É tido em geral quase como um dogma que religião e ciência nada têm em comum. Mas, ao mesmo tempo, muitos cientistas querem provar a falsidade da religião por meio da ciência. O que leva a concluir que eles se valem da ciência para disseminar o ateísmo.
Isso é contraditado pelos verdadeiros homens de ciência, que sabem distinguir o que é da ciência e o que é da fé. Exemplificaremos com dois matemáticos famosos, vencedores da Medalha Fields, o maior prêmio concedido a cientistas dessa matéria, conforme artigos publicadas no site Religión en Libertad.
Matemático Enrico Bombieri
Quem é Enrico Bombieri [foto], o único italiano a ganhar a medalha Fields? “Dotado de um talento preciosíssimo, ele publicou seu primeiro artigo científico aos 17 anos, em 1957. Laureado pela Universidade de Estudos, de Milão, com uma tese da qual era relator Giovanni Ricci, aperfeiçoou a própria preparação junto ao Trinity College de Cambridge […], ensinou na Universidade de Cagliari e na de Pisa, antes de emigrar para os Estados Unidos, onde vive. Atualmente é professor emérito da School of Mathematics junto ao Instituto de Estudos Avançados, em Princeton, New Jersey”.(1)
Em entrevista a Francesco Agnoli, publicada por Religión em Libertad, falando da relação entre ciência e metafísica, Bombieri afirma: “Para mim, a matemática é um modelo de verdade — embora um modelo bastante restringido por normas claras de consistência — que nos diz que uma Verdade absoluta (com V maiúsculo) deve existir, ainda que não possamos compreendê-la”.
Para ele, “a matemática, que é a ciência da verdade lógica, certamente nos ajuda a entender as coisas, e, portanto, é natural para um matemático que crê em Deus […] reconciliar o conceito da existência de Deus com a verdade que provém da matemática, embora esta seja limitada”.
O ilustre matemático acrescenta que “Pascal e Di Giorgio haviam entendido que Deus não é só um Deus platônico, abstrato, geométrico, aritmético ou simplesmente criador de um universo abandonado a si mesmo. Eles tinham a visão de um Deus que é mais difícil de entender, um Deus que é não só de potência, mas também de amor infinito. Só assim é possível, com humildade, aceitar o conceito cristão da Redenção”.
Comentando um discurso de Bento XVI, em 2006, que faz uma referência à matemática, Bombieri diz:“A consistência matemática do nosso universo é certamente uma razão para ver o Deus criador do universo, como bem expressou o Papa Bento XVI em seu discurso. Sem embargo, há algo mais. A matemática abstrata, enquanto ciência coerente da verdade lógica, reforça em nós a certeza da Verdade absoluta que é Deus. Deus é Criador, Amor infinito e Verdade infinita”. Isso na boca de um famoso cientista desfaz muitos mitos a respeito da distância entre a fé e a religião.
O articulista termina a entrevista com esta bem formulada conclusão: “A profundidade das reflexões do vencedor italiano da medalha Fields, que se pode apreciar nesta entrevista, é certamente o motivo pelo qual o frívolo mundo mediático prefere infelizmente dar espaço só a pseudo-intelectuais armados com textos superficiais e provocações banais. Esta entrevista foi uma muito apreciada exceção” a essa regra.(2)
Matemático Laurent Lafforgue
Outro matemático famoso, o professor francês Laurent Lafforgue [foto], de apenas 48 anos, também ganhador do prêmio Fields, já é uma celebridade no campo da ciência.
Falando da crise de identidade do mundo atual, ele explica que, “hoje, no âmbito jurídico, por exemplo, concebe-se o direito como uma construção formal e arbitrária. Abandona-se deliberadamente assim a questão da Verdade. Se se faz isso, é porque se perdeu ‘o sentido da verdade’. Perdemo-lo em grande parte no mundo moderno, porque buscamos a Verdade com o critério da objetividade perfeita. Desejaríamos uma máquina que encontrasse a verdade de maneira automática em nosso lugar. Como já não somos sensíveis à verdade, necessitamos de alguém que o seja por nós. Mas não existe um mecanismo para tal: as instituições, um regime político, uma constituição… Hoje vemos as conseqüências da perda da sensibilidade à verdade e, ao mesmo tempo, não temos receitas para voltar a encontrar essa sensibilidade. Nós, como cristãos, procuramos ser humildes sobre esse tema”. Isso no sentido de que“o cristianismo diz que, face à verdade, somos muito frágeis. Não só nosso sentido moral está ferido, pois somos pecadores, mas também a nossa inteligência está ferida. E, portanto, estamos expostos a todo momento ao erro. E para nos protegermos dele, esperando percorrer o caminho da verdade, não temos melhor recurso do que a oração, do que nos dirigirmos a Deus e rezarmos humildemente para que nos ilumine; porque temos experiência de erros monumentais, às vezes de maneira individual, outras de maneira coletiva. Assistimos hoje a coisas aberrantes […]. Nossa inteligência é tão débil como nossa vontade. Necessitamos nos dirigir a Deus e pedir-Lhe que nos ilumine. Isso não dispensa utilizar o rigor da razão, não nos dispensa de ser inteligentes”.
O entrevistador pergunta: “Se pudesse dizer sinteticamente se é possível um novo início, que diria?” Ao que responde o Prof. Laurent: “Só o Espírito Santo pode gerar um novo início. Só com as forças humanas é impossível. Na França, no ano passado, vimos o governo propor uma lei para desnaturar o matrimônio [reconhecer o casamento civil entre homossexuais], mas, ante a surpresa geral, produziu-se uma oposição muito forte. Milhões de pessoas se manifestaram nas ruas contra essa lei”. E conclui: “Para renovar a Europa [diríamos nós, o mundo], é preciso começar assim. É inimaginável que os políticos se convertam de repente. E não serão as instituições que os converterão. As coisas correm no nível das pessoas. […] Os grandes movimentos históricos nascem de fatos pequenos”.(3)
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Notas:
- https://it.wikipedia.org/wiki/Enrico_Bombieri
- http://www.religionenlibertad.com/la-matematica-refuerza-la-certeza-de-la-verdad-absoluta-que-es-42238.htm
- http://www.religionenlibertad.com/laurent-lafforgue-matematico-de-relieve-europeo-la-verdad-es-que-sin. http://tracce.it/default.asp?id=266&id2=346&id_n=41523&ricerca=Laurent+Lafforgue