Espíritos arrojados — entre familiares e amigos, sobretudo no meu Paraná —, se lançaram numa aventura, tachada à época por muitos de extravagante. Tratou-se da erradicação do café no norte do estado para se plantar basicamente milho e soja de verão, deixando a terra, após a colheita, coberta com a palhada, cuja fertilidade encantava pragas como o picão e o carrapicho.
Alguns produtores se arriscaram, empreendendo um segundo plantio anual, o qual mais tarde passou a ser chamado de “safrinha”. Lembro-me de um desses desbravadores que, satisfeito com os resultados, ousou mais. Conseguiu no Paraguai um container de trigo mexicano adaptado ao clima quente, e o transportou pouco a pouco em seu monomotor até Londrina, onde iniciou o plantio na região.
Alguém dirá: “Mas como ele conseguiu adquirir esse trigo no Paraguai e levá-lo para o Paraná?” Confesso não saber. Mas, ainda que o tenha conseguido passando por cima do controle estatal brasileiro, o risco do jogo valeu e vem valendo a vela.
Uma vez semeado, o trigo rendeu cem por um, o que levou os burocratas de Brasília a registrarem a semente para pesquisa. Ato contínuo, a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas tomaram a bandeira. E hoje temos trigo plantado no inverno, cuja qualidade é igual ao do europeu e argentino. Só ainda não somos autossuficientes em razão da burocracia e da desoneração do trigo importado.
Pluricentralizadores e pontificadores, os governantes brasileiros vêm de se tornando tão ou mais plenipotenciários que os faraós do Egito — míseros faraós, que poderão se mexer na sepultura em sinal de protesto pela comparação! Afinal, enquanto o grande e sábio José do Egito governou, ele forneceu ao seu povo trigo em abundância nos sete anos das vacas magras, conforme o relato bíblico.
Já os “faraós” do PT fizeram o contrário: dilapidaram tudo. Deixaram vazios os silos e desestruturado o País, levando à paralisação da economia e ao consequente desemprego de 14 milhões de brasileiros! Eis o grande “feito” dos desgovernos petistas em relação ao Brasil e aos que necessitam trabalhar.
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Devido aos novos entraves à plantação de trigo, bem como à possibilidade de demanda ou de excesso de produção do cereal, nosso criativo produtor começou a plantar milho. Novas variedades híbridas e precoces foram desenvolvidas pela Embrapa e pelo setor privado, dando início à produção em escala da “segunda safra”. A cevada, a aveia, o feijão e outras culturas de inverno vieram atrás.
Assim, não só a terra ficava com cobertura vegetal, mas também a palhada e o adubo remanescentes da safra de verão faziam vicejar o novo plantio, com a vantagem de inibir as pragas e evitar a erosão do solo. Vale a pena lembrar que a atividade rural não se resume apenas ao cultivo de grãos; nesse período é que se realiza o grosso da colheita da cana-de-açúcar, da laranja e outras frutas.
As baixas temperaturas que fazem secar o capim indicam a hora de abater o gado. Os frangos em galpões aquecidos continuam crescendo. Em todas as feiras agropecuárias que se realizam surge um novo termo no glossário da produção agropecuária. A mais recente é que não se fala mais em “safrinha”, mas de “segunda safra”. Pudera! Tão-só o milho produzido nela ultrapassa as 70 milhões de toneladas, que somadas às da primeira atingem 100 milhões de toneladas.
O resultado alcançado hoje catapultará a safra 2016/17 para 230 milhões de toneladas de grãos. O ex-ministro da agricultura (1974-1979), Alysson Paulinelli, considerado o “pai da Embrapa”, declarou com ufania em recente palestra no AgriShow de Ribeirão Preto: “Estamos partindo para a terceira safra em um ano”, mostrando que em várias regiões do Brasil isso já é realidade. Por exemplo, nos mais de seis milhões de hectares irrigados; nas plantações de frutas no vale do Rio São Francisco, no Ceará e no Rio Grande do Norte; e em outras regiões favorecidas por chuvas que precedem as frentes frias de inverno.
Nos fóruns realizados pelas grandes feiras agropecuárias, como os Agrishows (feiras de tecnologia agropecuária) de Cascavel, Não-Me-Toque, Ribeirão Preto, Rio Verde, e ainda nas exposições mistas como a de Londrina, Maringá, Goiânia, Campo Grande, além das especificamente pecuárias, como a Expozebu de Uberaba, pudemos constatar que já alimentamos mais de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas mundo afora.
O ano de 2017 passará certamente para a História do Brasil como o ano deste upgrade conseguido pela nossa agricultura, pois a partir de agora a “safrinha” deu lugar à “segunda safra”. Atingiremos o recorde na produção de grãos com cerca de 230 milhões de toneladas. Ademais, são milhões e milhões de pessoas que se alimentam com proteínas de origem animal.
No primeiro quadrimestre do corrente ano as exportações do agronegócio atingiram o recorde de US$ 29.185.249.178 (em torno de 95 bilhões de reais), tornando superavitária em 21 bilhões e 380 milhões a balança comercial. E não é tudo, pois a safra de cana-de-açúcar e de álcool apresenta muito boas perspectivas. Com a super-safra, a previsão de nosso PIB subiu de 0.5% para 0.7%.
As vendas de máquinas, equipamentos e caminhões para a agropecuária aumentaram 20% em relação ao mesmo período do ano passado. Outro aspecto muito alvissareiro é que elas já geraram mais de 20 mil empregos novos só na agropecuária, pois ainda não dispomos dos dados do conjunto do agronegócio. Serão mais de 600 bilhões de reais do valor bruto da produção que, despejados no mercado, ajudarão o reaquecimento da economia.
Mérito de quem? Do produtor rural, que alheio à gatunagem da máfia governamental do “circo de Brasília”, continuou cuidando da lavoura e do meio-ambiente, plantando e colhendo incansavelmente.
Não posso fechar esta matéria sem reverenciar a memória de Plinio Corrêa de Oliveira, este inesquecível batalhador que sem jamais possuir um palmo de terra, lutou desde a década de 1950 com a combatividade do leão que portava em seu peito e nos estandartes da TFP por ele fundada, para que a Reforma Agrária socialista e confiscatória não fosse implantada no Brasil.
E o pouco que se fez entre nós dessa famigerada reforma — que transformou as áreas desapropriadas em verdadeiras favelas rurais — serviu para ilustrar quanta razão tinha esse grande brasileiro. A História um dia reconhecerá seu grande mérito na defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa.
Lembro que em todos os países onde a Reforma Agrária foi implantada, seus habitantes colheram apenas miséria e desolação, pois tal reforma foi sempre uma bandeira de luta comunista. No terceiro centenário da “pesca milagrosa” de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, peçamos-lhe que se apiede de todos nós e continue a velar pela nação a Ela consagrada.
E o nosso pão, por que não o fazer com fécula de mandioca, em vez de trigo ?