Papa Francisco e a Venezuela – parte 2 – Nota dos bispos da Venezuela e a carta do Papa

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Continuação do post anterior: Papa Francisco e a Venezuela – parte 1

Nota dos bispos da Venezuela e a carta do Papa

Nicolas Maduro dando de presente para o Papa Francisco um retrato do revolucionário Simón Bolívar. Foto tirada em um encontro que tiveram em 2013 no Vaticano

Em 5 de maio de 2017 foi tornada pública uma nota de todos os bispos da Venezuela dizendo: “Rejeitamos a convocatória para a Assembleia Constituinte e exortamos a população em geral a não se resignar, a levantar sua voz de protesto, mas sem cair no jogo daqueles que, gerando violência, querem conduzir o país para cenários de maior confrontação a fim de agravar a situação”[1]. Nesse mesmo dia o Papa lhes enviou uma carta dizendo estar convencido de que “os graves problemas de Venezuela podem ser resolvidos se houver vontade para construir pontes, caso se deseje seriamente dialogar”[2].

Quando a Santa Sé decidiu finalmente publicar um apelo ao governo de Maduro a fim de que suspendesse a convocatória para a Assembleia Constituinte, o jornal Clarín, de Buenos Aires, comentou: “Jorge Bergoglio decidiu romper o silêncio e opor-se à constituinte venezuelana quando já era demasiado tarde. O Papa argentino fez o pior papelão diplomático de seus mais de quatro anos de pontificado, uma gaffe evidenciada pela pressa em querer romper o silêncio sobre o regime venezuelano praticamente com tempo vencido”[3].

Tal era a distonia entre o Papa e os bispos da Venezuela quanto à atitude da Igreja Católica em face do regime chavista e ao impasse criado pelos seus desígnios totalitários, que os seis bispos da cúpula da Conferência Episcopal foram sem prévia convocação ao Vaticano para entregar um relatório sobre a dramática situação do país e explicar ao Papa, em audiência não prevista na agenda pontifícia, que o enfrentamento na Venezuela é “uma luta entre um governo que se converteu numa ditadura […] e um povo que clama por liberdade e busca desesperadamente pão, medicamentos, segurança, trabalho e eleições justas”[4], como relatou o The Economist no artigo intitulado: “Um apelo ao Papa: Deixe de ser mole diante de nosso ditador, dizem a Francisco os bispos da Venezuela[5].

cardeal Jorge Urosa, arcebispo de Caracas: “O diálogo e a cultura do encontro que o Papa Francisco deseja na Venezuela não é possível, porque o governo não ouve razões.”

Mais tarde, após um encontro com o Papa durante sua visita à Colômbia, o cardeal Jorge Urosa, arcebispo de Caracas, declarou à imprensa: “O diálogo e a cultura do encontro que o Papa Francisco deseja na Venezuela não é possível, porque o governo não ouve razões. […] O governo está empenhado em implantar um sistema totalitário, estatista, comunista e não escuta o que dizemos, que esse caminho é um caminho equivocado”[6].

O Wall Street Journal julgou oportuno publicar uma matéria assinada por William McGurn sob o título: “Fale pela Venezuela, Papa Francisco”, na qual afirma que “quando o Papa Francisco quer que sua mensagem chegue àqueles que ele desaprova, nunca lhe faltam as palavras; sobretudo quando se trata dos Estados Unidos. Mas quando se trata da brutalidade do governo venezuelano contra seu próprio povo, tanto o Papa Francisco quanto o Vaticano decidiram, em grande medida, evitar apontar por seu nome Nicolás Maduro” [7].

O jornal El Clarín, de Buenos Aires, publicou um artigo intitulado: “Quando o Papa vai falar da Venezuela? — O silêncio de Francisco é estrepitoso: um silencio que aflige”[8]. Porém, na conferência de imprensa durante seu voo de regresso da Colômbia, perguntado se não seria possível ter uma linguagem mais forte e mais clara em relação ao Presidente Maduro, que afirma estar com o Papa Francisco, este respondeu: “Eu penso que a Santa Sé falou forte e claramente. Aquilo que diz o presidente Maduro, explique-o ele! Eu não sei o que ele tem na sua mente”[9].

A distonia entre o primeiro Papa latino-americano e o povo deste continente patenteou-se, aliás, no referendo de 2 de outubro de 2016 sobre os Acordos de Paz negociados em Cuba pelo presidente Juan Manuel Santos e a guerrilha narcomarxista das FARC. Apesar da forte pressão moral exercida sobre o povo colombiano, à qual não faltou um vídeo — retransmitido como um realejo pelos principais canais de televisão na véspera da votação — do Papa prometendo ir à Colômbia se tais acordos fossem aprovados pela população, a maioria do povo votou contra tais acordos, por julgá-los claramente favoráveis aos guerrilheiros. E o mesmo povo que acolheu com devoção o Vigário de Cristo, não teve nenhuma dúvida em rejeitar as FARC nas eleições parlamentares subsequentes, de modo ainda mais categórico que na época do referendo.

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Ele pode ser lido na integra na pagina: https://ipco.org.br/a-mudanca-de-paradigma/


Notas:

[1] http://ilsismografo.blogspot.fr/2017/05/venezuela-comunicado-de-la-presidencia.html

[2] http://ilsismografo.blogspot.fr/2017/05/vaticano-lettera-di-papa-francesco-ai.html

[3] https://www.clarin.com/mundo/comunicado-vaticano-peor-papelon-diplomatico-pontificado-papa-francisco_0_SysX14zv-.html

[4] http://www.economist.com/blogs/erasmus/2017/06/plea-pope

[5] Ibid.

[6] http://www.eltiempo.com/mundo/venezuela/entrevista-al-arzobispo-de-caracas-sobre-visita-del-papa-a-colombia-y-crisis-en-venezuela-127968

[7] https://www.wsj.com/articles/speak-for-venezuela-pope-francis-1502144547

[8] https://www.clarin.com/opinion/papa-va-hablar-venezuela_0_Sy-1zYa8W.html

[9] http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2017/september/documents/papa-francesco_20170910_viaggioapostolico-colombia-voloritorno.html

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