Convite à reflexão: devemos ocultar ao pecador seu verdadeiro estado?

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Prosseguimos a transcrição do capítulo A CONFIRMAÇÃO PELO NOVO TESTAMENTO do livro escrito pelo Prof. Plinio (1943) Em Defesa da Ação Católica. Lembramos, essa obra foi prefaciada pele então núncio apostólico no Brasil, D. Aloisi Masella. Os Santos Evangelhos recomendam misericórdia e justiça. Não se pode adotar o silêncio e ocultar sempre ao pecador seu estado de transgressão da Lei de Deus.

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Nosso Senhor previu bem que este processo [de denunciar o pecado] irritaria sempre certos inimigos contra a
Igreja: “Então o irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai o filho; e os filhos levantar-se-ão contra os pais, e lhes darão a morte. E sereis odiados de todos por causa do meu nome. Mas o que perseverar até o fim (da sua vida), esse será salvo” (S. Marcos, XIII, 12 a 13).

Mas a mais alta forma de caridade consiste precisamente em fazer o bem, por meio de conselhos claros e se necessário for heroicamente agudos, àqueles mesmos que talvez nos paguem este bem arrastando-nos à morte.
Por isto, disse Nosso Senhor aos que mais tarde O matariam, mas então O aplaudiam: “Em verdade, em verdade vos digo: vós buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães, e ficastes saciados” (S. João, VI, 26).

É um erro ocultar sistematicamente ao pecador seu verdadeiro estado

[Notemos que o erro está em ocultar sistematicamente ao pecador o seu estado grave]

S. João, por exemplo, não hesitou em dizer (1, III, 8): – “Aquele que comete pecado é filho do demônio”. – E por isto foi o Apóstolo do amor muito categórico escrevendo: “Todo o que se aparta e não permanece na doutrina de Cristo, não tem (união com) Deus; o que permanece na doutrina, este tem (união intima com) o Padre e o Filho. Se alguém vem a vós, e não trás esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis. Porque quem o saúda, participa (em certo modo) das suas obras más” (2, S. João, 9 a 11).

E em outra ocasião afirmando: “Eu talvez tivera escrito à Igreja, porém esse Diótrefes, que gosta de ter a primazia entre eles, não nos recebe; por isso, se eu lá for, recordar-lhe-ei as obras que ele faz, palrando com palavras más contra nós; e como se isto não lhe bastasse, não só recusa hospedagem aos irmãos, mas proíbe (recebê-los) àqueles que os recebem, e lança-os fora da Igreja” (3, S. João, 9 a 10). Numa atitude viril contra os inimigos da Igreja e plenamente conforme ao Novo Testamento: “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes suportar os maus, e experimentaste os que dizem ser apóstolos, e não o são, e os achaste mentirosos” Apoc., II, 2).
E por isto também se lê no Apocalipse: “Isto, porém, tens (de bom), que aborreces as ações dos Nicolaitas, que eu também aborreço” (Idem, II, 6).

A “tática do terreno comum”

Em suma, a chamada “tática do terreno comum”, quando empregada, não a título excepcional, mas de modo frequente e habitual, é a canonização do respeito humano, e, levando o fiel a dissimular sua Fé, é a violação declarada destas palavras do adorável Mestre: “Vós sois o sal da terra. E, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; nem acendem uma lucerna, e a põem debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles vejam as vossas boas obras, e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (S. Mateus, V, 13 a 16).

Relembrando as penas eternas

Quanto ao conselho que se dá em certos círculos da A.C., de ocultar aos estagiários a aspereza da vida espiritual e as lutas interiores daí decorrentes, como é diverso o procedimento do Salvador que, às almas que desejava atrair, dizia esta verdade terrível: “E, desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre violência, e os violentos arrebatam-no” (S. Mat., XI, 12). E declarava também: “Se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor te é entrar na vida (eterna) manco, do que tendo duas mãos, ir para o inferno, para o fogo inextinguível, onde o verme não morre, e o fogo não se apaga. E se o teu pé te escandaliza, corta-o; melhor te é entrar na vida eterna coxo, do que, tendo dois pés, ser lançado no inferno num fogo inextinguível, onde o verme não morre, e o fogo não se apaga. E se o teu olho te escandaliza, lança-o fora; melhor te é entrar no reino de Deus sem um olho, do que tendo dois, ser lançado no fogo do inferno, onde o verme não morre, e o fogo não se apaga” (S. Marc., IX, 42 a 47).

Ver apenas aquilo que nos une?

Mas, poder-se-á objetar, esta linguagem não repele as almas? As almas duras, frias, tíbias, sim. Mas se Nosso Senhor não quis ter entre os seus tais almas, e usou uma linguagem apta a desviar de Si esses elementos inúteis, queremos nós ser mais sábios, mais brandos e mais
compassivos do que o Homem-Deus, e chamar a nós os que Ele não quis? Os apóstolos compreenderam e seguiram o exemplo do Mestre.
Há em nossos dias muitos espíritos tão contentáveis, que consideram católicos, apostólicos, romanos dos mais autênticos e dignos de confiança a quaisquer políticos que falem em Deus em um ou outro discurso [Nos anos 30 – 40 com o progresso do catolicismo no Brasil ficava bem a certos políticos estender a mão à Igreja]. É a tática de só ver o que nos une e não o que nos separa. Quem diria a um desses vagos “deístas”, em certos círculos liberais, estas terríveis palavras de S. Tiago: “Tu crês que há um só Deus; fazes bem; também os demônios o crêem e temem” (Tg. 2, 19)? E quem diria a muito sibarita de hoje: “Eia pois, ó ricos chorai, soltai gritos por causa das misérias que virão sobre vós.

Condenando os erros nos pecadores

As vossas riquezas apodreceram, e os vossos vestidos foram comidos da traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como um fogo. Juntastes para vós um tesouro de ira para os últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores, que ceifaram os vosso campos, o qual foi defraudado por vós, clama contra vós, e o clamor deles subiu até os ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vivestes em delícias sobre a terra, e em luxúrias cevastes os vossos corações, como para o dia da inundação. Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu” (S. Tg. 5, 1-6).”

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Nossa Senhora Aparecida nos ajude a defender a integridade da sã doutrina da Igreja: a caridade e a justiça; alertar o pecado sobre o seu estado de ofensa a Deus, denunciar os erros de nossa época.

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