A Revolução – com “R” maiúsculo – é um processo multissecular que tem por objetivo a destruição da civilização cristã. Ela teve início no final da Idade Média e sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade, como está magistralmente descrito no livro Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
A sensualidade avançou de maneira sutil, quase imperceptível, durante muito tempo, até desembocar no desbragamento moral de nossos dias, com o amor livre, as uniões homossexuais, o aborto, as modas e os costumes imorais.
“O orgulhoso – afirma o Prof. Plinio – odeia genericamente todas as autoridades e todos os jugos, e mais ainda o próprio princípio de autoridade, considerado em abstrato. E porque odeia toda autoridade, odeia também toda superioridade, de qualquer ordem que seja. E nisto tudo há um verdadeiro ódio a Deus”.
O orgulho gerou o protestantismo – revolta contra a autoridade papal –, denominado pelo Prof. Plinio de I Revolução. Em 1789 eclodiu a Revolução Francesa – II Revolução –, simétrica à primeira. Ela transpôs para o campo civil os mesmos erros do protestantismo, ou seja, revolta contra a monarquia e a aristocracia e exaltação da democracia como a única forma legítima de governo. No início do século XX tivemos a III Revolução – o comunismo –, que foi a revolta do proletariado contra a burguesia, pois uma vez abatidas na sociedade ocidental e cristã as desigualdades religiosas e civis pelas duas primeiras revoluções, não restara senão a desigualdade de fortunas.
A Revolução odeia a família
A Revolução quer a “abolição dos corpos intermediários entre os indivíduos e o Estado, bem como dos privilégios que são elementos inerentes a cada corpo social. Por mais que a Revolução odeie o absolutismo régio, odeia mais ainda os corpos intermediários e a monarquia orgânica medieval. (…) Entre os grupos intermediários a serem abolidos, ocupa o primeiro lugar a família. Enquanto não consegue extingui-la, a Revolução procura reduzi-la, mutilá-la e vilipendiá-la de todos os modos”[i] (grifo nosso).
Como a família ocupa o primeiro lugar dos grupos intermediários a serem destruídos pela Revolução, compreendemos todo o seu esforço para a implantação da ideologia de gênero.
Neste sentido, uma declaração da Suprema Corte do México, em 2015, deixou transparecer toda a agressividade e fúria dessa ideologia em seu método para destruir a família.
Segundo o site LifeSiteNews de 15 de junho de 2015, o Supremo Tribunal de Justiça do México declarou inconstitucional qualquer lei que reconheça o casamento apenas como entre um homem e uma mulher: “Qualquer lei estadual que considere que o propósito do casamento é procriação e/ou que o define como sendo celebrado entre um homem e uma mulher, é inconstitucional”, diz a declaração.
De acordo com as decisões daquela Corte, é “discriminatório” vincular “os requisitos do casamento às preferências sexuais”, pois isso “exclui injustificadamente os casais homossexuais – que estão em condições semelhantes aos casais heterossexuais – do casamento”.
A reação da Igreja
O bispo de Nuevo Laredo, Dom Gustavo Rodríguez Vega (foto ao lado), reagiu energicamente a essa declaração, e juntamente com o clero de sua diocese, emitiu uma nota assegurando que preferia ir à prisão a ser obrigado a celebrar as uniões homossexuais.
“Eles não podem exigir que uma instituição como essa seja contrária aos seus princípios”, afirma a nota, que foi divulgada em noticiários locais e nacionais. “Deixe a Suprema Corte enviar os bispos e os sacerdotes para a prisão, quem quiser, mas a Igreja não pode ir contra a Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo”, dizia a nota.
E continua: “Nós sabemos que podemos ir à prisão, se alguns casais decidirem se casar civilmente, mas não vamos dar a bênção. Esta lei não pode obrigar a Igreja, a qual não pode ir contra seus princípios e, de fato, os únicos que virão para a Igreja serão aqueles que compartilham os nossos princípios.”
O clero da diocese afirmou que sua posição é “baseada em razões científicas, antropológicas, sociais e religiosas”, as quais provam que o casamento é entre “um homem e uma mulher”. Ainda segundo a nota, a decisão da Suprema Corte de criar um “casamento” homossexual é uma “separação das águas, e o mundo inteiro não vai concordar e a Igreja não está de acordo com esta definição”.
Perseguição religiosa
Temos inúmeros outros casos de implantação draconiana da ideologia de gênero no Ocidente. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma cartorária de Morehead, no estado de Kentucky, foi presa por se recusar a lavrar uma escritura de “união” entre duas pessoas do mesmo sexo.[ii] Ainda nesse país, os donos de uma confeitaria tiveram que pagar uma exorbitante multa por se recusarem a fazer um bolo para festa de “união” entre duas lésbicas.[iii] Ambos os casos invocaram princípios religiosos para as suas recusas.
Também por motivos religiosos, um casal foi preso na Alemanha porque a filha não participou de aulas de educação sexual. Por sua vez, na Noruega, um casal teve seus cinco filhos sequestrados pelo Estado por “excesso de doutrinação cristã”, como alegaram os agentes do governo daquele país.[iv]
Assim, a ideologia de gênero está sendo draconianamente imposta através de decisões da Suprema Corte de cada país, sem base nas respectivas legislações. É, aliás, o único modo de impingi-la à população, que rejeitaria em bloco qualquer tentativa nesse sentido que partisse do Parlamento, cujos membros são eleitos pelo voto popular. Os juízes, pelo contrário, não precisam desse voto e, como declarou com cinismo um magistrado brasileiro, não devem satisfação ao público. Trata-se de uma verdadeira ditatura judicial.
Apogeu e crise do comunismo
A destruição da família, como deseja a ideologia de gênero, é propriamente a consequência natural do processo revolucionário. Para entendê-lo, cumpre analisar como esse processo continua, apesar da decadência do comunismo. Decadência que seria na aparência uma vitória da civilização cristã. Mas, infelizmente, não é o que está acontecendo. Vejamos:
A Revolução caminha de etapa em etapa. Assim, a III Revolução gerou a IV, que vai nascendo. “Nascendo, sim, à maneira de requinte matricida. Quando a II Revolução nasceu, requintou, venceu e golpeou de morte a primeira. O mesmo ocorreu quando, por processo análogo, a III Revolução brotou da segunda. Tudo indica ter chegado agora para a III Revolução o momento, ao mesmo tempo pinacular e fatal, em que ela gera a IV Revolução, e por esta se expõe a ser morta.” – comenta Dr. Plínio.[v]
Ideologia de gênero e tribalismo
A derrocada do comunismo – III Revolução –, vítima da própria hipertrofia do Estado totalitário, “vai dando origem a um estado de coisas cientifista e cooperativista, no qual – dizem os comunistas – o homem terá alcançado em grau de liberdade, de igualdade e de fraternidade até aqui insuspeitável”.
Consequentemente, teríamos uma sociedade tribal. A revolução hippie da Sorbonne, em maio de l968, e o festival de Woodstock, nos Estados Unidos, em agosto de 1969, são exemplos desse tipo de sociedade, com a explosão da sensualidade, do amor libre e das drogas.
Na sociedade tribal o homem já não pensa, e a coesão dos membros é assegurada por um pensar e sentir do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. O pensamento humano será reduzido a nada “com o ‘Pensamento selvagem’, um pensamento que não pensa, mas que se volta apenas para o concreto”, dirigido por um “guru”, como acontece, por exemplo, com a moda que é ditada por um personagem carismático e misterioso. Muitos seguem a moda de uma forma irracional, sem saber de onde ela partiu e por que a seguem.
A consequência disso pode ser “uma sociedade coletivista tribal, onde ao pajé incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de ‘mensagens’ confusas, mas ricas dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos mundos da transpsicologia ou da parapsicologia. É pela aquisição dessas ‘riquezas’ que o homem compensaria a atrofia da razão.”[vi]
Compreende-se, pois, que numa sociedade assim não haverá família. O igualitarismo terá atingido o seu ápice, desaparecendo todas as desigualdades, até mesmo entre os sexos. A ideologia de gênero, neste sentido, parece ser a ponta-de-lança da Revolução.
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[i] RCR – Parte I, Capitulo I, 3A
[ii]https://ipco.org.br/ipco/kim-davis-presa-obedecer-lei-deus/
[iii] https://ipco.org.br/ipco/a-intolerancia-dos-tolerantes/#.WVcLXojyvIU
[iv] https://ipco.org.br/ipco/a-ideologia-de-genero-e-contra-os-termos-pai-e-mae/
[v] RCR – Parte III, Capítulo III -A Quarta Revolução que nasce
[vi] RCR – Parte III, Capítulo IV Revolução e tribalismo: uma eventualidade
[…] [3] https://ipco.org.br/ideologia-de-genero-familia-e-igualitarismo/#.WeC6YGhSzIU […]
Ponderação coerente com os apontamentos em “Guerra Oculta” http://documentos.morula.com.mx/wp-content/uploads/2014/02/La-Guerra-Oculta.pdf
O grande trunfo dessa revolução é justamente a lentidão com que ocorre. Desta forma, as pessoas são levadas ao abismo sem se darem conta, tal qual o gado que é levado ao abatedouro. E uma das faces da revolução cultural é seu contrassenso, sua contradição. Ora, não são os “robôs moderninhos politicamente corretos” que sempre repetem o “mantra” da “diversidade”? Não é esta uma das “palavras da moda”? Pois onde está a tão reverenciada “diversidade” se a Igreja, por exemplo, não pode se manter fiel a seus princípios? Todos tem que pensar e agir exatamente da mesma forma em relação a um assunto, como no caso do “casamento” gay, por exemplo? Cadê a “diversidade”? É óbvio que essa “palavrinha mágica” é apenas um embuste para implantar uma ditadura de opinião e de inversão de valores. Ou seja, só vale para a “diversidade” deles.