Catolicismo prepara para a próxima edição uma reportagem especial a propósito das extraordinárias e tocantes cerimônias que cercaram as exéquias da Soberana da Grã-Bretanha, cujo interesse mundial e afluxo de pessoas de todas as idades e condições levam a pensar que ela deixou milhões de órfãos da Beleza e da Ordem neste mundo pardacento e caótico. Mas antecipamos algumas considerações nesta edição.
Fonte: Catolicismo, Nº 862, Outubro/2022
Com o passamento da Rainha Elizabeth II no dia 8 de setembro, uma estrela de primeira grandeza se apagou, deixando este mundo menos luminoso, menos poético, menos majestoso!
Enquanto incontáveis pessoas, instituições, regiões e nações abandonam suas tradições em adesão à Revolução igualitária que contagiou todos os povos, a Rainha simbolizava séculos de maravilhosas tradições nascidas na Idade Média — perpetuadas na Inglaterra, apesar de serem vilipendiadas pelos espíritos vulgares e igualitários. Ela simbolizava essas tradições e delas dava exemplo por sua elegância, requinte, bom gosto, nobreza de alma e senso do dever — valores destilados pela Cristandade. Ela simbolizava os últimos restos de civilização cristã no mundo atual.
Pode-se dizer que, apesar de a Inglaterra ter abandonado Roma, a Igreja Católica não a abandonou, pois todo o luto e a magnificência das cerimônias que assistimos nos funerais da Rainha provêm da Igreja verdadeira. E se o tufão igualitário do Concílio Vaticano II levou de roldão todo o esplendor da Santa Igreja e dilapidou o quanto lhe foi possível sua doutrina, suas instituições e seus fabulosos cerimoniais, Deus, em sua infinita misericórdia, não permitiu que a orfandade fosse total. Ele fez com que o calor do Sol que incidiu sobre uma monarquia outrora católica, permanecesse séculos depois de ela se tornar protestante. E que esse calor aquecesse nos corações despedaçados do nosso século o amor por uma beleza que extasia e nos leva a desejar ainda mais os esplendores do Paraíso Celeste.
Rainha de todos
Com o falecimento da Soberana não foi somente o povo britânico que ficou de luto. Ficaram também os 56 países membros da Commonwealth, as antigas colônias do Império Britânico e grande parte do mundo.
Nesse sentido se pode dizer que Elizabeth Alexandra Mary Windsor não foi Rainha apenas do Reino Unido, mas de todos os países. Pois em todos eles, apesar das lacunas da Monarca, há homens e mulheres que se consideravam seus súditos e, com o final de seu Reinado, ficaram com o coração partido, com uma sensação de orfandade. Eles a veneravam, e inclusive os mais republicanos nutriam alguma admiração por ela, ou pelo menos a respeitavam.
No Brasil a Rainha sempre foi muito querida. Basta ver o carinho e os aplausos com que foi cercada pelas multidões que acorreram à sua passagem quando nos visitou por dez dias em 1968. Um de seus últimos atos oficiais, senão o último, foi uma mensagem de felicitação aos brasileiros pelo Bicentenário da Independência. Aliás, quando decretou o luto oficial de três dias no País, o Presidente Bolsonaro afirmou: “Ela não era apenas a Rainha dos britânicos, mas uma Rainha para todos nós”.
Luto universal
Uma das manifestações de luto universal foi o mar de flores em frente ao Palácio de Buckingham, residência oficial da Rainha. Incontáveis buquês com bilhetes louvando a Monarca e agradecendo sua ação de presença. A imensa maioria das mensagens era naturalmente em inglês, mas podia-se observá-las em todas as línguas faladas no mundo. A abundância de flores foi tal, que elas desapareceram dos mercados londrinos, sendo necessário importá-las urgentemente de outros países. Foi preciso as autoridades pedirem ao povo para não deixar mais flores frente ao Palácio a fim não atravancar o trânsito.
Esse luto universal também ficou evidenciado nas quilométricas filas de pessoas de todas as idades e nacionalidades que, enfrentando o cansaço e o frio, passavam horas inteiras para prestar sua última homenagem a Elizabeth II fazendo uma vênia frente ao féretro no qual jazia seu corpo. Num determinado momento, a fila chegou a nove quilômetros! Calculou-se que quase um milhão de pessoas enfrentou essas filas. Muitos chegaram a esperar 25 horas para conseguir dar seu último adeus à tão querida Rainha.
Repórteres aproveitaram esse momento para gravar depoimentos. Muitas pessoas, chorando a morte da Soberana, diziam coisas análogas: devido a sua avançada idade de 96 anos, esperavam a sua morte, mas esperavam também que tal dia nunca chegasse; outras diziam que ela representava o que ainda havia de maravilhoso no mundo; que era uma rainha legendária; que era graciosa como num conto de fadas; que conseguiu manter a legenda da monarquia; nunca se viu, em nenhuma parte do mundo, tanta gente junta e emocionada para homenagear alguém; vai ser difícil e vai demorar muito tempo para nos acostumarmos com a sua ausência. A Rainha morreu, mas ela não morrerá nunca em nossa lembrança…
Isso que é popularidade!
Com o falecimento da Rainha, a demanda por bandeiras britânicas aumentou exponencialmente. Mais de 500 mil foram confeccionadas em poucos dias. Aproximadamente um milhão de pessoas se postou ao longo do percurso feito no traslado do féretro real. Muitos, para conseguir uma boa visão do último cortejo público, acamparam por alguns dias no local.
Estima-se que mais de quatro bilhões de pessoas nos cinco continentes assistiram pelas TVs ao majestoso funeral. Foi a maior transmissão televisiva já alcançada em toda a história da Grã-Bretanha. A segunda maior foi por ocasião das fantásticas cerimônias do casamento do Príncipe Charles com a Princesa Diana, que contou com mais ou menos dois bilhões e meio de telespectadores.
Pode haver prestígio maior? Que presidente de República alcançaria tal popularidade? Imagine se um deles pudesse ficar 70 anos no poder e terminasse seu mandato com quase 90% de popularidade…
Extremamente popular e admirada, a Rainha foi um monumento de simpatia, de dignidade, de realeza, de esplendor; solene e pontual como o Big-Ben, foi a mulher mais célebre de nosso século. Uma razão a mais para que os movimentos feministas a venerassem, e não, pelo contrário, a odiassem — justamente devido à Revolução igualitária acima mencionada.
Em fevereiro último, a Monarca comemorou seu jubileu de platina — 70 anos de reinado —, tornando-se a única Soberana a atingir esse feito histórico na Grã-Bretanha; foi a segunda na história mundial, pois Luís XIV, o Rei Sol, reinou na França por 72 anos. Ao longo das sete décadas de reinado, ela viu passar sete papas, 16 primeiros-ministros britânicos, 14 presidentes americanos, 18 presidentes brasileiros…
Aliança de Deus com a Inglaterra?
Logo que veio a público a dolorosa notícia da morte da Rainha, muitas pessoas se aglomeraram nas proximidades do Palácio de Windsor, onde puderam contemplar um belíssimo arco-íris — símbolo da aliança de Deus com os homens. O mesmo ocorreu no Palácio de Buckingham, o qual foi ‘visitado’ por um arco-íris duplo. Dir-se-ia que até a natureza quis dar assim seu adeus à Rainha…
Teria sido um sinal enviado por Deus significando sua aliança com a Inglaterra? Um sinal de que a nação britânica retornará à Igreja Católica?
Devido ao seu glorioso passado católico, a Inglaterra mereceu ser chamada de “Ilha dos Santos”, entre os quais podemos citar, a título de exemplo, aquele que ganhou o epíteto de “o mais inglês dos santos”, São Thomas Morus (1478–1535), Lord High Chancellor of England na época do desregrado rei Henrique VIII.
Supliquemos-lhe que, com todos os santos britânicos — através da mediação de Nossa Senhora Rainha do Universo —, obtenham de Deus a pronta vinda do radioso dia em que a Inglaterra voltará a ser inteiramente católica, apostólica, romana.
Deus Salve a Rainha!
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Catolicismo, Cristandade, Inglaterra, Monarquia, Nobreza, Rainha Elizabeth II