem os amou primeiro.
Nas escolas, demonstrar igualmente ao longo dos anos, o valor da educação e toda formação recebida dos professores e mestres. Fazer valer o aprendizado. Serem alunos e alunas exemplares. Fazer com que a escola que frequenta seja a melhor da cidade e do país. Disto depende o futuro de cada um.
“quer ser grande? Então comece pelas coisas pequeninas e úteis”. (autor desconhecido)
“QUE DEUS VAI LHE ACOMPANHANDO” Deus na vida das pessoas. Uma bênção pelo desejo de abençoar a vida de alguém.
“PRÁQUELE SERTÃO AFORA MEU BERRANTE IA TODANDO”: atende o singelo pedido do menino.
“NOS CAMINHOS DESTA VIDA MUITO ESPINHO EU ENCONTREI”: cada um de nós tem um caminho a percorrer; a estrada de ouro fino pode ser o inicio da caminhada das crianças desde o inicio de suas vidas.
“MAS NENHUM CALOU MAIS FUNDO DO QUE ESTE QUE PASSEI”: a perda da empatia que causou sentimento especial de profunda amizade; perda inesquecível.
“NA MINHA VIAGEM DE VOLTA QUALQUER COISA EU CISMEI”: desconfiei, mas CISMAR significa também antipatia, implicância, presumir, pensamento fixo em uma ideia. A Igreja, ao longo de sua existência secular enfrentou muitas cismas causando separações dolorosas. A família também tem cismas. Quantas separações por cismas. Cismou, logo separou! E os prejudicados são sempre as crianças.
“VENDO A PORTEIRA FECHADA O MENINO NÃO AVISTEI”: por que será que certas portas se fecham na sociedade? Quem abre as porteiras para quem?
“APEEI DO MEU CAVALO”: Descer de nossa superioridade, de nosso pedestal, de nossa posição social, melhor condição de poder para verificar o que acontece em níveis menos favorecidos.
“NUM RANCHINHO BEIRA-CHÃO”: Moradia sem alicerce. Lembra um presépio. Chegar com ajudas efetivas.
“VI UMA MULHER CHORANDO”: o que está se passando ali? Sempre tem um sofrimento, alguma separação ou ausência dolorida.
“QUIS SABER QUAL A RAZÃO”: motivos não faltam.
“BOIADEIRO VEIO TARDE”: sempre se chega tarde. Por que tanto atraso? Atraso social, econômico. Penso que deveríamos utilizar o dizimo de nosso tempo para realizar certas coisas úteis também. Coisas que trazem muitos benefícios sociais por ajudar alguém em necessidade. Amor ao próximo, caridade.
“ESTRADÃO”: foi no que se transformou a Estrada de Ouro Fino!
“QUEM MATOU O MEU FILHINHO FOI UM BOI SEM CORAÇÃO”: Bons sentimentos procedem do coração, mas sempre há os insensíveis. Tem “boi” matando crianças e adolescentes e podemos ver as muitas crianças “mortas-vivas” envolvidas em drogas, prostituições, crimes, por não percorrerem as respectivas estradas de ouro fino. Esse boi tem dono, (o príncipe deste mundo), e deixa marcas indeléveis.
“LÁ PRA BANDA DE OURO FINO LEVANDO GADO SELVAGEM”: a vida continua, porém o que for selvagem deve mesmo estar sob rígidos controles. Para não provocar ataques a quem esteja em caminhada pela estrada de ouro fino. Sempre existe algo selvagem ao sentir raiva, ódio, rancor, inveja, ciúme, exploração de menores, etc.
“QUANDO PASSO NA PORTEIRA ATÉ VEJO A SUA IMAGEM”: pela ausência de alguém querido.
“O SEU RANGIDO TÃO TRISTE MAIS PARECE UMA MENSAGEM”: O rangido poderia ser uma alegre melodia, mas passou a ser um ruído estranho e triste aos ouvidos. Há músicas que expressam tais ruídos mecânicos e ensurdecedores.
“AQUELE ROSTO TRIGUEIRO DESEJANDO-ME BOA VIAGEM”: rosto querido carinhoso, apadrinhado.
“A CRUZINHA DO ESTRADÃO DO PENSAMENTO NÃO SAI”: a marca do cristão é a Cruz de Cristo, que disse: “Quem quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!”. Estrada de Ouro Fino!
“EU JÁ FIZ UM JURAMENTO / QUE NÃO ESQUEÇO JAMAIS / NEM QUE O MEU GADO ESTOURE QUE EU PRECISE IR ATRÁS / NESSE PEDAÇO DE CHÃO / BERRANTE EU NÃO TOCO MAIS”: não fazer promessas ou juramentos que não pretende cumprir; rever no ranchinho beira chão a queixa de saudade da mãe.
Houve um tempo, décadas de 40, 50, até meados dos anos 60, que era comum essa “troca” de gentilezas e, se de um lado havia um “doutor”, do outro certamente um trabalhador. As oportunidades, até então, eram iguais à todos. Hoje, um office-boy, amanhã um universitário praticando seu ofício com maestria. Hoje, um auxiliar de pedreiro, amanhã, um técnico, ou, um engenheiro, e por aí afora. Os tempos mudaram. Passou-se a exigir cada vez mais, e a oferecer muito menos. Desenvolveram-se dois tipos de categorias humanas: os que podem tudo e os que nada tem. Acirraram-se os dentes e desenvolveu-se o ódio. O que antes era uma “cortesia”, hoje, é uma obrigatoriedade. O que antes era “um estágio”, hoje é uma profissão. A falsidade nas “relações sociais” não tem opção política, seja de
direita ou de esquerda, está aí vista a olhos nus, só não enxerga quem não quer. Como cita famoso psquiatra brasileiro, desenvolveu-se um “ser humano” que PARECE SER, PARECE TER, e faz de conta que é feliz. A GORJETA, HOJE OFICIAL, IMPLICA EM SE PAGAR POR AQUILO QUE NÃO SE DEVE. PAZ E BEM À TODOS.
Acho que a gorjeta de fato estão fora de moda porque essas relações de afeto quase não existem mais. Hoje é o toma lá, dá cá. Acho que tudo, hoje em dia, é visto só do lado do direito e não se vê o outro lado que é o do dever. Fico pensando o que há de errado em ser menos. Veja bem, o rico pode ser menos. Isto é, menos rico que o mais rico do que ele. O inteligente também pode ser menos inteligente que outro e assim por diante. Desigualdade faz parte da natureza humana ou da natureza toda, eu não gostaria que todos fossem pardais.