Aspecto interno de um templo católico, no qual se realiza uma cerimônia litúrgica. O altar e o presbitério estão iluminados. O Pontífice, no trono, está rodeado por seus acólitos. Na abside, da qual se vê uma parte, se comprimem os fiéis. Grandes festões, pendentes do teto e presos às colunas, acentuam a nota festiva do ambiente. A atmosfera é de pompa e alegria, como sói ser nas solenidades da Igreja. Nada, absolutamente nada se nota nela que possa parecer revolucionário, totalitário ou proletarizante.
Entretanto, a festa que se realiza é uma festa do trabalho. Se observarmos bem, verificaremos que as guirlandas são feitas de cestos, cestos decoram o púlpito e revestem a própria Cruz a cujos pés se realiza o Sacrifício.
É que a região — Thiérache, no Aisne, França — é especializada no fabrico de cestos. E, sendo esta a festa dos cesteiros, ornamentaram eles todo o edifício sagrado com o fruto de seu trabalho.
O sentido dessa decoração é profundíssimo. Ela nos faz ver que o trabalho, mesmo manual, é considerado pela Igreja com maternal carinho, e que esta Mãe amorosa se regozija em adornar-se com as oferendas de seus filhos.
Mas, em sentido contrário, também vemos aí que, para conviver amorosamente com o mundo da indústria e do trabalho, a Santa Igreja não precisa tomar ares de usina ou estilos de sindicato. Continuando autenticamente Ela mesma, na sua pompa, na sua majestade, pode a Esposa de Cristo reunir em torno de si os filhos de todas as classes, como uma Rainha cheia de bondade. E, assim, sob o seu influxo as festas do trabalho assumem um ar de nobreza e dignidade que bem exprime o alto apreço em que Ela as tem.
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Num passo cadenciado e rápido, fisionomias sombrias, gesto mecânico e padronizado, avançam os porta-estandartes. Neles o ódio transluz de todos os modos. Seus pés parecem calcar inimigos, seus olhos parecem fitar inimigos, seu coração parece cheio de inimizades, seus imensos estandartes tremulam pesados e sinistros, ao sopro de um vento inteiramente impregnado de ameaças, rancores e trágicos desígnios.
É um desfile de trabalhadores na festa dos esportes em Moscou. O trabalho manual é apresentado aí como um vencedor que expande todos os seus ódios secularmente comprimidos, e está na iminência de destruir tudo o que não seja músculo, massa, máquina, matéria. Materialismo agudo, em suma, forma extrema de igualitarismo, que reduz tudo ao nível do que há de mais baixo na escala da criação, isto é, a matéria.
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Dois estilos de festa, duas concepções do trabalho, duas visões do universo.
Em uma, se exprime o amor de todos os valores sobrenaturais, espirituais e materiais da criação, dos mais altos até os mais modestos, no convívio hierárquico e harmônico desejado por Deus. Na outra, o infernal e inexorável conflito entre tudo quanto é elevado, o qual dará “fatalmente” no triunfo final da Revolução, e no sombrio reinado da matéria sobre o mundo.
Uma é a festa do trabalho como o entendem os filhos da luz. E outra é uma festa em que se estadeia o trabalho como o entendem os filhos das trevas.
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- Publicado originalmente na revista “Catolicismo” Nº 83 – Novembro de 1957*