Deixai vir a Mim as criancinhas. Mas ai de quem as escandalizar!

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    Ao contemplar o Natal do Menino Jesus, vem-nos ao espírito uma atmosfera repleta de luz, bondade, ternura e elevação. A gruta, que outrora fora uma estrebaria, transformou-se no centro dos corações dos homens, pois foi ali que Deus se tornou menino para fazer parte da natureza humana e elevá-la ao mais alto grau, ao ápice da criação.

    Um Deus que se faz criança – frágil, delicada, terna, nobre e real, pois é da dinastia de David – torna-se herdeiro de um trono, pois nasceu para reinar na sociedade, nos reinos, nas leis, na magistratura, nos governos e nos corações, alçando os homens à dignidade de seus filhos. Foi Ele quem disse que ninguém pode amar mais os seus do que quem dá a vida por eles.

    Jesus é um lírio no campo, com todo o seu perfume e alvura. Por isso os anjos cantam no Céu a melodia que ouvimos na noite de Natal: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Enquanto Ele se une às criaturas racionais, os benefícios do Deus-menino são estendidos a todos os seres animados e inanimados, mas, sobretudo, aos homens.

    Certamente os pastores levaram suas crianças para adorá-Lo e oferecer-Lhe presentes. Em sua vida pública Jesus exclamou: Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino do céu“. E também: Quem escandalizar uma dessas criancinhas que creem em mim melhor lhe fora que atassem uma pedra de moinho e lhe atirassem nas profundezas do mar, pois os seus anjos veem a face do meu Pai que está no céu.

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    Natal! Como não pensar no Menino Jesus, na primeira Comunhão das crianças? [foto acima] Aquele que nasceu na gruta de Belém se torna nossa comida e bebida em nossos altares. Aquele que se reclinou no presépio quer se reclinar nos corações de todas as crianças que já completaram o uso da razão, mais ou menos aos sete anos, como ordenou o Papa São Pio X.

    Para se entender melhor o Natal e a Eucaristia, bem como o amor que Cristo depositava nas crianças por causa de sua inocência e humildade, convém expor as palavras do próprio decreto que as admite à primeira Comunhão:

    As páginas do Santo Evangelho manifestam às claras o singular amor que Jesus Cristo teve aos meninos, durante os dias da sua vida mortal. Era suas delícias estar no meio deles; costumava impor-lhes as mãos, abraçava-os e abençoava-os. Levou a mal que os seus discípulos os apartassem dele, repreendendo-os com aquelas graves palavras: deixai que os meninos venham a mim, e não os proibais, pois deles é o reino de Deus” (Mc 10, 13. 14. 16).

    E continua: E quanto estimava a sua inocência e a candura de suas almas, bem o manifestou quando, chamando a um menino, disse a seus discípulos: Na verdade vos digo, se não vos fizerdes como meninos, não entrareis no reino dos céus. Todo aquele que se humilhar como este menino, este é o maior no reino dos céus: e aquele que receber um menino tal como estes em meu nome, a Mim é que recebe” (Mt 18, 3. 4. 5).

    o-Papa-São-Pio-XEm confirmação ao que ensinou o Papa São Pio X [foto ao lado], será citado o texto: O centenário do decreto Quam singularié uma oportunidade providencial para lembrar e insistir em que as crianças tomem a primeira comunhão tão logo atinjam a idade da razão, que hoje parece até ter-se antecipado. Não é recomendável, portanto, a prática cada vez mais comum de aumentar a idade para a primeira comunhão. Pelo contrário: é preciso antecipá-la ainda mais.

    Essas palavras textuais são de autoria do cardeal Antonio Llovera Cañizares, então Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e foram publicadas no  L’Osservatore Romano,  no dia 8 de agosto de 2010. Em 2005, o cardeal Dario Castrillón Hoyos, Prefeito da Congregação para o Clero, declarou por ocasião do Ano da eucaristia:

    Não são poucos os que, ao lado de São Pio X, estão convictos de que essa prática de levar as crianças a terem acesso à primeira comunhão a partir da idade de sete anos trouxe à Igreja grandes graças. Não nos devemos esquecer, além de tudo, de que na Igreja primitiva o sacramento da eucaristia era administrado aos recém-nascidos, logo depois do batismo, sob a espécie de poucas gotas de vinho. Permitir que as crianças possam receber Jesus eucarístico o mais cedo possível foi, por muitos séculos, um dos pontos firmes da pastoral para os menores da Igreja, costume restaurado por São Pio X em sua época, e louvado por seus sucessores.

    No Cânon 914 do Código de Direito Canônico é estabelecida a obrigação dos pais e do pároco de cuidar para que as crianças, ao atingirem o uso da razão, se preparem convenientemente, a fim de se nutrirem o quanto antes desse alimento divino, após a confissão sacramental.

    Antecipar o máximo possível a idade para admissão das crianças pequenas à primeira comunhão e, por conseguinte, aos outros sacramentos. De um lado, pode ser a reafirmação do primado da graça, e de outro, pode evitar que os pais e as crianças percebam como um pedágio os longos anos de catequese preparatória. Diante da quantidade cada vez maior de adolescentes que se afastaram da prática cristã, não seria melhor confiar mais na graça que nos meios humanos? E não seria também melhor esperar que, mesmo que se afastem – o filho mais jovem da parábola evangélica também se afastou –, a memória dos sacramentos continue neles como uma coisa boa, e não como um esforço cansativo semelhante ao pagamento de um pedágio?” (Cfr. Paolo Mattei,in “Por toda parte a Igreja de Cristo se difunde graças a crianças santas”).

    Na memória do jovem da parábola, a casa do pai, ainda que distante, continuava a ser um lugar bom, ao qual de alguma forma ele sempre poderia regressar. Palavras de Santo Agostinho reconfortam tal esperança: “Quacumque in parvulis sanctis Ecclesia Christi diffunditur  (Por toda parte, a Igreja de Cristo se difunde graças às crianças santas”).

    É extraordinário ressaltar a importância da comunhão para as crianças, no momento em que uma crise sem precedentes abala a sociedade, sobretudo a família, e transtorna os costumes morais.

    Não menos urgente é preocupar-se com as crianças instituindo uma pastoral que não as afaste da comunhão, mas pelo contrário as atraia, pois aí estão as drogas, a criminalidade infantil, a prostituição, os maus exemplos, entre os quais os divertimentos eletrônicos e o acesso rápido à tecnologia da comunicação.

    É mais fácil hoje a criança cair nas garras do demônio do que nos séculos XIX e XX, pois os meios de perdição infantil estão a um click de computador. A única solução é a sagrada eucaristia, Jesus que se torna criança e quer para Si as crianças, antes que elas caiam nas garras de satanás.

    O progressismo, ao afastar as crianças da Primeira Comunhão, ao aumentar a idade para que elas se aproximem da sagrada mesa, as perde para o mundo moderno. Devemos comemorar o Natal de Nosso Senhor nesta perspectiva, procurando o tribunal da confissão, a mesa da Eucaristia, e colocar em evidência como centro de toda a vida cristã paroquial, a eucaristia e a devoção a Nossa Senhora.

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    (*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ)

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