É o nazismo um regime de esquerda?

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chanceler brasileiro Ernesto Araújo durante a entrevista para o “Brasil Paralelo”

A imprensa esquerdista, nacional e internacional, reagiu estrondosamente contra a afirmação do chanceler brasileiro Ernesto Araújo de que o nazismo é de esquerda. Há pouco tempo, publicamos neste site uma análise, baseada em artigos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que prova esta tese[1].  Convém, entretanto, aprofundar esse tema, especialmente tendo em vista os comentários do jornal “O Estado de São Paulo”, 29 de março p.p., e do jornalista Marco Antônio Villa, da rádio Jovem Pan.[2]

A notícia do “Estadão” intitulada Chanceler diz que ‘fascismo e nazismo são de esquerda’ – Declaração de Ernesto Araújo repercute em TV alemã e é criticada por especialistas” diz: “Para o jornalista do Estado e historiador Marcos Guterman, o nazismo não pode ser qualificado como de esquerda em nenhuma circunstância. Em geral, quem usa esse discurso se vale do nome da legenda nazista: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Há grupos na internet que costumam reproduzir essa ideia. Para Guterman, se trataria de uma argumentação insustentável cujo único objetivo seria o de mobilizar a militância. ‘Ele está respondendo a um pensamento do eleitor.’ Em entrevista à Deustche Welle no ano passado, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, chegou a afirmar que essa discussão ‘não tinha base honesta’.

O jornalista Marco Antônio Villa, que também se diz historiador, extravasa todos os limites da cortesia, da educação e do respeito que se deve a um chanceler do Itamaraty, ainda que não se concorde com as suas ideias. Eis as suas palavras: “Isto é uma das maiores barbaridades que eu já vi o chanceler do Itaramty dizer. Nós temos um homem ignorante que desconhece história e que está a serviço de uma ideologia exótica que coloca em risco a segurança nacional e tem como ideólogo um marginal, que eu chamo de Jim Jones da Virgínia. Dizer que o nazismo é de esquerda é inacreditável. Falar desse senhor, eu gostaria de ter um tête a tête com ele.” E chama o chanceler de “ignorante, além de traidor é ignorante”.

Capa do livro: Hitler m’a dit

Inacreditável é ouvir de jornalistas que se dizem historiadores que o nazismo não é de esquerda. Gostaria que eles lessem apenas alguns tópicos que separei do livro “Hitler m’a dit”, de Hermann Raushning, ex-governador nazista de Dantizig, amigo muito próximo de Hitler. O Sr. Marco Antônio Villa demonstra só conhecer o “Mein Kampf”, de Hitler, o qual foi escrito para o público com os devidos cuidados para não chocar o leitor. O livro de Raushning, por sua vez, traz confissões privadas do verdadeiro pensamento de Hitler.

No prefácio, Marcel Ray ressalta a importância desse livro em relação ao Mein Kampf, no qual se baseiam os referidos jornalistas. “Hermann Rauschning, que recentemente coletou essas confidências e as publica hoje, ele mesmo define o interesse e o escopo de seu livro ao se opor a Mein Kampf. Não é, ele diz, em Mein Kampf que vamos encontrar o verdadeiro plano de Hitler, porque este livro é escrito para a massa. Além desta propaganda bastante grosseira, há a doutrina secreta que divulga em pequenos círculos de insiders. O Sr. Rauschning nos traz, abundante e preciso, extraído da fonte, as peças decisivas do processo de Hitler.”

Hitler, embora não fosse marxista no sentido estrito do termo, era um convicto socialista.

Os trechos são todos extraídos da obraAdolph Hitler, apud Hermann Rauschning, Hitler m´a dit, Coopération, Paris 1939”. Citaremos, por comodidade, apenas os números das páginas em que se encontram os referidos textos.

            “Não é a Alemanha que será bolchevisada, é o bolchevismo que se tornará uma espécie de nacional socialismo. Aliás, existem entre nós e os bolchevistas mais pontos comuns do que há divergências, e, antes de tudo, o verdadeiro espírito revolucionário, que se encontra na Rússia como entre nós, por toda a parte onde os marxistas judeus não controlam o jogo. Eu sempre levei em conta esta verdade e é por isso que eu dei ordem de aceitar imediatamente no partido todos os ex comunistas” ( p. 153).

            “A Alemanha e a Rússia se completam de maneira maravilhosa. Elas são feitas verdadeiramente uma para a outra” ( p, 154).

            “Meu socialismo é outra coisa que o marxismo. Meu socialismo não é a luta de classes, mas a ordem. (…) Eu vos peço que leveis convosco a convicção que o socialismo, tal qual nos o compreendemos, visa não à felicidade dos indivíduos, mas sim a grandeza e o futuro da nação inteira. É um socialismo heroico. É o laço de uma fraternidade de armas que não enriquece ninguém e põe tudo em comum” (p.  201).

Hitler diz que aprendera os ensinamentos da Revolução com os bolchevistas:

            “Os ensinamentos da revolução, eis todo o segredo da nova estratégia. Eu os aprendi dos bolchevistas e não tenho vergonha de dizer isso, porque é sempre dos inimigos que se aprende mais” (p. 26).

Idéias que hoje são defendidas pela chamada Teologia da Libertação, filha da mesma mentalidade socialista, também estavam presentes no nazismo: “A era da felicidade pessoal acabou. O que nós substituímos a ela é a aspiração a uma felicidade da comunidade” (…) Eis o que eu chamo de felicidade da comunidade. É uma felicidade que somente as primeiras comunidades cristãs puderam experimentar com a mesma intensidade.” ( p. 218)

Hitler zomba daqueles que acreditam que o nazismo não é socialista porque lhes dá a prosperidade que tanto desejam. Entretanto, para ele, mais importante do que socializar a economia era tornar os homens socialistas. A socialização da economia viria como consequência natural: socializar os homens e as mentes é muito mais importante do que socializar a economia.

            “Todos esses cegos que nos cercam se hipnotizam, por cobiças superficiais que lhes são familiares; eles se apegam à propriedade, às rendas, ao nível social e às outras riquezas fora de moda. Contanto que tudo isso lhes permaneça acessível, eles acham que tudo vai bem. O que eles ignoram é que eles mesmos estão centrados num sistema novo, como numa engrenagem de um mecanismo irresistível. Eles não sabem que nós os amoldamos e nós os transformamos. Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? .Nós socializamos os homens” (pp. 218-219).

Hitler confessa ser o realizador do marxismo…

            “Eu não sou apenas o vencedor do marxismo. Se se despoja essa doutrina de seu dogmatismo judeu-talmúdico, para guardar dela apenas o seu objetivo final, aquilo que ela contém de vistas corretas e justas, eu sou o realizador do marxismo” (p. 211).

… e não esconde que aprendeu muito com o marxismo.

            “Eu aprendi muito do marxismo, e eu não sonho esconder isso. (…) O que me interessou e me instruiu nos marxistas foram os seus métodos (…) Todo o Nacional Socialismo está contido lá dentro (…) O nacional socialismo é aquilo que o marxismo poderia ter sido se ele fosse libertado dos entraves estúpidos e artificiais de uma pretensa ordem democrática” (pp.211- 212).

O nazismo é um socialismo em constante evolução: “É por isto que lhes digo que o Nacional Socialismo é  um socialismo em devir, que não se completa nunca, porque seu ideal se desloca sempre” (p. 214)

*   *   *

Continuaremos no próximo artigo onde mostraremos como o darwinismo deu origem ao comunismo e ao nazismo na tentativa de criar um homem novo.  Trataremos também da semelhança de método, meta e doutrina do comunismo e do nazismo descritos num documentário divulgado pela TFP polonesa, bem como do acordo secreto entre os líderes comunistas russos e os nazistas alemães.


[1] https://ipco.org.br/nazismo-fascismo-e-comunismo-sao-farinha-do-mesmo-saco/

[2] https://www.youtube.com/watch?v=CHwsGZ7hSUQ

6 COMENTÁRIOS

  1. Onde voces enquadam os regimes alinhados aos regimes fascistas, como o Salazarismo e Franquismo, que além de profundamente católicos e também com tendencias monarquistas? São de esquerda também?

  2. Excelente texto! Vale lembrar que mesmo em Mein Kampf há inúmeros trechos que indicam características da esquerda e que não são possíveis disfarçar, fora as críticas ao capital financeiro, aos burgueses e conservadores. Há vários meses atrás, inclusive, separei alguns trechos do livro:

    “O combate contra a alta finança internacional se tornou um dos pontos capitais do programa na luta da nação alemã pela sua independência econômica e pela sua liberdade”.
    Mein Kampf p. 202

    “Essa burguesia, doente de senilidade mental,
    pensava com toda seriedade que o exército voltaria a ser o que tinha sido, isto é, um sustentáculo da defesa nacional, enquanto o Centro e o Marxismo só pensavam em lhe extrair. o dente perigoso do nacionalismo, sem o qual o exército não é mais do que uma policia e nunca uma tropa capaz de lutar com o inimigo. Tudo isso o futuro
    encarregou-se de provar à saciedade”.
    Mein Kampf p. 205 e 206

    “Outrora, serviu-se da burguesia como arma contra o mundo feudal, agora vai atiçar o operário contra o burguês. Se, à sombra da burguesia, ele conseguiu, por meios duvidosos, a conquista dos direitos de cidadania, espera agora encontrar, na luta do
    trabalhador pela vida, o caminho para implantar o seu domínio político.”
    Mein Kampf p. 303

    “Na mesma proporção, a chamada burguesia nacional, cega pelo dinheiro, põe os maiores obstáculos a essa luta pela vida, opondo-se contra todas as tentativas de abreviação do horário de trabalho, desumanamente longo, supressão do trabalho infantil, segurança e proteção da mulher, melhoramento das condições sanitárias em
    oficinas e moradias, etc. O judeu, mais inteligente, toma a defesa dos oprimidos. Aos poucos, torna-se o chefe do movimento social. Isso lhe é fácil, pois não se trata, na realidade, de combater com boa intenção as chagas sociais, mas somente de selecionar uma tropa de combate, nos meios proletários, que lhe seja cegamente devotada na campanha de destruição da independência econômica do país”.
    Mein Kampf p. 305
    “A nacionalização das grandes massas nunca se conseguirá por meias medidas, por afirmações tímidas de um chamado ponto de vista objetivo, mas sim por uma focalização unilateral e fanática no fim almejado. Quer isso dizer que não se pode tornar nacional um povo no sentido de nossa hodierna burguesia, isto é, com umas tantas restrições, mas sim tornando o “nacionalista” com toda veemência.
    Veneno só pode ser combatido com contraveneno, e só a lassidão de um caráter burguês é que poderá encarar os atalhos como conduzindo ,ao reino do céu”.
    Mein Kampf p. 320

    “Foram, nesse momento, lançadas as diretrizes e linhas principais de uma luta cuja finalidade era varrer o monturo de idéias e pontos de vista gastos e de objetivos perniciosos. No putrefato e acovardado mundo burguês. bem como no cortejo triunfal 4ª onda marxista em movimento, devia aparecer uma nova força para deter, à última hora, o carro do destino”.
    Mein Kampf p. 344

    “Se essa ingratidão popular sobe até um certo ponto, só um remédio pode servir: é preciso restaurar o esplendor do partido, o programa necessita ser melhorado, renasce para a vida a “comissão” e recomeça-se a burla. Dada a estupidez granítica dos homens do nosso tempo, não é de admirar o êxito desse processo. Guiado pela sua imprensa e deslumbrado com o novo e sedutor programa, o gado “burguês” e “proletário” torna a voltar ao estábulo e de novo elege
    os seus velhos impostores”.
    Mein Kampf p. 346

    “E, por esse motivo, qualquer luta do nosso
    chamado mundo burguês contra ela é impossível, até ridícula, pois esse mundo burguês está inteiramente impregnado dessas substancias venenosas e admira uma concepção do mundo que, em geral, só se distingue da marxística em grau e pessoas, o mundo burguês é marxístico, mas acredita na possibilidade do domínio
    de determinado grupo de homens (burguesia), ao passo que o marxismo procura calculadamente entregar o mundo às mãos dos judeus”.
    Mein Kampf pgs. 352 e 353

    “Em 1919/20 e também em 1921, assisti pessoalmente a algumas das
    chamadas “assembléias burguesas”. A impressão que delas guardei, foi sempre a mesma, que me causava, na minha juventude, a colher obrigatória de óleo de fígado de bacalhau. Tem que ser engolida, deve fazer muito bem, mas o gosto é detestável! Se fosse possível amarrar com cordas todo o povo alemão, arrastando-o à força para essas manifestações públicas, trancando as portas para não deixar sair um só, até o fim da representação, talvez ao cabo de alguns séculos tudo isso desse algum resultado. Aliás devo confessar abertamente, que se isso acontecesse, eu não teria mais prazer na vida, preferindo até não ser mais nem alemão. Não sendo isso possível – graças a Deus – ninguém se deve admirar de que o povo sadio e não corrompido evitasse as tais “assembléias de grandes multidões burguesas”, como o diabo foge da água benta”.
    Mein Kampf p. 444

    “Não precisamos dizer nada sobre os mentirosos jornais marxistas. Para eles o mentir é tão necessário como para os gatos o miar. Seu único objetivo é quebrar as forças de resistência da nação, preparando-a para a
    escravidão do capitalismo internacional e dos seus senhores, os judeus”.
    Mein Kampf pgs. 230 e 231

    Eu separei esses textos baseado em uma versão digital. Pode ser que alguma edição possua outra ordem de páginas.

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