Formação: Insubordinação, “desalienação”, fio de meada dos mistérios “proféticos” (1)

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A trama progressista dentro da Igreja vem de longe. Condenado por São Pio X, o Modernismo toma outras roupagens. Publicamos a seguir trechos de comentários do Prof. Plinio, em Catolicismo, 1959 — sobre os Grupos Proféticos, sua doutrina igualitária, seu conceito imanente da divindade.

Insubordinação, “desalienação”, fio de meada dos mistérios “proféticos”

No artigo de apresentação deste número (“O porquê deste número duplo”), está descrita a inter-relação do IDO-C com os “grupos proféticos”. É fácil ver que aquele e estes constituem, em seu conjunto, uma imensa máquina semi-secreta, enquistada na Igreja, para a realização do desígnio maléfico de A transformar no contrário do que tem sido nestes dois mil anos de existência.

Desejamos, agora, ajudar o leitor no estudo do artigo de “Ecclesia” sobre os “grupos proféticos” (“Os pequenos grupos e a corrente profética”pondo em especial relevo os aspectos dessa espécie de sociedades iniciáticas, que nos parecem mais profundos e esclarecedores.

Neste comentário, não visamos aprofundar propriamente a doutrina dos “grupos proféticos”, a coerência interna das diversas teses que a integram, seus mestres, seus precursores, suas afinidades ou distonias com outros sistemas de pensamento.

Nem tampouco pretendemos analisar as condições culturais, políticas, sociais, econômicas ou outras, que favorecem ou contrariam a gênese e o desenvolvimento desses grupos.

Nosso objetivo é mais circunscrito, e também de uma utilidade mais imediata. Postos diante do crescimento tangível dos “grupos proféticos”, de sua nocividade evidente, da necessidade, pois, de lhes atalhar os passos, perguntamo-nos qual o programa deles, se repousam sobre uma estrutura definida de direção e propaganda, como é essa estrutura, como atua, como vêem eles as transformações pelas quais a Igreja passou recentemente e continua a passar, quais as técnicas de recrutamento, formação e subversão usadas por tais grupos, e por fim, quais as suas relações com o comunismo.

É no artigo de “Ecclesia” que procuraremos resposta a essas perguntas.

I . Desalienação: revolta contra toda superioridade, toda desigualdade

O conceito-chave da doutrina dos “grupos proféticos” é, a nosso ver, a alienação. Assim, tomamo-la como ponto de partida e como fio condutor desta exposição. O leitor verá como, desta forma, a matéria se torna límpida e acessível.

No Mosteiro cisterciense de Poblet, na Espanha, Monges prosternados por terra fazem o mea culpa perante o Abade e o Capítulo.

Alienus é um vocábulo latino que equivale à palavra portuguesa “alheio”. Alienado é o que não se pertence a si mesmo, mas a outrem.

Na perspectiva comunista, toda autoridade, toda superioridade social, econômica, religiosa ou outra qualquer, de uma classe sobre outra, importa em uma alienação. Alienante é a classe social que exerce a autoridade, ou possui a superioridade, seja através de um Rei, um Chefe de Estado, um Papa, um Bispo, um Sacerdote, um General, um professor, ou um patrão. Alienada é a classe que presta obediência à alienante. A classe alienada, pelo próprio fato de estar sujeita a outra classe em medida maior ou menor, nessa exata medida não se pertence a si mesma, e está alienada a essa outra.

Transposto o conceito de alienação para as relações de pessoa a pessoa na esfera religiosa, pode-se dizer que um Papa, um Bispo ou um Sacerdote, enquanto participa da classe dirigente, que é o Clero, é alienante em relação a um simples fiel, o qual é membro da classe dirigida, isto é, do laicato.

Toda alienação é uma exploração do alienado pelo alienante. E como toda exploração é odiosa, cumpre que a evolução da humanidade conduza à supressão de todas as alienações, e portanto de todas as autoridades e desigualdades. Pois toda desigualdade cria de algum modo uma autoridade. A fórmula mais conhecida e popular da total não alienação está no lema da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. A aplicação absolutamente radical desse lema importa na implantação de uma “anarquia” sem caos. A ditadura do proletariado não é senão uma etapa para a realização do anarquismo.

igualitarismo radical é a condição para que haja liberdade, e para que, cessadas as explorações e as conseqüentes lutas de classe, reine entre os homens a fraternidade.

Essa a criminosa quimera dos comunistas.

II . O supremo objetivo “profético”: uma Igreja não alienante nem alienada

Do que expõe o artigo de “Ecclesia”, deduzimos que os “grupos proféticos” desejam transformar a Igreja Católica, de alienante e alienada que é, em uma Igreja-Nova, sem nenhuma forma de alienação.

Essa é a maneira dessacralizada de celebrar a Missa, propugnada pelos “grupos proféticos” da Igreja-Nova.

1ª desalienação da Igreja: em relação a Deus

  • a. A Igreja “constantiniana” (cuja era, segundo os “grupos proféticos”, começaria com Constantino, o Imperador romano do século IV que livrou a Igreja das perseguições e A tirou das catacumbas, e se estenderia até nossos dias) acredita em um Deus transcendente, pessoal, dotado de inteligência e vontade, perfeito, eterno, criador, regedor e juiz de todos os homens. Estes são infinitamente inferiores a Deus, e Lhe devem toda sujeição. E, crendo em um tal Deus, os homens aceitam um Deus alienante. A Religião é pura alienação.
  • A Igreja-Nova não crê em um Deus alienante. O Deus da Igreja “constantiniana” corresponde a um estágio já superado da evolução do homem, o homem infantil e alienado. Hoje, o homem, tornado adulto pela evolução, não aceita um Deus do qual ele é, em última análise, um servo, e que o mantém na dependência de seu poder paterno, ou antes, paternalista, como dizem pejorativamente os “grupos proféticos”. O homem adulto repele toda alienação, e quer para si outra imagem de Deus: a de um Deus não transcendente a ele, mas imanente nele. Um Deus que é impessoal, que é como um elemento difusamente esparso em toda a natureza, e portanto, também, em cada homem. Numa palavra, um Deus que não aliena.
  • b. É porque não aceita essa nova figura de Deus, e se obstina em manter a velha figura do Deus pessoal, transcendente e alienante, que a Igreja “constantiniana” gera o ateísmo. Pois o homem adulto de hoje, não podendo aceitar essa imagem infantil da divindade, se afirma ateu. Se a Igreja lhe apresentasse um Deus atualizado, imanente e não alienante, ele o aceitaria. E deixaria de ser ateu.
  • c. É bem verdade que a afirmação de um Deus transcendente e alienante tem seu fundamento em numerosas narrações dos Livros Sagrados. Essas narrações, entretanto, não são realidades históricas precisas. Elas são mitos elaborados pelo homem não adulto, alienado e sequioso de alienação. Hoje, elas devem ser reinterpretadas segundo uma concepção não alienante mas adulta. Ou até recusadas. Com isto, se purifica a Religião de seus mitos. É o que se chama desmitificação.
  • d. É, por exemplo, o que cumpre fazer quanto à explicação da infeliz condição do homem, sujeito ao erro, à dor e à morte. O remédio dessa situação não pode vir, para o homem adulto, de uma Redenção operada pelo sacrifício do Deus transcendente encarnado, e completada pelos padecimentos dos fiéis. Tal remédio vem da evolução, da técnica e do progresso. Na concepção do homem desalienado, não há mais razão de ser para as mortificações, algum tanto masoquistas, que a Igreja “constantiniana” promovia. A Igreja-Nova convida a uma vida voltada inteiramente para a felicidade terrena. A Redenção-progresso não tem como objetivo levar os homens para um céu extraterreno, mas transformar a terra em um céu.”
  • https://www.pliniocorreadeoliveira.info/1969_220_221_CAT_IDOC_Grupos_Profeticos.htm#.YeCZDf7MKMo

Continuaremos no próximo Post.

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