Les morts vont vite” (os mortos vão depressa) é um dito francês que sintetiza bem como a lembrança dos nossos falecidos se esvai muito rapidamente da nossa nemória.
Isso ocorre geralmente por não considerarmos o que nos aguarda depois da morte e da necessidade de nos prepararmos para ela meditando nos Novíssimos, ou seja, nas últimas coisas que nos sobrevirão: o juízo pelo qual teremos que passar; no inferno, se tivermos a desdita de nos condenar; ou na eterna felicidade, se tivermos morrido na graça de Deus.
A realidade do Purgatório
Praticamente todos nós teremos que passar pelo Purgatório, para “purgar” as manchas das faltas cometidas durante a vida. Pois, para ir diretamente ao Céu, não podemos ter a menor sombra de pecado.
Mesmo tendo morrido na graça de Deus e recebido com piedade os últimos Sacramentos, dificilmente iremos direto para o Céu, o que só ocorre com grandes santos. Assim, certamente todos nós teremos que passar por um período mais ou menos longo nesse lugar de expiação, de acordo com os nossos méritos e deméritos, ajudados pelas orações da Santa Igreja, de parentes e amigos. Pois as benditas almas do Purgatório não podem mais merecer por si próprias, mas dependem inteiramente da ajuda que lhes vem da Terra.
Segundo os ensinamentos da Santa Madre Igreja, o Purgatório é o lugar ou condição de punição temporal para aqueles que, tendo partido desta vida na graça de Deus, entretanto não estão inteiramente livres das faltas veniais, ou não satisfizeram totalmente por elas antes da morte.
Santa Missa, meio mais eficaz para socorrer nossos falecidos
Por isso, um dos meios mais eficazes para socorrermos os nossos falecidos é mandar celebrar Missas na intenção de suas almas: de Sétimo Dia, de Mês, de Ano, atitude tão comum até pouco tempo atrás, mas que está desaparecendo devido à paganização crescente do mundo.
Pelo que declarou o Concílio de Florença: “Se os verdadeiros penitentes falecerem no amor de Deus, antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência o que cometeram ou deixaram de fazer, suas almas são purificadas depois da morte com as penas do purgatório; e para que recebam um alívio destas penas ajudam-nos os sufrágios dos fiéis viventes, como o sacrifício da missa, as orações, as esmolas e as outras práticas de piedade que os fiéis costumam oferecer pelos outros fiéis, segundo as disposições da Igreja” [Denzinger 1304].
Missas Gregorianas
Nesse sentido, há uma antiga tradição, a das chamadas Missas Gregorianas. Consiste em fazer celebrar 30 Missas em outros tantos dias consecutivos sem interrupção, às quais está anexa a indulgência gregoriana.
A origem das Missas gregorianas procede de um fato acontecido no mosteiro de Santo André, em Roma, do qual o Papa São Gregório Magno [quadro ao lado] fora abade.
Esse fato é narrado pelo própro Santo, em seu Livro Quarto dos Diálogos.
Um dos monges, chamado Justo, havia ajuntado três moedas de ouro e as guardara cuidadosamente escondidas. Mas revelou sua falta quando se viu no leito de morte. O santo, a essa altura já Papa, para puni-lo de maneira exemplar — já que o monge havia cometido uma infração muito grave contra a regra, que prescrevia o espírito de pobreza — proibiu a comunidade de visitá-lo e de ir rezar ao redor dele, como ordinariamente se faz. E ordenou que Justo fosse enterrado com as três peças de ouro sob um monte de esterco. Mas, como morrera arrependido, não quis privá-lo das orações da Igreja. Por isso ordenou que lhe oferecessem o Santo Sacrifício da Missa 30 dias consecutivos. Após a trigésima Missa, Justo apareceu a um irmão no convento, declarando que acabara de entrar no Paraíso.
Seguindo o exemplo desse grande Doutor da Igreja, ao longo dos tempos os católicos continuaram com o piedoso costume de mandar celebrar 30 missas por parentes e amigos que partiram para a outra vida. Esse costume de se rezar 30 dias pelos mortos se inspira no Antigo Testamento, quando os israelitas choraram Moisés nas campinas de Moab durante 30 dias, até passar o período de pranto e luto (Deuteronômio 34: 8).
Quando da pseudo-Reforma protestante, e também por ocasião de guerras e perseguições à Igreja — sobretudo durante as diabólicas Revoluções Francesa e comunista —, muitas Ordens religiosas foram expulsas e perseguidas, fazendo com que essa prática tão salutar decaísse. Mas posteriormente, com o restabelecimento da boa ordem, o amor dos católicos pelos seus falecidos fez com que gradualmente se recomeçasse esta santa pratica.
Algumas normas para as Missas Gregorianas
Sobre essa prática existem duas declarações da Sagrada Congregação das Indulgências, de março de 1884 e agosto de 1888. Essa Sagrada Congregação declarou, entre outras coisas, que: “A oferta de Missas Gregorianas tem uma eficácia especial para obter de Deus a libertação rápida de uma alma sofredora, e que esta é uma crença piedosa e razoável dos fiéis.”
Segundo a Lei da Igreja, as Missas Gregorianas só podem ser oferecidas por um falecido, e não por vivos; nao podem ser oferecidas por varios falecidos ao mesmo tempo, nem pelas almas do Purgatório em geral. Por isso, tem-se que informar o nome do falecido pelo qual se está rezando. Entretanto, é permitido e até salutar, encomendar-se mais de uma Missa Gregoriana pelo mesmo falecido.
De acordo com as normas anteriores a 1967, as Missas Gregorianas deveriam ser ditas por 30 dias sem interrupção. Se o sacerdote que a celebrava quebrasse por qualquer motivo a sequência, deveria recomeçar a série desde o início.
Na reformulação da disciplina sobre as indulgencias sob Paulo VI, uma declaração da Sagrada Congregação do Culto Divino em 24 de fevereiro de 1967 mitigou algumas dessas restrições. A Missa Gregoriana continua sendo uma série de 30 celebrações consecutivas, mas não é obrigatório que o mesmo sacerdote celebre todas, mas parte delas, contanto que outro sacerdote celebre as restantes. Por isso elas não precisam ser todas na mesma igreja ou no mesmo altar. Entretanto, segundo as novas normas, se o sacerdote a cargo das Missas não encontrar um substituto e a série for interrompida por causa razoável, dispõe a Igreja que os frutos do sufrágio sejam mantidos, continuando o sacedote obrigado a completar as 30 missas o mais rapidamente possível. Mas não mais precisa recomeçá-las desde o inicio, mas do ponto em que as tenha interrompido.
Prever Missas Gregorianas para depois de nossa morte
Como as Missas Gregorianas não podem ser rezadas pelos vivos, aconselham-se os fiéis a providenciar desde já que as mesmas sejam celebradas para si, o mais rapidamente possível, após a morte.
Nos tempos antigos, quando ainda havia muita fé, as pessoas costumavam deixar uma importância destinada à celebração de missas por suas almas, durante um longo periodo. Alguns soberanos, como o católico Felipe II, Rei da Espanha, dispuseram que fossem celebradas cerca de 500 missas por sua alma ao longo dos anos, e houve quem dispusesse que elas fossem celebradas in perpetuum.
No entanto, os sacerdotes responsáveis por uma paróquia dificilmente podem aceitar a celebração de Missas Gregorianas, pela responsabilidade que elas importam. Normalmente, é mais facil encomendá-las a conventos, mosteiros, ou em residências de sacerdotes jubilados, cujas obrigações pastorais são menores e assim podem celebrar as 30 missas sem problema. E caso adoeçam, têm mais facilidade de encontrar um confrade que os substitua. Por isso há na Internet ofertas de celebração dessas Missas por Ordens religiosas ou de missionários, que além de disporem de pessoal capacitado, as distribuem entre seus membros dispersos pelo mundo.
Devemos agradecer a Deus por esse recurso que nos oferece a Santa Igreja para socorrer seus filhos que gemem no Purgatorio. É uma verdadeira dadiva do Céu, que outras religiões não têm.
Portanto, quando perdermos um dos nossos entes queridos, tão logo seja possível, encomendemos uma série de Missas Gregorianas por ele. Esse é o maior benefício que podemos fazer à sua alma, que possivelmente estará sofrendo no Purgatório.
Estejamos certos de que eles nos serão eternamente gratos e intercederão por nós assim que chegarem à felicidade e à glória sem fim no Paraíso celeste.