- Carlos Vitor Santos Valiense
Loreto – Itália, palco de uma das mais grandiosas maravilhas da história, o traslado milagroso da Santa Casa onde a Santíssima Virgem recebeu o anúncio do Anjo São Gabriel e disse o Fiat, perpetuado pelo belíssimo santuário [foto acima] ali erguido para custodiar tão grande tesouro.
No dia 25 de março último, festa da Anunciação de Nossa Senhora, em visita a esse Santuário, o Papa Francisco ao cumprimentar os fiéis, enquanto a maior autoridade religiosa do mundo, fazia questão de puxar abruptamente a mão no momento em que os fiéis se inclinavam para beijar seu “anel do pescador”.[foto abaixo]
À primeira vista, tal gesto poderia parecer insignificante e sem relevância para muitas pessoas, mas bem analisado, quer nos parecer denso de significado, pois resume o que a mídia vem creditando com o eufemismo de revolução da ternura às palavras e aos gestos do Papa Francisco desde a sua subida ao trono pontifício.
Artigo publicado no “Aleteia”, um dos maiores sites de notícias católicas, comenta o gesto papal em Loreto: “Francisco é um papa de gestos e cultiva a mensagem de uma Igreja pobre para os pobres, de portas abertas […]. Em todo o seu pontificado vem buscando relacionar palavras e gestos”.
E continua a matéria do “Aleteia”: “Portanto, é justo considerar que um Papa que denuncia o clericalismo e o servilismo do catolicismo de salão não aceite que lhe beijem a mão e que o reverenciem como um monarca. E também insista em que as pessoas o olhem de frente, e não se rebaixem diante dele”.
Para este site, o Papa Francisco convive com o poder, mas sem se perder nele, razão pela qual ele retira a mão quando os fiéis tentam beijá-la, pois considera o gesto um rebaixamento de uma pessoa a outra. O que ele faz é buscar uma sintonia e alinhamento do olhar com seu interlocutor.1
A quebra da hierarquia entre a Igreja docente e discente coloca o fiel no mesmo patamar do sacerdote, num verdadeiro alinhamento sem monarca, sem reverência, sem hierarquia, ou seja, de modo igualitário. Tal audácia revolucionária visa substituir os valores herdados da civilização cristã por uma utopia igualitária.
Além de antinatural e igualmente gnóstico, o igualitarismo combina elementos de mística, sincretismo religioso e especulações filosóficas, professados por heréticas seitas dos primeiros séculos da era cristã — todas condenadas pela Igreja.
A convocação do Sínodo extraordinário sobre a Amazônia teria obedecido a um pedido feito pelas Conferências Episcopais da América Latina ao Papa Francisco, prontamente atendido, e com data fixada para ser realizado no próximo mês de outubro em Roma.
Os preparativos para esta assembleia de bispos vêm ocorrendo em encontros não apenas de bispos, de especialistas e estudiosos, incluindo cardeais, como a recente reunião ocorrida nos dias 20, 21 e 22 de março na Georgetown University (Estados Unidos), onde numa reunião com 125 participantes encontravam-se nada menos de 12 cardeais de distintas partes do mundo.
Pelo que já se tornou público, será colocado em discussão todo o trabalho dos povos colonizadores e dos abnegados missionários, pois “lamentavelmente ainda hoje existem restos do projeto colonizador que criou manifestações de inferiorização e demonização das culturas indígenas. Processos semelhantes continuam-se alastrando sobre estes habitantes, hoje vítimas de um novo colonialismo feroz com máscara de progresso”.2
Essa inversão de valores desmerecendo o trabalho colonizador e missionário de outrora foi tratada por Plinio Corrêa de Oliveira em 1992, por ocasião de um pronunciamento sobre os 500 anos do Descobrimento da América, no qual afirmou:
“O europeu chegou aqui e firmou o seu poderio sobre a natureza, fazendo progredir todo o gênero humano com os frutos da América. Ele deu, assim, uma colaboração grandiosa para o desenvolvimento da Humanidade e, portanto, para a reta marcha da História em direção às finalidades que Deus estipulou ao homem”.
E prosseguiu: “Para os adeptos da Teologia da Libertação ou da ecologia, pelo contrário, a obra dos descobridores e colonizadores foi funesta. Segundo a doutrina da Teologia da Libertação, muito vizinha, nesse ponto, da ecologia, o homem é quem deve estar a serviço da natureza”.
Mais adiante, o Prof. Plinio que “Segundo essa concepção eco-teológica, chega-se à conclusão de que o estado selvagem é o estado ideal para o homem. Enquanto, segundo a doutrina católica, o estado perfeito para ele é o de ser civilizado”.
Vê-se dentro dessa concepção que os índios, uma vez civilizados, foram prejudicados. “A partir daí — concluem os eco-teólogos — é claro que a América não deveria ter sido descoberta, que ela nada lucrou em ter sido descoberta por europeus, e que estes erraram querendo adaptar àquela civilização as maravilhas do Novo Mundo. O que constitui uma aberração3.
Na verdade, este processo colonizador não teve somente o intuito de explorar novas terras em benefício das nações desbravadoras, ou mesmo particulares, mas também de conquistar as almas daqueles que até então não conheciam a verdadeira Fé.
Pagãos, canibais, nômades, cada tribo vivia conforme os seus instintos pagãos, e a assim chamada liberdade que usufruíam não passava de cadeias que os aprisionavam na ignorância, ao cultuar o deus sol, o deus lua, o deus rio, o deus mar, no canibalismo etc.
Contudo, os teólogos dos excluídos, os teólogos do povo, veem os indígenas no interior da casa que Deus criou e lhes deu como presente: a Terra. Suas espiritualidades e crenças os motivam a viver uma comunhão com a terra, com a água, com as árvores, com os animais, com o dia e com a noite.
Os velhos, segundo as diferentes culturas chamados de pajés, curandeiros, mestres ou xamãs — entre outros — promoveriam a harmonia das pessoas entre si e com o cosmo. Todos eles são “memória viva da missão que Deus confiou a todos: cuidar da Casa Comum” (Fr.PM).4
Na Igreja Católica, as almas batizadas recebem a vida sobrenatural da graça e participam do Corpo Místico de Cristo. Para os seguidores dessa “teologia” sem deus, todos esses tesouros não valem nada, pois representam formas civilizadas de amar a Deus.
Com efeito, a religião dos índios sendo natural, segundo eles, pura, basta-lhes inteiramente. Essa depreciação do sobrenatural em relação ao natural e da Religião de Jesus Cristo em relação ao paganismo indígena, importa em heresia e blasfêmia.5
Entre os objetivos do Sínodo está o de propor novos ministérios e serviços para os diferentes agentes de pastoral que responderão pelas tarefas e responsabilidades da comunidade. Nessa perspectiva, será preciso identificar o tipo de ministério oficial que poderá ser conferido à mulher, levando em conta o papel central que hoje elas desempenham na Igreja amazônica.6
Sabemos que, na Santa Igreja, as mulheres não podem pertencer à Hierarquia, nem à de Ordem, nem à de Jurisdição. Que diria São Paulo se ouvisse falar dessa incorporação de mulheres na Hierarquia, de “sacerdócio feminino”, pois ele escreveu a Timóteo e aos Coríntios recomendando a submissão da mulher, obedientes a seus maridos.
Isto posto, é fácil compreender como contraria o espírito da Igreja e a índole da legislação eclesiástica o exercício de um poder de natureza hierárquica por mulheres.7
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Notas:
- https://pt.aleteia.org/2019/03/26/por-que-o-papa-nao-gosta-que-beijem-seu-anel/
- https://www.cimi.org.br/wp-content/uploads/2018/06/Documento-Preparatorio-e-Questionario_Sinodo-Pan-Amazonico.pdf
- Catolicismo, N° 503, Novembro/1992, pp. 11-12.
- https://www.cimi.org.br/wp-content/uploads/2018/06/Documento-Preparatorio-e-Questionario_Sinodo-Pan-Amazonico.pdf
- Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, Plinio Corrêa de Oliveira.
- http://cnbbsul3.org.br/wp-content/uploads/2018/08/Livro-Si%CC%81nodo-Amazonia-novos-caminhoa.pdf
- https://www.pliniocorreadeoliveira.info/EmDefesadaA%C3%A7%C3%A3oCat%C3%B3lica_R_04_2011.pdf