Formação: por que decaiu a Idade Média?

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Na sequência dos artigos de formação, o Prof. Plinio analisa as causas da decadência da Idade Média.

5. É Processiva

A. Decadência da Idade Média

“Já esboçamos na Introdução os grandes traços deste processo. É oportuno acrescentar aqui alguns pormenores.
“No século XIV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez.

“O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais freqüentes e mais suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas. Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo.

“Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã se torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a conseqüente avidez de lucros se estendem por todas as classes sociais.
“Tal clima moral, penetrando nas esferas intelectuais, produziu claras manifestações de orgulho, como o gosto pelas disputas aparatosas e vazias, pelas argúcias inconsistentes, pelas exibições fátuas de erudição, e lisonjeou velhas tendências filosóficas, das quais triunfara a Escolástica, e que já agora, relaxado o antigo zelo pela integridade da Fé, renasciam em aspectos novos.

“O absolutismo dos legistas, que se engalanavam com um conhecimento vaidoso do Direito Romano, encontrou em Príncipes ambiciosos um eco favorável. E “pari passu” foi-se extinguindo nos grandes e nos pequenos a fibra de outrora para conter o poder real nos legítimos limites vigentes nos dias de São Luís de França e São Fernando de Castela.” (https://www.pliniocorreadeoliveira.info/RCR01.pdf)

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Comentários ao texto: (1)

Uma tranformação de mentalidade

“O primeiro parágrafo diz respeito a uma crise de mentalidade, mas é uma crise de mentalidade ocasionada pela sensualidade; é um clima moral ocasionado pela sensualidade. A segunda parte é ocasionada pelo orgulho. Os efeitos da sensualidade são descritos dessa maneira: – no século XIV, começa a se observar na Europa cristã uma transformação de mentalidade que, ao longo do século XV, cresce cada vez mais no Ocidente.

“Peço para observar que a palavra mentalidade foi posta muito de propósito. Não falei de doutrina, porque a doutrina não é a mesma coisa que mentalidade. Não é isso que quero falar, mas exatamente me refiro a um estado de espírito, a uma mentalidade. Então, uma transformação de mentalidade, que cresce em nitidez. Notem bem o que vai aí afirmado: essa mentalidade nasce de um modo confuso, mas à medida que cresce vai se tornando mais nítida. Essas transformações de mentalidade passam assim por um progresso de nitidez. E é essa uma das regras da processividade.

Quais são os elementos dessa mentalidade:

“1º) Apetite de prazeres terrenos. Esse apetite vai se transformando numa ânsia. Notem que é um apetite consentido que cresce para uma ânsia; e as manifestações da ânsia são mais nítidas do que as do simples apetite.

“2o) Freqüência das diversões, que vão se tornando mais freqüentes, mais suntuosas, mais complicadas. Isto se espraia nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura, na arte, em uma vida cheia de deleites e fantasias dos sentidos. Um pouco mais adiante falamos de sensualidade e moleza; depois, de perecimento de austeridade e seriedade; depois, a mania de tornar tudo risonho, gracioso e festivo; depois, os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício; a Cavalaria se torna amorosa, a literatura se influencia com isto, entra o excesso de luxo e avidez de lucro. Quer dizer, tudo isto concretiza na primeira doutrina, mas é uma mentalidade. A doutrina vem depois.

Clima Moral

“Na parte B, depois de empregar a palavra mentalidade, eu falo em clima moral. Mentalidade e clima moral são coisas muito afins, que quase se completam.

“Entra agora não mais a sensualidade, mas a vaidade: é o orgulho. E o orgulho penetra mais diretamente no campo dos princípios, da doutrina. Então, temos: disputas aparatosas e vazias; exibições fátuas de erudição; velhas tendências filosóficas que renascem. Isto são doutrinas de caráter filosófico e religioso.

“Embaixo vem logo uma doutrina política: é o absolutismo que entra. O absolutismo é muito ligado ao orgulho, porque é a vaidade daqueles legistas de conhecerem Direito Romano, estar a par das coisas de Roma e querer instalá-las, mas é também a vaidade dos reis, que queriam ser monarcas absolutos, dominar etc. Concomitantemente, a extinção, no povo, daquela fibra de resistência de outrora.”

(1) Reunião de formação, 1959.

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