Quão ricos e tocantes se nos afiguram os ensinamentos do Nosso divino Redentor em forma de modelares parábolas. Bons tempos em que todos os brasileiros as conheciam das narrações feitas dos púlpitos das igrejas. Era a parábola do bom samaritano, a do semeador, a do joio e do trigo, a do grão de mostarda, a da rede lançada ao mar…
Em todas elas, com bonita narrativa sobre alguma ocorrência do dia a dia ao alcance de seus discípulos, o Homem-Deus transmitia seus ensinamentos sobre o Reino dos Céus. Referimo-nos à do grão de mostarda, considerado no Evangelho como a menor das sementes, mas do qual Jesus Cristo extraiu grande lição moral. Assim, a Boa Nova com suas parábolas desvendou a verdade que ganhou o mundo e dominou toda a Terra.
Ao aludir à beleza da narração, referi-me à do trigo e do joio, encontrada no capítulo 13 do livro de São Mateus. O inimigo lançou a semente má, do joio, sobre a semeadura do trigo, e eles cresceram juntos, indistintamente, causando confusão ao agricultor. Sabiamente, o dono da plantação instruiu seus serviçais a esperarem até a colheita para fazer a separação, atar em feixes o joio, levá-lo ao fogo e destinar ao celeiro a parte boa, o trigo.
Na vida de todos os dias, quantas vezes nos deparamos com situações semelhantes, em que não sabemos no quê, ou em quem confiar, já que as palavras, as obras e os exemplos induzidos podem facilmente nos levar a fazer escolhas erradas, sobretudo quando influenciados pela má propaganda que tudo relativiza, estabelecendo meias verdades, tornando confusos os critérios de alternativa entre o bem e o mal, entre a justiça e o erro.
Assim, ao longo dos séculos, foram surgindo inúmeros heresiarcas revestidos de pele de cordeiro, com seus engodos maquiavélicos, extraviando do rebanho santo um número incontável de almas, ora disfarçando a falsa doutrina que pregavam, ora desviando as consciências do seu reto pensar e agir, ora levando multidões ao descaminho com ensinamentos diferentes daqueles que sempre ensinou a Santa Igreja. Por isso mesmo, uma grande denúncia foi registrada em documento pontifício, a Encíclica Pascendi, do Papa São Pio X.
Em sua denúncia, o santo Pontífice alertava o mundo católico para a atuação do inimigo oculto no próprio seio da Santa Igreja. Clérigos e leigos que pregavam, sem embasamento sério, uma reforma que procurava desfazer de tudo o que havia de mais santo, não poupando sequer a pessoa divina do Fundador, a Ele mesmo se referindo como um simples homem. Assim, a perniciosa trama do progressismo, que naquele tempo se denominava modernismo, foi classificada pelo Papa como a pior de todas as heresias.
Já 1846, em La Salette, Nossa Senhora, entre lágrimas, revelara a duas crianças que essa seria a pior crise de todos os tempos. Mais recentemente, esses revolucionários conspiradores, através de movimentos culturais, infiltraram-se nos meios universitários e intelectuais, a fim de colocar em prática os ensinamentos de Antonio Gramsci, o comunista finório que visou conquistar as mentes.
É doloroso afirmar, mas quem em nossos dias não viu e não vê que nos meios católicos a cizânia penetrou de modo surpreendente, fazendo uma devastação dos valores perenes do Santo Evangelho em favor do comunismo internacional? Já não é de hoje que sistematicamente a infiltração do esquerdismo nos meios católicos vem ocupando lugar de destaque na direção dos rumos da Igreja.
Ela, que há dois milênios combatia primorosamente as heresias utilizando aquilo que lhe é próprio, ou seja, a pregação e os ensinamentos emanados da apologética de grandes santos teólogos, cuja pena nos legou valiosíssimos tratados teológicos de grande profundidade e perfeita clareza de raciocínio. Santo Agostinho, figura de excelência entre esses luminares, pregava o uso da razão, da argumentação fundamentada na boa doutrina.
Entretanto, é difícil explicar a ação do mistério da iniquidade que hoje assola a sociedade como um todo. Chega-se a um ponto em que o pecado alcança grande vulto e assume uma perversidade sem medidas, visando atingir todos os homens sem exceção, a fim de corrompê-los em todas as manifestações de sua personalidade, tanto individuais quanto sociais, políticas, e mesmo religiosas.
Com efeito, vivemos um trágico momento, amargamos uma situação da mais completa escuridão intelectual e espiritual, resultante de um processo iniciado há séculos, quando se tramou a marcha paulatina do desfazimento da sociedade moldada nos ensinamentos do Evangelho, cujos vestígios hoje apenas se vislumbram.
Essa conspiração do mal exige reação enérgica e eficaz das forças vivas da sociedade que ainda teimam em subsistir, denunciando em todas as ocasiões oportunas os planos dos inimigos da fé católica. Invoquemos, pois, Nossa Senhora Aparecida, para que venha em nosso auxílio com a coorte de Anjos de quem é igualmente Rainha.
Façamos a nossa parte, que na verdade não passará muito do tamanho de um grão de mostarda, mas que posto na terra e regado pela Mãe de Deus poderá se transformar num carvalho.
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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).