Roark Mitzell
Eu descobri um certo espírito imprudente dentro da nossa economia moderna, no qual todos aparentam querer se livrar das restrições legítimas para satisfazer paixões desordenadas – e com uma urgência de fazê-lo rapidamente. Não estou sozinho em minha avaliação. Em seu livro, “Return to Order: From a Frenzied Economy to an Organic Christian Society – Where We’ve Been, How We Got Here and Where We Need to Go” (1), o autor John Horvat cunha o termo “intemperança frenética” para descrever este impulso agitado, explosivo e implacável, que tantas vezes se manifesta no mercado.
Este termo, intemperança frenética, realmente atinge o ponto. Acho que um de seus principais componentes é, certamente, o nosso fetiche por velocidade.
Um fetiche pode ser definido como “uma atividade ou objeto tornando-se uma fixação de alguém, que dedica uma quantidade de tempo compulsiva, e/ou pensada para isso”. Eu sugiro que a sociedade moderna (particularmente pós-anos setenta) e as gerações subsequentes têm sucumbido a um vício de “velocidade”, que é o ato de mover-se rapidamente. Estranhamente, a palavra “velocidade” vem de uma palavra inglesa arcaica, “spaed”, que significa “riqueza, poder, sucesso” – semelhante a “spowan”, que denota “prosperar ou ser bem-sucedido”.
De alguma forma, o conceito de sucesso (do inglês arcaico) trouxe ao nosso presente a definição de movimento rápido. É aí que se encontra uma parte do nosso dilema atual.
Este fetiche por velocidade nem sempre é bem-sucedido. Algumas semanas atrás, eu me deparei com a parte final de um programa de notícias; que chegou à característica final do interesse humano. Nesse segmento, um entendido cliente de supermercado oferecia um sistema para melhorar a circulação pelos corredores. E mais: ele desenvolveu uma equação para descobrir qual fila do caixa se moveria com mais rapidez. Além da complexidade da equação, o consumidor levou cinco minutos para calcular cada fila. Isso significa que, se você estiver numa loja com oito filas ocupadas, levará 40 minutos para calcular a fila mais rápida.
Isso me parece um grande exemplo de como somos encorajados a encarar a vida sob tal perspectiva: gastar muito tempo para economizar tempo; mesmo quando não é possível. Estamos especialmente condicionados a aceitar essa mentalidade que é, implícita e explicitamente, vendida pela publicidade.
Tendo isso em vista, comecei a prestar atenção aos comerciais – e tudo está voltado para a velocidade.
Naquela noite, eu vi o comercial de um carro cujo maior atributo é ser mais rápido que a chita. Esqueça o consumo de combustível, a segurança ou o custo. Este carro ia além! Em seguida, apareceu um esfregão de cozinha que poderia limpar o chão na metade do tempo, para que você possa ir até a varanda, beber chá e visitar seus vizinhos imaginários (cujos nomes você, provavelmente, nem sabe).
Claro, o especialista em fitness também apareceu, dizendo que você podia ficar incrível em 90 dias. E o que dizer das bebidas energéticas que permitiriam a você uma melhor utilização do tempo, ajudando-o a continuar supercarregado, por mais tempo?
Intrigado pelos comerciais, comecei a prestar mais atenção aos sinais nas ruas e nas vitrines, anúncios em revistas, e em qualquer outro lugar. Em nenhum momento me convenci, e encontrei provas convincentes, de que temos um fetiche por velocidade em nossa cultura. Como mencionado anteriormente, um fetiche é um desequilíbrio. É qualquer coisa que você coloque mais importância do que intrinsecamente vale. Esta relação pode se transformar em adoração, veneração e, finalmente, numa fixação que anula a razão ou a lógica, e domina a vida de uma forma extraordinária e antinatural.
Com este domínio em mente, eis o que eu comecei a notar. Nós, é claro, gostamos de “fast food”, que já foi uma opção “rápida” e de baixo custo. Esses dias são história. E ainda temos os mercados de bairro, seis distribuidores de cerveja, e os “drive-thrus” (para poupar tempo). Não devemos esquecer as lojas de conveniência, que podemos contar após sacarmos o dinheiro de um caixa eletrônico. Para as questões particulares, ou necessidades, podemos sempre recorrer ao reembolso rápido, solicitar uma cópia instantânea, levar o animal de estimação a uma clínica veterinária 24 horas, ter documentos assinados e selados por cartórios ágeis.
Pela conveniência caseira, temos a espuma de barba “rápida” (para os homens no início do dia), seguida de um café da manhã com aveia instantânea. Mais tarde, com as refeições, você pode economizar tempo com o arroz do “minuto”, o purê de batatas instantâneo, os bifes, e adicionar a isso uma xícara de café instantâneo. Para se comunicar, a discagem rápida é essencial. Com os mais rápidos provedores de internet, você pode otimizar um pouco mais o tempo no computador se adquirir um programa “perca peso rápido”; tomar algumas pílulas para queimar gordura rapidamente ou, melhor ainda, grampear o seu estômago.
O resultado é que criamos (e compartimentamos) tempo para trabalhar e jogar, e preenchemos a civilização com economia do trabalho – e com dispositivos que poupem tempo. Porém, uma das nossas maiores reclamações é: “Eu não tenho tempo suficiente!”.
Verdade seja dita, a nossa insaciável mania de economizar tempo tornou-se um fetiche por velocidade, que finalmente alimenta a si mesmo; uma espécie de unidade para se mover, manipular e gerenciar vários componentes e compartimentos da nossa vida, de amigos a familiares, para trabalhar e jogar, para a produção e o consumo – a uma velocidade cada vez maior.
Se a intemperança frenética representa uma unidade que desfaz todas as restrições econômicas, então, ela certamente compartilha uma relação simbiótica com o nosso fetiche por velocidade. Esta unidade proclama que a felicidade é encontrada na satisfação dos desejos (através de bens) ou na conquista do sucesso financeiro/monetário. E tudo isso deve ser feito rapidamente, para que possamos ter a verdadeira felicidade.
No entanto, a “felicidade” das compras instantâneas – ou do sucesso financeiro – é uma ilusão. Essas relações não são nem rentáveis nem orgânicas, e vão terminar numa espiral de ganância, impetuosidade emocional e, eventualmente, num ponto de inflexão; que eu acredito que levará a um desastre socioeconômico de proporções bíblicas.
A resposta está em uma visão descrita em “Return to Order”, que propõe uma volta aos princípios que deram origem a uma sociedade promotora da humanidade e da arte, bem como da produção e do lucro. Trabalhando dentro de um sistema de valores morais, precisamos retornar a uma economia que equilibre as necessidades do produtor e do consumidor. É a visão alentadora de uma Sociedade Cristã Orgânica, que oferece uma economia equilibrada, com uma cadência fundamentada e medida, que não é nem um fantástico sonho indescritível, nem uma utopia paradisíaca. É uma sociedade como deveria ser – sem o fetiche por velocidade.
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(Tradução: Fabio Ramos)
1 – Título da obra: “Retorno à Ordem: Da Economia Frenética à Sociedade Orgânica Cristã – Onde Estivemos, Como Chegamos Aqui e Para Onde Precisamos Ir”, de John Horvat II, em tradução livre.
Fonte: http://www.returntoorder.org/2014/04/cure-for-our-speed-fetish-organic-christian-society/