Em todas as regiões brasileiras, mesmo nos mais remotos rincões, são realizadas anualmente festas religiosas fixas e móveis, nas quais, não raro, de forma até pitoresca, se manifesta a alma católica da Nação.
Certos pormenores desses festejos refletem costumes tradicionais de festividades análogas da Europa, sobretudo realizadas em nossa mãe-pátria, Portugal.
Assim, temos as festas do Divino Espírito Santo, de Corpus Christi com tapetes multicolores nas ruas [foto abaixo], e numerosíssimas celebrações em homenagem a Nossa Senhora e a grande número de Santos e Santas da Igreja Católica.
Quase todos esses festejos começam, dias antes, com tríduos ou novenas. Então, as ruas das cidades são ornamentadas com bandeiras, flores de papel de seda e crepom, arcos de bambus ou taquaras e ramos de palmeira.
Junto à igreja ou capela realiza-se a quermesse: algumas barraquinhas com comidas e bebidas típicas de cada região, além de jogos e diversões variadas.
Principalmente o dia do Santo que se comemora é marcado com alvorada de foguetes ou tiros de garrucha, repicar de sinos, bandas de música, balões e desfiles folclóricos.
Muito comum é o ritual do hasteamento do mastro com a bandeira, na qual figura o santo, a santa ou seus símbolos.
As fogueiras, os fogos de artifícios, rojões, morteiros e os tiros de trabuco carregados com pólvora seca podem ser também observados.
Há festas em que são realizadas cavalhadas, na forma de cortejos a cavalo, que acompanham os festeiros [fotos ao lado e abaixo]. Muitas vezes a cavalhada sai em busca do rei e da rainha da festa para conduzi-los à igreja. Há ainda irmandades que se apresentam a cavalo e outras que desfilam a toque de tambores.
Parte importante do programa de várias festas são os cortejos de carros de bois, carroças e outros veículos campestres, enfeitados com bandeiras ou flores. Os desfiles de veículos motorizados muito numerosos são manifestações características das festas em louvor a São Cristóvão.
Em certas comemorações, como a do Divino, São Jorge, São Sebastião e São Benedito, a organização fica sob responsabilidade das irmandades leigas, com mais autoridade, nessas ocasiões, que a dos próprios vigários ou sacerdotes.
Em muitas festas, são realizadas visitas aos presos, oferecendo-se-lhes almoço e obtendo-se, por vezes, a libertação de um ou dois deles. Em outras, fazem-se visitas aos doentes nos hospitais e santas casas, oferecem-se refeições aos pobres e, em muitas ocasiões, são distribuídos alimentos ao povo em geral, como carnes, pães, doces e salgados, além de bebidas não alcoólicas e café com leite.
Especialmente na véspera e no dia do Santo festejado, realizam-se danças folclóricas, diversas competições e até touradas. Para as crianças, outros jogos como o pau-de-sebo, quebra-pote e corrida de saco.
São numerosíssimas as procissões terrestres, fluviais e marítimas [foto abaixo], com andores ricamente ornamentados do Santo ou Santa homenageados. Cumpre destacar ainda as bênçãos dos animais, leilões de prendas, garrotes, bois, cavalos e aves.
Os personagens dirigentes dos festejos passam a ser chamados rei e rainha, imperador e imperatriz, festeiro e festeira, juiz ou juíza.
Estas festas fixas e móveis representam, na vida nacional, fator de consolidação dos laços sociais das coletividades-sede. Tais festividades, com efeito, constituem ocasiões para encontros de parentes, amigos e conhecidos, muitos residentes em lugares longínquos, bem como para novos relacionamentos com estranhos, que poderão vir a frequentar e prestar seu concurso às comunidades promotoras dos festejos.
Embora com pouca cobertura da grande imprensa nacional, tais comemorações constituem importantes e autênticas expressões da religiosidade católica brasileira, merecedora de apoio, incentivo e divulgação.
BIBLIOGRAFIA :
- Rossini Tavares de Lima, Folclore das Festas Cívicas, Irmãos Vitale Editores. São Paulo, 1980.
- Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro. Inst. Nacional do Livro. Rio. 1954.
- Maria do Rosário de Souza T. de Lima. Mitos que fizeram História, D.O. Leitura (IMESP). São Paulo. março/93.