Enquanto jovens morrem, o déspota dança…
Enquanto o número de mortos nas manifestações de protesto contra o governo marxista da Venezuela não cessa de aumentar — no momento em que escrevemos já são 39 falecidos e pelo menos 717 feridos, a maioria deles vítimas de uma brutal repressão policial, militar e paramilitar —, o presidente Nicolás Maduro aprofunda o cunho tirânico de seu regime.
Intempestivamente, o mandatário anunciou que convocará uma Constituinte. Trata-se obviamente de uma saída para evitar as eleições regionais que deveriam realizar-se no mais tardar no segundo semestre deste ano, nas quais o governo se expõe a uma derrota acachapante que poderia significar o princípio do fim do messianismo revolucionário chavista, o chamado socialismo bolivariano. Mas é também uma forma de aprofundar o deslizamento de seu regime rumo a uma tirania comunista.
A recusa popular a Maduro é unânime. As cifras do colapso econômico, social e, sobretudo, moral, que exibe seu governo, são de causar calafrios. De próspero país de imigração que foi na segunda metade do século passado — destacando-se as centenas de milhares de europeus que ali aportaram —, a Venezuela passou a ser hoje um ruinoso país de emigração. Mais que emigrar, seus cidadãos fogem como podem da miséria, da fome, da violência e da falta de oportunidades de vida digna, próprias do inferno comunista.
O número de médias e pequenas empresas que fecharam suas portas já supera 500 mil! Os direitos e garantias individuais praticamente não existem. Presos políticos sem julgamento ou com processos irregulares povoam as prisões. Num contexto tão asfixiante, não estranha que desde o início do ano tenham irrompido e venham se intensificando em todo o país protestos multitudinários exigindo eleições, liberdade e mudança de regime.
A repressão tem sido brutal, com uma sanha que recorda as praticadas nos anos 50 e 60 pelos regimes comunistas instalados na Europa Oriental. Vídeos expondo a violência policial — por exemplo, efetivos disparando à queima-roupa bombas de gás lacrimogêneo contra estudantes, ou um militar atirando contra um jovem já caído —, circulam pelas redes sociais, exibindo uma realidade de abusos atrozes.
Em um país enlutado, que chora as suas (até agora) 39 vítimas — na sua maioria jovens estudantes —, há alguém que parece não se comover com esse trágico saldo: o tiranete repressor Nicolás Maduro.
Enquanto cresce a cifra de seus jovens compatriotas mortos, ele se diverte jogando beisebol, inaugurando uma feira de animais — onde, à falta de público para ouvi-lo, fala para as vacas pedindo-lhes apoio político (!!!), como também demonstrando suas habilidades de bailarino tropical. Tudo isso no mesmo dia em que vários jovens caíam baleados pelas forças policiais… O contraste é surrealista, dantesco, e evoca outra cena de natureza similar.
No ano 64 d.C. um pavoroso incêndio devorou durante seis dias parte da cidade de Roma. O imperador Lucio Domitio Nero aproveitou a oportunidade para jogar a culpa nos cristãos e desencadear contra estes a primeira grande perseguição ocorrida no Império Romano. Também se popularizou a versão — não confirmada por fontes históricas — de que o próprio Nero teria promovido o incêndio da urbe a fim de poder reconstruí-la segundo os seus caprichos. E enquanto ele contemplava do alto de uma colina as chamas que a devoravam, tocava lira e cantava extasiado, festejando sua destruição.
Lenda ou realidade, o certo é que uma série de desventuras começou quase imediatamente a abater-se sobre Nero. Até que, quatro anos depois do incêndio, temeroso de enfrentar a indignação suscitada na elite romana e no povo por suas loucuras, extravagâncias e violências, numa Roma que já sofria a falta de trigo, encurralado pelo descontentamento dos generais e governadores, e ameaçado de um vergonhoso processo de destituição e castigo, o déspota acabou se suicidando com a ajuda de um escravo.
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Venezuela não é a Roma antiga, nem o faceiro Maduro tem estatura humana para ser um Nero. Não obstante, quantas analogias de situações entre o afundamento social, econômico e moral da Venezuela de hoje com os últimos anos daquele sátrapa romano…
Insensível ao trágico descalabro de seu país, aos mortos que o simbolizam, e à sua própria responsabilidade na tragédia, Maduro dança [foto ao lado e vídeo abaixo]. Para completar o simbolismo da cena, só faltaria que sua dança fosse amenizada pela orquestra que continuava tocando no salão do Titanic enquanto o luxuoso transatlântico ia a pique, ou pela legendária lira que Nero tocava enquanto as chamas consumiam Roma.
Certamente este grotesco escárnio a Deus e ao povo venezuelano não ficará sem resposta da Providência. Tal como ocorreu nos países europeus subjugados durante décadas pelo comunismo, o afundamento da Venezuela acarretará inevitavelmente consigo o fim do maduro-chavismo. O povo já o recusou. O resto é questão de (pouco) tempo.
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Nota: Este artigo, traduzido do original espanhol por Hélio Dias Viana, pode ser reproduzido livremente em qualquer mídia impressa ou eletrônica, citando a fonte: