Convite à reflexão: a astúcia da Serpente nos Santos Evangelhos (III)

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Os Evangelhos tratam apenas da mansidão? Recomendam também a astúcia da Serpente?

Continuamos hoje nossos Posts sobre a misericórdia e justiça nos Santos Evangelhos transcrevendo trechos do livro Em Defesa da Ação Católica de autoria do Prof. Plinio, prefaciada pelo núncio apostólico D. Aloisi Masella (1943).

Mansidão e astúcia se completam

A “astúcia da serpente”

“Comecemos pela virtude da argúcia, ou, em outros termos pela virtude evangélica da astúcia serpentina.
São inúmeros os tópicos em que Nosso Senhor recomenda insistentemente a prudência, inculcando assim aos fiéis que não sejam de uma candura cega e perigosa, mas façam coexistir sua cordura com um amor vivaz e diligente, dos dons de Deus; tão vivaz e tão diligente que o fiel possa discernir, por entre mil falsas roupagens, os inimigos que os querem roubar. Vejamos um texto.

Toda árvore que não dá bom fruto …

“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, e por dentro são lobos rapaces. Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinhos, ou figos dos abrolhos? Assim toda a árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos. Não pode uma árvore boa dar maus frutos nem uma árvore má dar bons frutos.

“Toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada no fogo. Vós os conheceis pois pelos seus frutos” (S. Mateus, VII, 15 a 20). Este texto é um pequeno tratado de argúcia. Começa por afirmar que teremos diante de nós não só adversários de viseira erguida, mas falsos amigos, e que portanto nossos olhos se devem voltar vigilantes não só contra os lobos que de nós se aproximam com a pele à mostra, mas ainda contra as ovelhas, a fim de ver se em alguma não descobriremos sob a lã alva o pêlo ruivo e mal disfarçado de algum lobo astuto. Quer isto dizer em outros termos que o católico deve ter um espírito ágil e penetrante, sempre de atalaia contra as aparências, que só entrega sua confiança a quem mostrar, depois de exame meticuloso e arguto, que é ovelha autêntica.

Mas como discernir a falsa ovelha da verdadeira? “Pelos frutos se conhecerão os falsos profetas”. Nosso Senhor afirma com isto que devemos ter o hábito de analisar atentamente as doutrinas e ações do próximo, a fim de conhecermos estes frutos segundo seu verdadeiro valor e de nos premunirmos contra eles quando maus.
Para todos os fiéis esta obrigação é importante, pois que a repulsa às falsas doutrinas e às seduções dos amigos que nos arrastam ao mal ou que nos retêm na mediocridade é um dever. Mas para os dirigentes de Ação Católica, aos quais incumbe, a título muito mais grave, vigiar por si e vigiar por outrem, e impedir, por sua argúcia e vigilância, que permaneçam entre os fiéis, ou subam a cargos de grande responsabilidade homens eventualmente filiados a doutrinas ou seitas hostis à Igreja, este dever é muito maior.

‘Ai dos dirigentes em que um sentido errado de candura faça amortecer o exercício contínuo da vigilância em torno de si! Perderão com sua desídia maior número de almas do que o fazem muitos adversários declarados do Catolicismo. Incumbidos de, sob a direção da Hierarquia, fazer multiplicar os talentos, que são as almas existentes nas fileiras da Ação Católica, não se limitariam eles entretanto a enterrar o tesouro, mas permitiriam por sua “boa fé” que ele caísse nas mãos dos ladrões. Se Nosso Senhor foi tão severo para com o servo que não fez render o talento, que faria Ele a quem estivesse dormindo enquanto entrava o ladrão?

“Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos.

“Mas passemos a outro texto. – “Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sede pois astutos como as serpentes, e simples como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens, porque vos farão comparecer nos seus tribunais, e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis levados por minha causa à presença dos governadores e dos reis, como testemunhos diante deles e diante dos gentios”. (S. Mateus, VII, 16 a 18). Em geral, tem-se a impressão de que este texto é uma advertência exclusivamente aplicável aos tempos de perseguição religiosa declarada, já que ele só se refere à citação perante tribunais, governadores e reis, e à flagelação em sinagogas. À vista do
que ocorre no mundo, seria o caso de perguntar se há um só país, hoje em dia, em que se possa ter a certeza de que, de um momento para outro, não se estará em tal caso.

“De qualquer maneira, também seria errado supor-se que Nosso Senhor só recomenda tão grande prudência diante de perigos ostensivamente graves, e que de modo habitual pode um dirigente de Ação Católica renunciar comodamente à astúcia da serpente, e cultivar apenas a candura da pomba. Com efeito, sempre que está em jogo a salvação de uma alma, está em jogo um valor infinito porque pela salvação de cada alma foi derramado o sangue de Jesus Cristo. Uma alma é um tesouro maior do que o sol e a sua perda é um mal muito mais grave do que as dores físicas ou morais que possamos sofrer atados à coluna da flagelação ou no banco dos réus.

“Assim, tem o dirigente da Ação Católica obrigação absoluta de ter olhos atentos e penetrantes como os da serpente, no discernir todas as possíveis tentativas de infiltração nas fileiras da Ação Católica, bem como qualquer risco a que a salvação das almas possa estar exposta no setor a ele confiado.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/EmDefesadaA%C3%A7%C3%A3oCat%C3%B3lica_R_04_2011.pdf

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