No tempo em que a música era uma grande arte, as grandes peças musicais geralmente começavam com uma abertura (ouveture) e terminavam com um finale. Em linguagem figurada, o mesmo podemos dizer de qualquer espaço de tempo delimitado, por exemplo um século.
Exemplifiquemos com o sec. XX. Seria uma grande desordem se esse período tivesse começado com um finale e terminado com uma ouverture… Mas, como veremos, foi o que ocorreu no século XX.
O gen. De Gaule afirmou que a Primeira Guerra Mundial foi uma revolução. Como estamos nos 100 anos dessa “revolução”, convém analisar alguns fatos que dão pleno cabimento a tal afirmação.
Do ponto de vista da religião e da Civilização Cristã, o Século XX se iniciou de forma promissora.
As ideias devastadoras provenientes da Revolução Francesa pareciam ter perdido boa parte do seu dinamismo, e em alguma medida se haviam transformado em meros cacoetes verbais. No âmbito da Igreja, logo ascenderia ao Sumo Pontificado um herói da Fé: São Pio X.
Por toda parte despontava uma juventude idealista, muito dotada do ponto de vista dos talentos, tendente ao cavalheirismo, à firmeza de princípios, ao heroísmo, à nobreza de sentimentos.
E o grande São Pio X atestava:
“A civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a Civilização Cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: omnia instaurare in Christo”[1].
O fato é que transformações sociais de sabor revolucionário como o feminismo, a arte moderna e muitas outras, “na verdade mais ensaiadas que efetuadas, encontram por toda parte formidáveis resistências religiosas, morais e políticas, escoradas nas ruínas de um Antigo Regime que nunca para de morrer (Arno Mayer), mas renovadas em suas justificativas e estratégias”[2].
Sim, “um Antigo Regime que nunca para de morrer”. O processo revolucionário desencadeado em 1789 pela Revolução Francesa encontrava no Antigo Regime dificuldades para avançar significativamente. Ora, essa perda de aceleração representa um perigo inestimável para um processo.
Como disse pitorescamente um tenente socialista na Revolução dos Cravos, o processo revolucionário é como uma bicicleta: se sua velocidade diminui, ela se desequilibra, e se parar, cai… Na Belle Époque, o processo revolucionário acabou passando por uma desaceleração.
Uma célebre enquete, assinada com o pseudônimo de Agathon, levada a efeito por Henri Massis (1886-1970) e publicada em 1911, documentava muito bem essa desaceleração. Nela se podia ler:
“Algo mudou na juventude, esse é o sentimento unânime. A atitude corajosa dos moços que entram hoje na vida foi um impacto para todos os mais velhos”. A França havia feito “uma espécie de exame de consciência, uma revisão íntima de todos os seus valores, e chegou assim à eliminação de quimeras que a partir dessa época perderam prestígio. O que diferenciava a nova geração das precedentes era seu realismo”.
“Gosto pela ação, fé patriótica, limpeza de costumes, renascença católica, esses traços podiam ser encontrados em todas as nossas observações”.
E Henri Massis diz magnificamente:
“Aos olhos desses moços, uma natureza pensante, verdadeiramente rica de amor e de vida, devia tender para uma crença, um dogmatismo precursor da ação”[3].
Ninguém sabe em que esplendores poderia desabrochar esse dogmatismo precursor da ação dessa juventude, se tivesse tido condições de desenvolvimento normais. Mas veio a Grande Guerra, chegou o pós-guerra, e tudo mudou.
O Século XX foi aquele em que a Revolução plurissecular, anêmica e claudicante, começou a levar de vencida o Antigo Regime. Houve uma impressionante virada, e essa realidade, penosa para os corações amantes da Cristandade, não pode ser dissimulada, sob pena de não se compreender a essência de nosso tempo.
Plinio Corrêa de Oliveira afirma que “a Belle Époque foi uma espécie de pequena Contra-Revolução”[4]. Ela deveria ter sido uma “ouverture”, mas se transformou em “finale”. E hoje sobram apenas os destroços do que foi uma civilização: é o que podemos dizer aos cem anos do início da Grande Guerra.
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Referências:
[1] Encíclica Notre Charge Apostolique, 1910.
a[2] José Maria Valverde, Viena, fin del Imperio (Planeta, Barcelona, 1990) p. 613.
[3] Henri Massis, “Il y a cinquante ans Agathon publiait sa célèbre enquête sur la jeunesse” (“Historia”, nº 202, setembro de 1963).
[4] Conferência pronunciada em 14-10-82.
Mas hoje a revolução passa por uma desaceleração, não muito como na bella epoque, mas se tomarmos o exemplo da Ucrania com a expulsão dos comunistas ligados a KGb do Putin e, se pegarmos no Brasil, a opinião publica não suporta os atos levados a cabo pelo PT, seja com o futebol passando pela grande quantia de dinheiro a Cuba, como também não apoia o aborto e o casamento homossexual, sem contar ainda a declaração do Brasil na ONU defendendo os terroristas islamicos alegando uma tal “islamofobia”.