Os brasileiros sempre souberam lutar pela soberania nacional.
Continuando os Posts sobre a Reconquista de Pernambuco, veremos hoje a batalha final, dos Montes Guararapes, onde os holandeses sofreram uma derrota irreparável. O general holandês Sigismundo Van Schkoppe aconselhou à Companhia das índias Ocidentais a desistir do propósito de dominar o Brasil, pois que em dez meses haviam perdido 5 mil pessoas, em apenas duas batalhas.
Holanda envia reforços
Como vimos, em 1630, foi enviado um exército holandês contra a pequenina Olinda. A Holanda era uma potência marítima no século XVII. Sua fracassada tentativa de se apossar da Bahia levou-a a armar uma poderosa esquadra que desponta em Olinda, em 1630: 70 navios, 3500 soldados, 1200 canhões, 3780 marinheiros.
Diante de atrocidades, canibalismos, sacrilégios, persequição religiosa perpetrados pelos hereges holandeses contra a população católica, declara-se a Insurreição Pernambucana, festa Santo Antonio, 13 de junho de 1645. Os episódios subsequentes podem ser vistos em https://ipco.org.br/a-reconquista-do-brasil-nossa-vitoria-no-monte-das-tabocas-iii/. A primeira grande derrota militar dos holandeses deu-se no Monte das Tabocas, em fins de 1645.
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Uma poderosa esquadra aporta em Recife
Em dezembro de 1647, a Companhia das Índias Ocidentais enviou ao Brasil uma poderosa esquadra composta de 60 navios, nos quais vinham 9 mil homens, aportando em Recife a 14 de março de 1648.
Bandeiras tremulando, aproximaram-se aquelas naus do porto de Recife, disparando as suas peças de artilharia. Os holandeses que estavam em terra responderam com três salvas.
Julgavam os holandeses que com aquele reforço, esmagariam definitivamente o exército de João Fernandes Vieira, o “governador da liberdade”. Os nossos soldados, apesar de disporem então de poucos recursos e de não haverem recebido os reforços prometidos pelo governador do Brasil, sediado na Bahia, Antônio Teles da Silva, prepararam-se com ardor para mais esta gloriosa batalha em defesa da Fé católica, de sua Pátria e de seu Rei.
Por determinação dos Mestres de Campo, todos os nossos guerreiros reuniram-se no Arraial do Bom Jesus. Eram ao todo 3.550 homens, dos quais 1.800 constituíam o terço de Fernandes Vieira e 750, o terço de André Vidal de Negreiros. Os restantes eram 300 pretos comandados por Henrique Dias, 350 índios de Felipe Camarão e 350 brancos encarregados da defesa da fortaleza de Nazaré.
Brancos, negros e índios haviam forjado a têmpera do brasileiro e afirmado a nossa nacionalidade. Nasceu ai o exército nacional.
A preparação da batalha
O exército holandês, sob o comando do general Sigismundo, saiu de Recife no dia 17 de abril de 1648. Compunha-se de 7.400 soldados. Seis coronéis o serviam: Hendrick Van Haus, Van Elts, Hautyn, Pedro Keerweez, Van den Brande e Brinck. O inimigo marchou em direção à fortaleza dos Afogados e dali caminhou até o posto da Barreta, onde se deteve. Os nossos Mestres de Campo — João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros — decidiram ir ao encontro dos invasores com 2.200 homens, deixando os restantes para guarnecer o Arraial do Bom Jesus e outros pontos estratégicos.
Narra Diogo Lopes de Santiago a estratégia do “governador da liberdade” que mandou 20 homens de confiança com 40 índios de Felipe Camarão para atraírem o inimigo até aqueles montes Guararapes. Assim fizeram eles com grande êxito, disparando contra o inimigo e recuando em perfeita ordem.
Contra a artilharia inimiga opunham seus peitos varonis
Adiantaram-se logo os holandeses até os montes, ocupando a campina e a planície próximas do boqueirão que havia junto a eles. Ocuparam também o alto dos montes. Traziam 61 bandeiras e o estandarte com as armas das Províncias Unidas e Estados Gerais, cinco peças de artilharia, muita munição e viveres. Nossos soldados dispunham de bem poucos recursos. “Não traziam artilharia nenhuma. porque contra a do inimigo opunham seus varonis e robustos peitos e animosos corações (…). Não levavam bandeiras, mas uma firme confiança de lhas ganharem e conculcarem apesar da soberba dos holandeses, e com elas levantar os troféus de suas insignes e célebres vitórias com tantos aplausos solenizadas e em lugar delas levavam seus rosários de contas pendurados do colo, que eram as bandeiras da Virgem Senhora Nossa, em quem confiados arrebatavam as do inimigo” (Diogo Lopes de Santiago, op. cit., livro IV, cap. VI).
A primeira batalha de Guararapes
João Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros — porque tinham pouca munição — foram de opinião que se devia dar logo a primeira carga de artilharia e avançar à espada contra o inimigo.
Do lado direito Negreiros com os seus, seguido por Camarão e seus índios. Pelo lado esquerdo adiantou-se “o governador da liberdade”, procurando atingir o alto dos montes, seguido por Henrique Dias com seus pretos. Os holandeses dispararam duas fortíssimas cargas de artilharia. Os nossos continuaram em direção a eles, apesar dos disparos. A nossa infantaria disparou a um só tempo contra o inimigo, enquanto os dois destemidos mestres de campo, de espada na mão, investiam contra os hereges batavos.
Tocados por tão admirável exemplo de bravura, capitães e soldados imitaram seus comandantes, avançando com destemor e matando por toda parte, no espaço de meia hora. Desceram os holandeses, em confusão, do alto daqueles montes, seguidos pelos nossos valentes guerreiros, que como novos e valorosos cruzados “cortavam pernas, braços, cabeças, uns matando, outros ferindo encarniçadamente”, esquecendo-se de si próprios e considerando grande glória o arriscar a própria vida por tão nobre causa.
Chega novo reforço holandês
Desesperados, os holandeses foram se metendo pela região alagadiça, ao sopé dos montes. Os nossos soldados seguiram-nos. matando a muitos. Já consideravam ganha a batalha, depois de quatro horas de luta, quando surgem as 14 bandeiras do cel. Hendrick Van Haas, que vinha à frente de mil homens que haviam ficado em Recife. Cansados, os nossos mal conseguiam segurar suas armas esquentadas pelos contínuos disparos. Fernandes Vieira e Negreiros adiantam- se novamente contra o inimigo. Outra vez inflamados pelo heroísmo de seus comandantes, os valorosos pernambucanos e portugueses retornam à luta, esquecidos de seu cansaço e fome. Os dois exércitos entrechocam-se violentamente na campina, ao pé dos montes.
O inimigo lutava desesperadamente para conquistar o boqueirão. Depois de uma hora de encarniçado combate, os hereges invasores, não suportando o ímpeto de nossos ataques, recuam um pouco. Formaram-se mais uma vez os dois esquadrões, porém o general holandês Sigismundo, à vista de tantas perdas, preferiu recuar, protegido pela escuridão da noite que se aproximava.
1200 holandeses mortos
Na manhã seguinte, os nossos valentes mestres de campo foram reconhecer a região do combate, verificando então que o inimigo ali deixara 1.200 mortos. Dos nossos soldados só morreram 84. Esta grande vitória se obteve no dia 19 de abril de 1648, domingo da Páscoa e festa de Nossa Senhora dos Prazeres. No domingo seguinte, o Vigário Padre Domingos Vieira de Lima ordenou que em todas as igrejas matrizes se expusesse o Santíssimo Sacramento, para que os fiéis lhe rendessem ações de graças pela brilhante vitória sobre os hereges.
Poucos dias após, um coronel holandês, que se dirigia para os montes Guararapes com um bom reforço, encontrou-se com Sigismundo Van Schkoppe que regressava a Recife. Agastado ante a notícia da fragorosa derrota, perguntou-lhe o coronel por que permitira que isto acontecesse quando dispunha de tão poderoso exército. Schkoppe, igualmente irritado, disse-lhe que fosse antes conhecer o valor dos portugueses. Se quisesse lutar com eles não precisaria ir muito longe. Ali mesmo, perto de Recife, encontrava-se um preto chamado Henrique Dias, com seus soldados. Que fosse logo defrontar-se com ele, para ver quem era, antes de acusar o exército holandês e seu comandante de fraqueza ou omissão.
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Veremos no próximo POST a segunda e última batalha no Monte Guararapes. Com essa derrota os holandeses perdem o ânimo. O Brasil tinha mostrado a sua fibra católica e patriótica. Nossa História nos mostra que somos invenciveis quando nos apoiamos na proteção da Providência Divina e batalhamos dentro das Leis de Deus e do Direito Natural.
Nossa Senhora Aparecida salvará o Brasil.