“Devolvam o meu Brasil”: desafio a esta geração (V)

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Maio de 68: o anti-Decálogo

Maio de 1968 – Manifestantes atacam policiais franceses com paus, barras e projéteis de aço em pleno bulevar Saint-Germain, em frente ao bar La Rhumerie (o do toldo), um de seus pontos de reunião.

Nós vimos no último artigo alguns aspectos da revolução anárquica e marcusiana de maio de 68 e procuramos mostrar o contraste entre ela e a reação conservadora iniciada no Brasil a partir das grandes manifestações de 2015.

Maio de 2018, Bar La Rhumerie, um dos pontos de reunião dos manifestantes em Maio de 68, fotografado há poucas por Bruno Barbey.

Registramos aqui de passagem alguns comentários da mídia, nos quais ela externa o seu desaponto pela falta de “criatividade” ou de “chama” das esquerdas em nossos dias, e tenta inclusive criar um clima que anime ou reanime os sucessores do maio de 68. Assim, Marc Bassets (El País, 4 de maio de 2018) deixa escapar: A peculiaridade da efeméride [50 anos de maio de 68] é que as paixões que em outros momentos despertou parecem se apagar”.

A Revolução perdeu a liderança do ódio e da persuasão, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Slogans com carga talismânica: anti-Decálogo

Os revolucionários fizeram dos slogans de maio de 68 uma espécie de palavras-talismã cujo mero enunciado desperta uma constelação de conceitos aparentemente afins: igualdade total e compulsória e liberdade sem limites.

Assim, o “é proibido proibir” é tão irracional e destruidor da ordem natural das coisas, ou da Criação, que vai diretamente contra sete mandamentos da Lei de Deus.

Deus nos estabeleceu os 10 Mandamentos, sete dos quais com formulação “proibitiva”: “não tomar o seu Santo Nome em vão”, “não matar”, “não pecar contra a castidade”, “não cobiçar as coisas alheias” etc.

Afirmar que “é proibido proibir” é ser diretamente contra o Criador, contra a Igreja, contra os Mandamentos, contra a Lei Natural.

A Contra-Revolução é sadiamente “negativista”

Ensina o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

Campanha do IPCO contra a Ideologia de Gênero
Campanha do IPCO contra a Ideologia de Gênero

“O espírito humano, partindo do fato de que a negação da negação importa numa afirmação, exprime de modo negativo muitos de seus conceitos mais positivos: in-falibilidade, in-dependência, in-nocência, etc. Lutar por qualquer desses três objetivos seria negativismo, só por causa da formulação negativa em que eles se apresentam? O Concilio do Vaticano, quando definiu a infalibilidade papal, fez obra negativista? A Imaculada Conceição é prerrogativa negativista da Mãe de Deus?

“Se se entende por negativista, de acordo com a linguagem corrente, algo que insiste em negar, em atacar, e em ter os olhos continuamente voltados para o adversário, deve-se dizer que a Contra-Revolução, sem ser apenas negação, tem em sua essência alguma coisa de fundamental e sadiamente negativista. Constitui ela, como dissemos, um movimento dirigido contra outro movimento, e não se compreende que, numa luta, um adversário não tenha os olhos postos sobre o outro e não esteja com ele numa atitude de polêmica, de ataque e contra-ataque”. (1)

“Nem Deus nem senhor!”: ateísmo e igualitarismo

O slogan “nem Deus, nem senhor” é uma explosão de orgulho, uma revolta contra toda autoridade. Aqui também a negação do 1º Mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas”. A substância do espírito religioso é o amor à desigualdade infinita (Deus) e à desigualdade harmônica entre as criaturas.

“Santo Tomás ensina que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador (o contrário do ‘nem Deus nem senhor’). E diz que tanto entre os Anjos quanto entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio, a Providência instituiu a desigualdade. Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador. Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus.

“Claro está que de toda esta explanação doutrinária não se pode concluir que a desigualdade é sempre e necessariamente um bem”. (Cfr. Contra os Gentios, II, 45; Suma Teológica, I, q. 47, a. 2.; Suma Teológica, I, q. 50, a. 4.; op. cit., I, q. 96, a. 3 e 4).

2018 – Nossa hora histórica

Citamos, no último artigo, um princípio fundamental para todos aqueles que se opõem às esquerdas em nossos dias: “não existe o imobilismo histórico”. Em consequência, quando num organismo se opera uma fratura ou dilaceração, a zona de soldadura ou recomposição apresenta dispositivos de proteção especiais.

Contra a revolta de Lutero a Providência suscitou Santo Inácio

Portanto, nossa meta não pode ser apenas voltar aos anos anteriores a maio de 68; “ela deverá ter características próprias que a diversifiquem da ordem existente antes da Revolução. Claro está que esta afirmação não se refere aos princípios, mas aos acidentes. Acidentes, entretanto, de tal importância, que merecem ser mencionados. Na impossibilidade de nos estendermos sobre este assunto, digamos simplesmente que, em geral, quando num organismo se opera uma fratura ou dilaceração, a zona de soldadura ou recomposição apresenta dispositivos de proteção especiais. É, pelas causas segundas, o desvelo amoroso da Providência contra a eventualidade de novo desastre. Observa-se isto com os ossos fraturados, cuja soldadura se constitui à maneira de reforço na própria zona de fratura, ou com os tecidos cicatrizados. Esta é uma imagem material de fato análogo que se passa na ordem espiritual. O pecador que verdadeiramente se emenda tem ao pecado, em via de regra, horror maior do que teve nos melhores anos anteriores à queda. É a historia dos Santos penitentes. Assim também, depois de cada prova, a Igreja emerge particularmente armada contra o mal que procurou prostrá-La. Exemplo típico disto é a Contra-Reforma”.(2)

*  *  *

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nos ajudará a rejeitar os falsos slogans de maio de 68 (bem como a socialização petista) e reedificar o nosso Brasil. Reedificar o Brasil não é apenas renovar a classe política. Importa, antes de tudo, conhecer a alma nacional. Fica para outra ocasião tratar das qualidades e potencialidades do brasileiro.

 


Notas:  (1) Revolução e Contra Revolução, Parte II, Cap. VII, B

(2) Revolução e Contra Revolução, Parte II, Cap. II

 

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