Nestes tempos de derrota petista — cuja ideologia de luta de raças nunca se atreveu a nos mostrar a verdadeira face do negro no Brasil —, vale muito a pena a leitura do livro Histórias da gente brasileira, da historiadora e escritora Mary Del Priore.
Transcrevo alguns trechos extraídos do mesmo por Marcus Lopes para a “BBC News Brasil”, em 15 de julho de 20181[1]:
“Um próspero fazendeiro e banqueiro do Brasil nos tempos do Império, dono de imensas fazendas de café, centenas de escravos, empresas, palácios, estradas de ferro, usina hidrelétrica e, para completar a cereja do bolo, de um título de barão concedido pela própria Princesa Isabel.
“A biografia do empresário mineiro Francisco Paulo de Almeida, o Barão de Guaraciaba [foto acima], não seria muito diferente de outros nobres da época não fosse um detalhe importante: ele era negro em um país de escravos.
“No ano em que a Lei Áurea completa 130 anos, vale a pena conhecer a trajetória do primeiro e mais bem-sucedido barão negro do Império, um personagem praticamente desconhecido na História do Brasil.”
Esses parágrafos falam por si. Como lucrariam as cartilhas petistas que orientam os cursos de História no ensino médio e universitário se divulgassem fatos assim da nossa verdadeira história da raça negra!
Ainda é tempo para remediar, publicando em livros didáticos a verdadeira História do Brasil.
Mary Del Priore conclui muito acertadamente, dizendo que “é preciso empenho e coragem dos historiadores para estudar esses símbolos bem-sucedidos de mestiçagem”, que resgatam um pouco da história do Barão de Guaraciaba.
A dissertação de mestrado de Carlos Alberto Dias Ferreira[2], defendida em setembro de 2009: “Francisco Paulo de Almeida — Barão de Guaraciaba: reflexões biográficas e contexto”, complementa o livro de Mary Del Priore e nos mostra o primeiro barão negro do Brasil “no âmbito de determinados grupos com pertencimentos políticos, econômicos, filantrópicos”.
Ainda segundo Dias Ferreira, na dissertação de mestrado de 2009: entre viscondes e barões, encontramos o primeiro barão negro entre os fundadores do Banco Crédito Real de Minas Gerais em janeiro de 1889, “iniciativa dos aristocratas (brancos e negros) e fazendeiros, com ajuda das classes de produção”.
Participou, como sócio fundador, do Banco Territorial e Mercantil de Minas Gerais [1887].
Passamos a transcrever outros trechos da dissertação de mestrado:
Conforme atesta o “professor Antonio Lopes Sá, o grupo de fundadores do Banco Territorial e Mercantil de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real de Minas Gerais foram fundadores e responsáveis pela criação da Companhia Mineira de Eletricidade, primeira Usina Hidrelétrica da América do Sul [1889]; da Academia de Comércio [1891]; “participou da fundação da Companhia de Juta, em 1894; da Cooperativa Construtora de Minas Gerais; da Sociedade Promotora da Emigração em Minas Gerais; Diário de Minas [1888] e da Companhia Agrícola Industrial Mineira [1890]”.
De Provedor da Santa Casa em Valença às viagens a Paris
O primeiro barão negro do Brasil possuía fazendas em Minas e no Rio de Janeiro.
“Em Valença (RJ) aprestou relevantes serviços à Santa Casa de Misericórdia, como benemérito, tendo sido seu Provedor no biênio 1882-1884”.
Como ressalta Marcus Lopes para a BBC News Brasil (15-7-18), o “título (Barão de Guaraciaba) foi concedido (pela Princesa Isabel) por ‘merecimento e dignidade’, em especial pela dedicação de Guaraciaba à Santa Casa de Valença, onde foi provedor”.
Prossegue o Prof. Carlos Alberto Dias Ferreira em sua defesa de tese (2009):
“Durante os últimos anos/dias de sua vida viajava frequentemente à Europa, permanecendo por longo tempo em Paris; além disso, teve contatos e aproximações com a princesa Isabel e o Conde D’Eu”.
“Procurou dar aos filhos a melhor das educações, inclusive, encaminhando alguns a Paris para estudar. Às filhas fez estudar piano, segundo instrumento de sua devoção. De acordo com seu inventário, deixou para os filhos somente dinheiro, e para as filhas as duas fazendas por ele conservadas”[3].
Esse é o verdadeiro Brasil, no qual os brancos, negros e índios sempre se irmanaram. Por exemplo, na libertação de Pernambuco da dominação holandesa no século XVII.
Interpretando muito bem o princípio de que numa sociedade orgânica (como o segundo Império) a autoridade régia deve recompensar os legítimos valores que se destacam no Povo, soube a Princesa Isabel dar realce a esse expoente da raça negra elevando-o a Barão de Guaraciaba.
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1.https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44792271
2.Carlos Alberto Dias Ferreira, mestre em História Social– Linha Política, pela Universidade Severino Sombra
3.http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338416016_ARQUIVO_1TEXTO.pdf