A TFP norte-americana publicou recentemente o livro RETORNO À ORDEM: de uma economia frenética a uma sociedade orgânica – onde estivemos, como chegamos aqui e para onde devemos ir, escrito por John Horvat II, um de seus diretores. Sua tese principal: o motor que coloca o mundo moderno em movimento é a intemperança.
Porém, não se trata de uma intemperança qualquer, mas de uma intemperança frenética que faz com que o homem moderno não possa mais ordenar sua vida, seu agir e sua volição segundo uma hierarquia de valores e princípios eternos, deixando-se, ao contrário, levar como pena ao vento pelo espírito da época, pelas correntes da moda, pelos anúncios nos meios de comunicação social e pela propaganda política.
Na atualidade, o homem deixa-se conduzir — segundo a conhecida Mensagem de Natal de 1944 do Papa Pio XII — simplesmente por não ter mais personalidade nem substância humana para conformar sua vida a partir de convicções próprias. Nesse contexto, tem suma e deletéria importância a cultura popular moderna, ou seja, a atual cultura de massa. Ela é a expressão cultural de uma sociedade que se deixa mover pela intemperança. Daí o tema deste artigo: A cultura da intemperança: a Pop culture.
Retrospecto histórico: a cultura tradicional
A cultura popular moderna é a cultura difundida industrialmente, e possui algumas raízes na cultura popular tradicional.
A cultura popular antes da Revolução Industrial fornece alguns elementos que nos ajudam a compreender a cultura popular moderna.
Na Europa, cada região — praticamente cada aldeia — tinha sua própria cultura popular, que se expressava na música local, nos trajes regionais, nas receitas de cozinha, nos textos literários, e assim por diante. Era uma cultura que os homens haviam criado para si e cuja intenção era de refletir a sua própria vida. Assim, as canções populares recordavam os belos fatos históricos, os acontecimentos solenes da vida da aldeia e as diversas atividades que ocorriam ao longo do ano.
Até hoje, restos dessa cultura popular podem ser admirados na Europa. A Oktoberfest em Munique é aberta com um grande cortejo, no qual se apresentam as diversas regiões da Baviera com seus trajes típicos, suas canções populares, suas receitas de cozinha etc. Esse desfile é um belo testemunho da riqueza da cultura popular que outrora existiu na Europa. Viajando por essas regiões, podemos encontrar diferenças locais ainda mais acentuadas na arte, na arquitetura, nos dialetos etc.
Admiramos essa cultura por ser ela profundamente autêntica, uma expressão verdadeira da alma dos habitantes do local. Quando os vemos na Alemanha em seus trajes típicos, notamos neles certa alegria proveniente do fato de se sentirem inteiramente interpretados por suas vestes, embora não trabalhem nas profissões que inspiraram esses trajes. Porém, o poder da tradição é tão forte, que eles se acham melhor expressos por essas roupas do que se estivessem portando um terno, em se tratando de homens.
Nos Estados Unidos, na Europa, mas também no Brasil e na América Latina em geral, há numerosas encenações de acontecimentos históricos com significado nacional ou regional. Os que as promovem têm provavelmente saudades de uma época na qual ainda existia um vínculo orgânico entre todas as atividades da vida.
A cultura popular não é complicada. Normalmente não tem um autor determinado e surge espontaneamente através das gerações. Por exemplo, uma canção transmitida de geração em geração. Sofrendo possivelmente modificações ao longo dos tempos, ela passa em determinado momento a pertencer ao tesouro cultural da região, à tradição local, tornando-se um bem cultural promotor da identidade regional.
A contrapartida da cultura popular era a cultura de corte, a cultura dos soberanos e da nobreza. Sendo frequentemente uma sublimação da cultura popular, era refinada e visava a mais alta perfeição, ajudando o desabrochar e o aperfeiçoamento da vida de corte. Na Europa, a cultura foi sempre um instrumento importante da política. Quando um soberano — um imperador, um rei, um duque — organizava esplendorosos concertos em seu palácio, ele o fazia com a intenção de aumentar a sua influência. Luiz XIV alcançou isso de modo excelente com a construção do Palácio de Versalhes.
Alguns exemplos
Para ser exato, gostaria de observar que a cultura não era “produzida” apenas pela nobreza e pelo povo. Ela surgia também no ambiente da burguesia, sobretudo nas ricas cidades alemãs da Liga Hanseática. Disso são dois famosos exemplos Johannes Sebastian Bach, que desenvolveu seu gênio musical especialmente em Leipzig, e Georg Philipp Telemann, em Hamburgo.
Outra forma de cultura popular notavelmente importante é a que serve à piedade popular. No afã de manifestar seus sentimentos religiosos, os homens vêm produzindo desde há muitos séculos pinturas religiosas e oratórios, compondo canções pias e orações, organizando peregrinações. A piedade popular completa-se ainda com as elevadas formas de pintura, música e poesia.
Menciono esses exemplos para deixar bem claro que a cultura popular não é de si censurável, muito pelo contrário. Ela é uma expressão da própria vida orgânica de um povo.
Eis algumas de suas características:
1) Na maioria das vezes não tem um autor determinado, ou, quando tem, este praticamente é sem importância; 2) É radicada na vida do povo; 3) É produzida para si mesmo pelo povo de determinada região, visando a si próprio.
Muitas de suas características vão aparecer na futura cultura pop, ou seja, na versão industrial da cultura popular.
A cultura pop é também extremamente padronizada. Centenas, milhares mesmo de suas canções empregam a mesma estrutura fundamental de acordes e ritmos. O desenrolar da ação de diferentes séries de televisão se faz de acordo com os mesmos formatos. Isso ocorre também, entre outros eventos, em jogos esportivos — para muitos considerados como parte da cultura de massa. Normalmente o autor é conhecido, mas na grande maioria dos casos ele não tem qualquer importância, a não ser um mero papel comercial que exerce na divisão dos lucros. Quem é o autor das canções de Boy-Groups como One Direction de Britney Spears ou de Christina Aguilera? Para o grande público isso não importa. O autor é propriamente o espírito do tempo. Os produtos da cultura popular são, no fundo, documentos, conservas do espírito do tempo, existentes em determinado momento.
Bem entendido, a cultura pop não está radicada na vida do povo e nem é produzida por ele. A região foi substituída por outros critérios de segmentação. Inicialmente tinha importância a integração numa classe. Porém, esse critério foi se tornando inexpressivo. Posteriormente, depois da Segunda Guerra Mundial, a cultura de massa foi segmentada de acordo com as gerações. Cada geração teve sua música, sua série de televisão, seus astros etc. E dentro de cada geração havia várias subculturas: a dos punks, dos metaleiros, dos yuppies, dos schicki-micki, dos rappers etc.
Um marco histórico: a Revolução Industrial
Que importância exerce a Revolução Industrial no surgimento da cultura popular? Em que medida esta é um produto da Revolução Industrial do fim do século XIX?
Grandes massas humanas deixavam então o campo em demanda das cidades, que cresciam rapidamente. Essas pessoas foram desenraizadas de suas tradições e de suas regiões. Não viviam mais em pequenas aldeias, mas em mega-cidades. O ponto de referência social restringia-se frequentemente ao núcleo da própria família. Os homens podiam assim viver anonimamente perdidos na massa.
Essas novas condições de vida favoreceram a decadência dos costumes de modo significativo. O anonimato e a perda de raízes facilitaram a vida imoral. Sem considerar que a educação religiosa se tornou com isso bem mais difícil.
Tal situação exigiu do clero católico uma grande capacidade de adaptação, nem sempre conseguida. Nas aldeias, o pároco conhecia pessoalmente cada um. O indivíduo estava fortemente ligado a um arcabouço familiar e social, o que facilitava os indivíduos a levar uma vida de acordo com os preceitos morais. Evidentemente, tal situação não representava uma garantia quanto à retidão dos costumes, embora fosse um poderoso apoio à moralidade.
Este estilo de vida mudou radicalmente nas novas mega-metrópoles. Surgiram então, inspirados pelo Espírito Santo, os missionários populares, como o Beato Adolf Kolping. Tais missionários desenvolveram estratégias para atingir essas pessoas e afervorá-las na prática da religião. Eles fundaram associações, movimentos populares católicos, organizações de lazer, missões populares, catequeses operárias etc.
Os maiores perigos para as almas eram então o comunismo e o socialismo, que apresentavam falsas soluções para os problemas existenciais surgidos em função da Revolução Industrial. As pessoas sem raízes, que se sentiam frequentemente isoladas e desprotegidas, eram tentadas a procurar apoio e consolo nas novas ideias políticas.
Contudo, os perigos provinham não apenas da política, mas também da própria cultura popular.
O indivíduo procurava uma compensação para a vida operosa que levava e a encontrava nos prazeres oferecidos em massa nas grandes cidades: pasquins, cinemas, salões de música, jogos esportivos, feiras de diversão etc. Neles se oferecia ao trabalhador sem raízes um mundo excitante e barulhento, cheio de novidades.
Essa cultura popular desenvolveu no início da Revolução Industrial as características que a distingue até hoje. É uma forma de cultura padronizada que se dirige às grandes massas, mas que não é produzida por ela própria. Expressando-me de outro modo, com a Revolução Industrial surgiu uma indústria da cultura que produzia música, arte, literatura etc. para consumidores. Essa cultura não era mais produzida pelos habitantes de determinada região para si próprios, mas por uma indústria montada especialmente para influenciar um gênero de consumidores.
Uma grande parte dessa cultura foi propagada pelos meios de comunicação de massa. Inicialmente pela imprensa (romances baratos, largamente difundidos por volta dos anos 1900), pelo rádio (música, esporte), pelo cinema e, mais tarde, pela televisão. Em nossos dias, pela internet.
Cultura de massa oposta à cultura tradicional
A cultura de massa tem de fato ainda elementos com os quais o consumidor pode se identificar (do contrário não teria interesse do ponto de vista comercial), porém não reproduz necessariamente as condições de vida, a sensação vital das demais atividades do homem para as quais ele foi criado. A autenticidade das canções populares tradicionais, da arte, da arquitetura, dos trajes etc., não está presente nela. Ela se tornou, no sentido mais verdadeiro do termo, uma cultura de massa, já que, para ela, nem o consumidor nem o autor têm importância em função de sua própria personalidade.
A identificação com o produto da cultura — ou seja, com o astro — dá-se sobretudo por um sentimento vital difuso. Não raras vezes a cultura pop deve satisfazer anelos desconhecidos e oferecer uma fuga do quotidiano. Até mesmo aspectos sociológicos como, por exemplo, pertencer a uma classe, deixam rapidamente de ser importantes: desse modo a cultura de massa preparou o caminho para a democracia igualitária. Como já foi mencionado anteriormente, para ter sucesso a cultura pop deve compreender o “espírito do tempo”, existente no momento. Portanto, ela é passageira por sua própria natureza.
Os meios de difusão — rádio, cinema, televisão, internet etc. — trouxeram consigo o fato de que a disputa para atrair a atenção se tornou brutal. Quem desejar ter sucesso comercial precisa estar em condições de amarrar o consumidor de modo rápido, prático e intuitivo. Este fato potencializou o que já estava no bojo da cultura de massa desde o início: o incitamento aos vícios. O erotismo, a violência, a correria já eram no início do surgimento da cultura de massa partes essenciais de seu produto.
Essa realidade se torna clara se observarmos a nossa própria época. Os meios de comunicação mais importantes atualmente são as redes sociais, como o Facebook, o Twitter etc. De fato, o Facebook está concebido de tal modo, que o indivíduo entra numa luta perpétua para angariar atenção, não conseguindo desvencilhar-se inteiramente dessa situação se não quiser desaparecer lentamente do contato visual dos outros. Essa luta pelo reconhecimento de outrem leva a um exibicionismo crescente — vício que alguns órgãos de imprensa qualificam como “holofote”.
Notamos o mesmo fenômeno na música pop. É grande a lista de cantoras que começaram “inocentemente” na Disney, mas que se apresentaram depois de modo cada vez mais erótico: Britney Spears, Lindsay Lohan e Vanessa Hutgens são alguns exemplos. De modo especialmente radical mostrou-se nos últimos tempos Miley Cyrus.
Naturalmente, sempre houve reações negativas a esse fenômeno, como as recentes e fortes críticas contra Miley Cyrus por ocasião da MTV Video Music Awards. Contudo, essas são ondas dentro de um processo. As duas principais regras da indústria de cultura de massa são: a) quem não atrair de modo permanente e cada vez mais forte a atenção sobre si, cai logo no esquecimento; b) num mundo crescentemente sexualizado, onde a pornografia é denominada por muitos como a cultura da “precariedade”, só se alcança grande notoriedade apresentando-se de modo imoral.
Cultura de massa: entretenimento e “modelo”
Para compreender a influência da cultura popular sobre as mentalidades, e em que medida ela foi e é empregada como meio de propaganda, importa saber que ela tem duas funções a exercer. De um lado ela deve entreter. Este é, à primeira vista, o argumento principal para o seu consumo. Desde cedo as pessoas gastavam grandes somas de dinheiro com o entretenimento em cidades fortemente inchadas pela industrialização, ou seja, a indústria do entretenimento atingiu logo no início um notável êxito comercial. A cultura popular estabeleceu-se como um programa contrastante com a vida de trabalho.
Contudo, o mero entretenimento não basta para garantir o êxito. A cultura popular deve também transmitir um sentido das coisas. As pessoas precisam encontrar nela explicações para a sua própria vida, precisam sentir-se interpretadas, receber uma espécie de orientação.
Essa é a razão pela qual a cultura de massa não pode viver sem “astros”. O “astro” é a figura de identificação para milhões de homens. Para que isso aconteça, é preciso que o indivíduo reconheça no “astro” um modelo para a sua própria vida.
O papel dos seriados de televisão
No Brasil, como também em outros países, as novelas de televisão têm funcionado como um spray de imoralidade, demolição da família, relações extra-conjugais e, a pretexto de combater a homofobia, incentivo aberto às relações homossexuais. Também no campo das modas propagam o semi-nudismo e mesmo o nudismo.
O elo entre sentido e entretenimento é facilmente reconhecível nos seriados de televisão. Sobretudo nos seriados feitos para jovens, que tratam em cada episódio de um problema quotidiano.
Isso se aplica não apenas à ação em si, mas também aos telespectadores que semana após semana, muitas vezes diariamente, assistem aos episódios de um seriado. Interessa-lhes saber como continua a vida quotidiana dos atores, como eles resolvem seus problemas, como continuam a se desenvolver as múltiplas relações entre eles.
A maior parte dos seriados de TV para jovens apresenta o quotidiano comum de rapazes e moças nos últimos anos da High School. Nos seriados como One Tree Hill, O.C., Califórnia, 90210, Gossip Girl, Gilmore Girls, em certa medida Hannah Montana e em muitas outras, trata-se da passagem da juventude para a idade adulta, do fazer-se valer num ambiente de hostilidade, inveja e rivalidade, da formação da personalidade. Isso torna os seriados de TV muito apreciados porque dão aos jovens uma orientação, de fato falsa, porém aceitável a seus olhos. Até mesmo num seriado comum como Gilmore Girls, que descreve a vida numa pequena cidade americana, são propagados comportamentos anticristãos.
Para que alguém assista um seriado de TV, precisa achá-lo interessante e atraente, necessita identificar-se com os atores e com a sua sorte. Esse interesse é despertado pelos conflitos existentes entre os protagonistas. Os telespectadores querem saber como se resolvem esses conflitos em que os atores estão envolvidos, posto que estabeleceram com eles uma relação emocional.
Que conflitos são esses? Já observamos que praticamente todos os seriados de TV para jovens delineiam o quotidiano de um clique no mouse. Por isso os conflitos que envolvem os atores devem ser do dia-a-dia. Conflitos que em sua maioria continuam ao longo de vários episódios e só são resolvidos no final da série.
Os problemas do “tornar-se adulto”, das figuras da TV, devem refletir análogos problemas dos telespectadores. Por isso estes últimos ficam tão interessados em saber como se resolvem os múltiplos conflitos que surgem de semana a semana. Muitos deles são seus próprios problemas e conflitos. Deste modo os seriados de TV se tornam uma escola da vida. A questão é saber o que se aprende nela…
A casa paterna, a Igreja e a escola são propriamente as instituições às quais compete a educação. Os anos da juventude são uma época em que a pessoa precisa de muita orientação, pois é quando se põem as questões existenciais. Os seriados de televisão vão diretamente de encontro a essa necessidade. Porém, em vez de darem uma orientação cristã, aprovam a vida juvenil como ela concretamente se apresenta, tratando dos problemas e questões dentro do contexto da “cultura” juvenil moderna; não são críticos do sistema — para usar uma palavra moderna — nem colocam em questão o arcabouço de valores subjacente, mas, pelo contrário, o aprovam.
Importância cultural da música pop
Na música pop o nexo entre sentido e entretenimento não é por vezes evidente como nas produções de televisão. A música pop consiste em melodia, ritmo e texto. Não se pode dizer com precisão o grau de influência que esses três elementos exercem sobre a mentalidade. Plinio Corrêa de Oliveira explica em seu livro Revolução e Contra-Revolução: “Como Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se pode influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas” (Cap. X, 2).
Nas novas formas de música popular — rock, hip-hop, blues, heavy metal etc. — é evidente o espírito revolucionário acima descrito. Mais ainda, esses gêneros têm sido especialmente fomentados para conseguir uma denominada “quebra de tabu”. Sobretudo para a Revolução da Sorbonne (de maio de 1968), a música foi um dos instrumentos mais importantes para a difusão do novo estilo de vida revolucionário.
Isso não mudou também em nossos tempos. Por isso Britney Spears e Christina Aguilera foram verdadeiras “embaixadoras” de uma nova forma de feminismo, que se exprimiu igualmente nos trajes. Hoje em dia, Miley Cyrus tenta fazer mais radicalmente o mesmo. Suas últimas apresentações geraram espanto e indignação, mas já seu papel de Hannah Montana não era o de uma adolescente de 13 anos que gosta de cantar, mas o de alguém que se emancipou, ou pelo menos está a caminho de fazê-lo.
Se retrocedermos no tempo, poderemos facilmente constatar como as novas tendências musicais colocavam em questão o modo de encarar a vida da época. Bill Haley and the Comets, Jerry Lee Lewis etc. enviavam sinais à juventude dos anos 50 diametralmente opostos à concepção de vida de então. Com seu ritmo, seus riffs, seus solos de guitarra e sua técnica de canto, tal música conclamava a uma verdadeira revolta contra a ordem vigente e a geração dos pais.
O mesmo podemos dizer do jazz antes da Segunda Guerra Mundial. Eddie Connor descreve em sua autobiografia intitulada Jazz — We called it Music o ambiente dos bares de jazz em 1923: “Numa pequena ante-sala, onde nos cobraram a entrada, o barulho já era bem grande; vinha como um estremecer de músculos, quatro num compasso. Quando abriu-se a porta, os trompetistas King e Louis, um deles ou os dois juntos, sobrepujaram todo o resto. Todo o bar dançava. Mesas, cadeiras, paredes, as pessoas, tudo movia-se no ritmo. […] Podia-se também trazer a própria aguardente, mas no fim o efeito era o mesmo — A banda tocava […] e todos e cada um moviam-se, empurravam e deixavam-se empurrar, batiam o ritmo com os pés no chão e bebericavam gin.”
Hermann Hesse, Prêmio Nobel de Literatura em 1946, descreve no romance Steppenwolf (O lobo das estepes) como um cidadão culto nos anos 20 era arrastado cada vez mais por esta cultura moderna com sua correria e sua embriaguez dos sentidos, comparável a um ritual de iniciação. Jazz, Foxtrott, Onestep conquistaram a mentalidade das pessoas e lhes abriram o modo de ver moderno.
No referido livro, Hermann Hesse descreve como Yearning, a famosa canção foxtrott dos Californiacs, lançada em 1925, foi recebida: “Uma nova dança, um foxtrott, conquistou o mundo naquele inverno com o título ‘Yearning’. Esse ‘Yearning’ era tocado repetidas vezes e cada vez mais apreciado, todo mundo estava embebido e embriagado dele, todos nós zumbíamos sua melodia. Eu dancei sem parar. […] O saxofonista colocou-se de pé sobre a sua cadeira, bateu com força em seu tubo, subiu sobre a mesa e, de pé, soprou a plenas bochechas, deixando-se embalar com seu instrumento, frenético e arrebatado, ao compasso do ‘Yearning’. Eu e minha companheira de dança jogávamos-lhe beijos com as mãos e cantávamos alto com os demais. […] Escapou-me a sensação do tempo, quantas horas ou momentos durou esta sensação de embriaguez.”
Estes dois textos descrevem muito bem em que estado de embriaguez se lançavam as massas dos atordoadores anos 20. As mudanças culturais desses anos foram no fundo precursoras da futura Revolução de 1968. atordoadores anos 20.
Exemplo de filme e música pop de 1961
A Revolução avançou também, só que de modo mais sutil, para arrastar atrás de si aqueles que se sentiam agredidos pelos estilos de música neuróticos tipo jazz ou rock´n roll. Em 1961 tiveram grande repercussão o filme Bonequinha de Luxo e a canção Moon River.
Há diversas razões pelas quais alguém assiste a um filme; muitas vezes o seu conteúdo não desempenha um grande papel. Isso pode ser válido ainda hoje com o filme Bonequinha de Luxo. O charme de Audrey Hepburn, a música de Henry Mancini, a vida mundana de Nova York no fim dos anos 50, os membros da high society, ao mesmo tempo elegantes e dégagés, o American way of life, que então festeja o seu triunfo absoluto, e outros elementos podem ser estímulo suficiente que leve o espectador a ver essa fita, sem que haja grande interesse pelo seu conteúdo.
A ação deste filme pode ser contada resumidamente: Uma moça do campo, Holly Golightly (Audrey Hepburn), aprende a ser elegante, a mover-se na sociedade e leva uma vida frívola numa alta sociedade bastante decadente. O seu novo vizinho é o escritor sem sucesso Paul Varjak (Georges Peppard), com quem trava logo relações de confiança. Ela lhe diz que procura um milionário para se casar, mas de fato não sabe bem o que deseja e vagueia pela vida. Ao se desfazer seu noivado com um milionário brasileiro, ela cai em si e dispõe-se a casar com Paul Varjak, que lhe confessara antes o seu amor.
Mundialmente conhecida é a canção Moon River, cantada numa cena do filme por Holly. A segunda estrofe resume o conteúdo do filme: “Two drifters, off to see the world/Theres such a lot of world to see/We´re after the same rainbows end, waitin´ round the bend/My huckleberry friend, Moon River, and me.” (Numa tradução livre: “Dois vagabundos indo ver o mundo / Há um monte de mundo para ver /Estamos atrás do mesmo término do arco-íris, esperando ao redor da curva / Meu amigo colhedor de arandos, Moon River, e eu).
A primeira estrofe canta: “Moon river, wider than a mile / I’m crossing you in style some day /Oh, dream maker, you heart breaker / Wherever you’re goin’, I’m goin’ your way.” (“Rio da Lua, mais largo que uma milha / cruzar-te-ei com estilo algum dia / Ó, criador de sonhos, triturador do coração / Aonde quer que vás, irei à tua maneira”).
Portanto, Moon River é a metáfora de um sonho de vida. A segunda estrofe fala de dois indivíduos soltos pelo mundo, indicando assim Holly Golightly e o escritor fracassado. Ambos são de fato “náufragos” que não sabem o que fazer da própria vida.
O filme e sua música não se tornaram conhecidos por causa da história de uma moça desorientada, mas porque tocavam numa profunda disposição de alma que então começava a se constituir e que levou à Revolução de 1968. Naqueles anos, o sonho americano de vida, de total despreocupação e confiança, começava a receber as primeiras rachaduras. Começou a tornar-se notório um distanciamento entre as gerações. A sociedade de massas padronizada do pós-guerra passou a ser cada vez mais questionada. Novos grupos de intelectuais — como a chamada beat-generation — propagaram um novo existencialismo que combatia radicalmente a estrutura de valores vigente.
Os jovens que não eram marginalizados sociais, mas que não se sentiam bem na sociedade de seus pais, podiam se identificar inteiramente no subconsciente com alguém como Holly Golightly. Tratava-se de uma moça que vivia na sociedade, mas que estava isolada e sem rumo. Ela era um exemplo claro de que no meio do glamour, da elegância e da riqueza de Nova York havia pessoas que não se identificavam mais com este mundo e dele queriam sair tão logo tivessem forças para tal.
Qual será o futuro? Frenesi crescente ou temperança?
Os meios de comunicação social são essenciais para a difusão da cultura popular. E esta é, por sua vez, o alimento espiritual para uma sociedade que vive num estado de intemperança frenética, como bem descreve John Horvat em seu livro RETORNO À ORDEM.
Quando se fala de cultura de massa, deve-se falar também dos meios de comunicação de massa, pois esses são na verdade poderosos formadores das mentalidades.
Em seu livro As CEBs… das quais muito se fala, pouco se conhece – A TFP as descreve como são, publicado em 1982, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira descreveu bem este fenômeno:
“No momento em que a excelência dos recursos psicológicos e técnicos chegava a uma perfeição que certamente Gutenberg nem sequer imaginava, Marconi deu ao mundo a radiocomunicação. E quando esta se achava em franca via ascensional, apareceu, por sua vez, uma rival que haveria de reduzir fortemente a influência da imprensa e do rádio, monopolizando para si a liderança da propaganda política, ideológica ou econômica. É a televisão. E vai se afirmando agora a era da cibernética. Pode-se supor que esta última encerre o ciclo das grandes invenções a serviço da propaganda. Porém, à vista dos progressos da chamada transpsicologia, ainda nebulosos, insólitos e desconcertantes, é possível que novas formas de comunicação entre os homens conduzam a meios de propaganda ainda insuspeitáveis, ainda mais céleres, mais drásticos. Em uma palavra, mais terríveis. A marcha ascensional que se nota na celeridade dos meios de comunicação se verifica igualmente no tocante à perfeição das comunicações etc.”
Lendo essas palavras, somos involuntariamente levados a pensar em três fenômenos que não são muito antigos: a onipresença da cultura pop, o progresso da indústria eletrônica de entretenimento e a internet.
Hoje em dia não importa para onde nos voltamos: estamos cercados pela cultura pop, sobretudo pela música. Esse fenômeno já é antigo e talvez não nos chame a atenção. Contudo, vale a pena ter presente em que medida este instrumento de influência está sendo empregado. Vivemos formalmente na cultura pop, nós a respiramos como o ar. É praticamente impossível escapar dela. Décadas atrás ninguém teria pensado seriamente que um instrumento de propaganda pudesse ser empregado com tal amplidão.
O mesmo se dá com a eletrônica de entretenimento: MPS, Smartphone, i-Phone etc. tornam possível o consumo ininterrupto de cultura pop.
Sobre a internet, não é necessário nos estendermos, pois ela ampliou desmesuradamente as possibilidades de difusão da cultura pop. Basta pensar em cantores como Justin Bieber, um astro para milhões de pessoas cuja ascensão se deu na internet. Incontáveis cantores e bandas procuram imitá-lo.
Destinada essencialmente a inflamar a intemperança dos homens, a cultura pop tem hoje a seu serviço condições técnicas capazes de atingir continuamente as pessoas e de intervir cada vez mais a fundo em sua psicologia.
Como reagir contra isso? O que fazer para que a ordem cristã seja restabelecida? As respostas a essas perguntas estão dadas, com acerto e com base na temperança, por John Horvat II na segunda parte de seu livro RETORNO À ORDEM.
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RETORNO À ORDEM: de uma economia frenética a uma sociedade orgânica cristã — de onde viemos, como chegamos aqui e para onde devemos ir
O livro com o título em epígrafe, de autoria de John Horvat II,(*) vice-presidente da Sociedade Americana de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), analisa em profundidade um problema candente que afeta não apenas os Estados Unidos, mas praticamente todas as nações do mundo ocidental: a intemperança frenética, inerente ao espírito da economia moderna.
A penetrante e clara análise da sociedade contemporânea que John Horvat nos apresenta em seu livro aponta para o fato de que a economia moderna tornou-se fria, impessoal e desequilibrada. Os antigos elementos de honra e confiança, fundamentos da ordem social anterior à Revolução Industrial e tão essenciais para a boa ordenação da vida humana, desapareceram irremediavelmente com o advento da sociedade de consumo desenfreado. Com a intemperança produzida por um consumismo sem equilíbrio foi posta de lado a influência natural, benéfica e restritiva, dos princípios e das instituições humanas que devem temperar as atividades econômicas.
Return to Order é, pode-se dizer, um toque de trombeta que convida seus leitores a abraçarem novamente os valores e instituições frutos dos princípios perenes de uma ordem social cristã orgânica, tal como explanados na vasta obra intelectual de Plinio Corrêa de Oliveira.
Horvat fornece em seu livro — hoje um best-seller nos Estados Unidos — um quadro vivo e dinâmico dessa organização cristã da sociedade, tão extraordinariamente adaptada à natureza humana. Depois de analisar na primeira parte em que consiste a intemperança frenética na economia, o autor descreve na segunda parte a influência temperante sobre as almas exercida pelas instituições de uma sociedade orgânica, tais como os costumes tradicionais, a família, a comunidade, o Estado cristão e, por fim, a Igreja.
A obra Return to Order aponta para um problema crucial que afeta a civilização moderna — a intemperança frenética —, mas oferece uma solução para a crise atual, indicando-lhe os remédios adequados. Fruto de aproximadamente vinte anos de estudos e pesquisas, essa obra vem à luz num momento em que os Estados Unidos — e o mundo inteiro — se encontram num dilema: voltar às raízes cristãs ou continuar na rota do frenesi destemperado que conduz à ruína?
(*) Estudioso e pesquisador, conferencista internacional, John Horvat II vem se dedicando há mais de duas décadas à análise das causas do declínio socioeconômico dos EUA e à procura de soluções para a crise de seu país. Sua obra, publicada no ano passado, é fruto de sua dedicação e de seu empenho na restauração da ordem social cristã. Return to Order pode ser encomendado (versão original em inglês) através do site www.returntoorder.org , onde há também um foro de discussão.
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Tradução do alemão: Renato Murta de Vasconcelos.
Bibliografia:
Plinio Corrêa de Oliveira, Gustavo Antonio Solimeo, Luiz Sérgio Solimeo: As CEBs… das quais muito se fala, pouco se conhece – A TFP as descreve como são, São Paulo, 1982.
Plinio Corrêa de Oliveira: Revolution und Gegenrevolution, Frankfurt am Main, 2013.
Mathias von Gersdorff: Sexualisierung der Kindheit. Wie Kinder durch Politik, Pop-Kultur, Werbung und Medien manipuliert werden. Frankfurt am Main, 2011
John Horvat II: Return to Order – From a Frenzied Economy to an Organic Christian Society, Hanover, Pennsylvania, USA, 2013.
Hermann Hesse: Der Steppenwolf, Berlin, 1927.
Michael Jacobs: All that Jazz. Die Geschichte einer Musik, Stuttgart, 1996.
Kaspar Maase: Grenzenloses Vergnügen. Der Aufstieg der Massenkultur 1850-1970, Frankfurt am Main, 2007.
Lothar Mikos, Dagmar Hoffmann, Rainer Winter (Hrsg.): Mediennutzung, Identität und Identifikationen. Die Sozialisierungsrelevanz der Medien in Selbstfindungsprozess von Jugendlichen. Weinheim und München, 2009.
Siegfried Schmidt-Joos, Wolf Kampmann: Pop-Lexikon. Reinbeck bei Hamburg, 2002.
Wolfgang Ullrich und Sabine Schirdewahn (Hrsg.): Stars. Annäherung an ein Phänomen. Frankfurt am Main, 2002.
Peter Vorderer: Fernsehen als „Beziehungskiste“. Opladen, 1996.
Como o post em si mesmo resume tudo, minha concepção hoje melhor esclarecida, é um meio do globalismo comandar o mundo sem perceber a dominação – as pessoas tornarem-se robôs acionados nas horas certas – atendendo os interesses dos patrões encastelados e nunca conhecidos dissimulando alegrarem e beneficiarem as massas!
Os governos social-comunistas são especialistas em incentivarem as culturas(?) desse estilo para dominarem as nações onde adentram!
Quanto mais impuserem e aceitarem, maior será o grau de domesticação, alienação e de relativização das massas, além de completamente descristianizadas, o pior!