Reproduzimos, no último artigo, considerações do Prof. Plinio sobre a sacralidade.
A sacralidade, em si, é a qualidade que tem um ser, que deixa transparecer seu caráter sagrado. A Sacralidade pode ser percebida nos objetos, no homem, na civilização. https://ipco.org.br/formacao-introducao-a-sacralidade-nos-objetos-nos-santos-na-cristandade/
Por que a Igreja abençoa as espadas?
Por que razão a Igreja abençoa a espada dos militares que, recebendo as dragonas do oficialato, se incorporam à alta direção das forças armadas?
Por que timbra ela em dar às espadas, que são instrumentos de morte, uma bênção que é o penhor da proteção do Deus vivo?
Porque a Igreja não vê na espada dos militares senão o baluarte da justiça. A espada do militar é, para a Igreja, não o instrumento com que se mata em guerra de conquista, mas o meio de defesa do direito lesado, da civilização agredida, da moral conspurcada. E se o próprio Salvador não relutou em empunhar o açoite com que flagelou vigorosamente os vendilhões do templo que conspurcavam os direitos de Deus, a Igreja não poderia deixar de abençoar as espadas com que o Estado arma seus paladinos, para a defesa dos direitos da Igreja, da Civilização e da Pátria.
Em outros termos, significa isto que a Igreja, a despeito das entranhas maternais que A movem em relação a todos os seus filhos, não reluta em abençoar a violência, desde que ela seja a santa violência da ordem contra a desordem, do bem agredido contra o mal agressor, da vítima prejudicada contra o causador do dano injusto.
É necessário, evidentemente, que a violência só seja empregada quando todos os outros meios se esgotaram para restabelecer o direito lesado. É necessário, além disto, que ela não exceda em virulência ao limite do estritamente indispensável para a defesa da Justiça. Estas duas ressalvas feitas, entretanto, o exercício da violência não constitui apenas um direito, mas deve, às vezes, constituir um imperioso dever.
A espada é sacral?
Realmente, quando a espada da Justiça se deixa paralisar pela inércia, embora a civilização periclite, a Pátria corra risco e os direitos da Igreja sejam calcados aos pés, ela colabora por omissão com o mal contra o bem, com a anarquia contra a civilização, com o demônio contra Deus. Deserta de seu dever sagrado. Perde o direito ao respeito que merecia. E se transforma, de sublime instrumento de defesa, em inútil fonte de gastos inúteis, ou odioso meio de opressões.
Eis aqui o caráter sacral da espada em defesa da Fé, da Pátria, da Civilização contra o socialismo e o comunismo.
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Sem ser uma arma de guerra, a espada por uma porçäo de circunstâncias de tal maneira simboliza o heroísmo, e o heroísmo pelo qual o homem dá a vida por alguma coisa, que a espada passou a ser um simbolo sem o qual o oficial não se apresenta porque se duvida que ele seja oficial.
Bom, é o brilho niquelado da espada; e a linha reta da espada, o ligeriamente afilado da espada, o punho da espada, tudo da espada lembra alguma coisa da espadachinada. E queiram ou näo queiram, na sensibilidade dos homens a batalha com a espada e lança acabou sendo a batalha por excelência!
A bomba atômica é incomparavelmente mais mortífera, mas uma batalha — o que é que os Srs. querem? –, uma batalha não é só matar, nem é só vencer! Uma batalha é expor-se, é fazer força, é ter agilidade, é ter bastante amor para fazer a proeza de um duelador!
“Hoje em dia a espada está completamente superada como arma de guerra, e nem pode entrar em cogitação a ideia de afiar uma espada para entrar em combate. Atualmente ela não é arma de guerra nem para a agressão nem para a defesa. Pode-se dizer que está praticamente cancelada da lista dos armamentos modernos.
“Entretanto, apesar desse fato, em tantos dos exércitos dos países civilizados os oficiais a trazem consigo nas ocasiões de grande solenidade. Numa época em que o desaparecimento da espada como arma chega ao seu auge, como símbolo ela ainda é tal, que não se compreende um oficial sem a sua espada.
“Por outro lado, em vários países existem Academias de Letras nas quais se usam fardões, e os acadêmicos, nas ocasiões de pompa, portam a espada. No momento em que o literato chega ao auge de sua glória e é proclamado “imortal” – da mais mortal das imortalidades – não lhe dão uma grande pena para usá-la como simbólico adorno, pois ficaria uma tralha ridícula. Ele sente-se inibido se não tiver uma espada. De maneira que o literato envergando o fardão, usa a espada.
“Até algum tempo atrás, ao fardão dos diplomatas era também incorporada a espada. Atualmente não sei se ainda a conservam.
“Por que razão isso é assim?
Símbolo da Cavalaria e da Dignidade Humana
“Porque a espada ficou ligada a uma série de aspectos poéticos e heroicos, símbolos da cavalaria e da dignidade humana, que não se dissociam dela.
“Por isso nela costumam estar presentes não só a beleza da forma, mas também a excelente qualidade do material utilizado em sua confecção, muitas vezes ornamentado com incrustações de metais nobres e pedras preciosas. E quando seu detentor é possuidor de fé ardente e espírito sacral, não hesita em colocar uma relíquia do Santo de sua maior devoção no punho da mesma.
“Na Antiguidade clássica, ainda não se construíra em torno da espada toda a legenda que, sobre ela, formou-se durante a Idade Média. Esta fase histórica soube ver com profundidade a espada, sublimá-la e transformá-la no mais alto símbolo da dignidade humana.
“Um rei para ser coroado usa sempre a espada. Para tudo de elevado, de pompa que o igualitarismo moderno ainda deixou de elevado, usa-se a espada.
“O que é mais bonito dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada” ou “eu herdei de meu pai uma geladeira, um Cadillac ou uma indústria”?
“Pode ser mais lucrativo herdar do pai uma indústria, porém há mais beleza em dizer: “Eu herdei de meu pai uma espada que, nos campos de batalha, defendeu a civilização cristã. Ele foi um herói e morreu na guerra. A espada que usava como militar, como combatente, ele me legou!” Uma espada assim deveria ser guardada numa capela. Pois ela transformou-se numa relíquia.”
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Essas considerações encherão de horror um progressista, um pacifista, um gozador da vida. Entretanto os mesmos progressistas passam a guilhotina nos conservadores, talvez achem a espada por demais sacralizada.
(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP em 9 de maio de 1969. Sem revisão do autor.
https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_690509_espada_simbolismo.htm