É possível ao homem exercitar seu Amor a Deus servindo-se das coisas criadas?
Deus, criador do Universo, imprimiu nele seus “vestígios”, segundo ensina São Boaventura. E o homem, ele o criou à Sua “imagem e semelhança”. https://ipco.org.br/elevar-se-ate-deus-atraves-das-coisas-criadas-sagrada-escritura-sao-tomas-sao-boaventura-ii/
Procurar os graus de perfeição nos seres inanimados, nos vegetais, nos animais e no homem constitue um excelente exercício de transcendência.
Comenta o Prof. Plinio: “A transcendência supõe a existência de uma superioridade especial de uma coisa sobre a outra, envolvendo o fator qualidade.”
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Vamos aos exemplos.
“Imagine-se uma partícula de granito tão pequena, que seu tamanho possa ser comparado a um grão de poeira, e admita-se que o Pão de Açúcar seja também constituído inteiramente do mesmo material. Qual seria a relação entre esse fragmento mínimo de pedra e o Pão de Açúcar?
Diferença quantitativa
“É a relação de algo ínfimo com outra coisa da mesma natureza, mas numa desproporção quantitativa esmagadora. A massa de granito existente no Pão de Açúcar é imensa; a que existe na partícula, insignificante. Como quantidade, a desproporção é colossal; porém, como qualidade, não há desproporção alguma, pois ambos são constituídos da mesma matéria. Há uma diferença enorme, mas não transcendente, pois não situa o Pão de Açúcar num nível qualitativo diferente do da pequena partícula.
Transcendência qualitativa: mineral, vegetal, animal, homem
“Entretanto, um vegetal, qualquer que seja, transcende a pedra, que é de natureza mineral. E, da mesma forma como uma planta transcende um mineral, um animal transcende a planta; e o homem, animal racional, transcende o simples animal.
“A transcendência supõe a existência de uma superioridade especial de uma coisa sobre a outra, envolvendo o fator qualidade.
A escala das transcendências na pureza
“Sem embargo, pode-se encontrar em todas as categorias determinadas analogias. Considere-se, por exemplo, a pureza na escala das transcendências. Ao lado da candura de um cristal existe a pureza do lírio que, como ser, transcende o cristal.
“Do mesmo modo, a pureza da pomba, por pertencer ao reino animal, transcende à do lírio. E, finalmente, há a pureza de um homem que, como ser, transcende a pomba. A noção de pureza é, pois, aplicável analogicamente a vários seres.
Transcendência no atributo distinção
“O mesmo sucede quanto à noção de distinção. A distinção existente em uma pérola, ou em uma rosa, ou em um faisão é diversa em cada um desses seres e vai se requintando, à medida que se passa de um reino da natureza para outro.
“Mas superior a de todos eles é a distinção de uma princesa. A distinção é, portanto, um atributo que se aplica analogicamente a seres de categorias diversas.
Admiração pela superioridade qualitativa
“Se um cristal fosse capaz de pensar, poderia imaginar a existência de um ser de natureza superior à sua. Seria capaz de conhecer a pureza do lírio, e compreenderia o que tem de semelhante a este; mas deslumbrar-se-ia com a candura do lírio porque, comparada com a dele, é qualitativamente muito superior.
“Do mesmo modo, se o lírio fosse capaz de pensar, se entusiasmaria conhecendo a pureza da pomba. E se a pomba pudesse refletir, ao conhecer a pureza de uma alma humana — como, por exemplo, a de uma Santa Maria Goretti — entusiasmar-se-ia muito mais.
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“Qual a razão disso? É que a mesma qualidade que um ser possui está realizada numa criatura de categoria superior, de modo mais eminente, mais pleno e mais brilhante, em outra esfera da realidade”. [1]
A tese do Prof. Plinio, acima demonstrada, é também um poderoso argumento contra a esquerda igualitária.
Uma simples consideração dos graus de perfeição nos vários reinos (mineral, vegetal, animal) prova que a desigualdade é um bem. São 3 reinos desiguais, cada um susceptível de espelhar graus da perfeição do Criador.
E o homem, com sua alma imortal, é capaz de conhecer e amar esses graus de perfeição e, através deles, elevar-se na contemplação da Trindade Santíssima.
Esse é também o antídoto contra a “ecologia integral”, o culto à Pachamama que insinua em seu bojo o Panteísmo. O Universo não tem partículas de Deus; o Universo tem “vestígios” do Criador, na linguagem teológica de São Boaventura