Macri, Dilma e política externa

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    Macri-Mauricio

    1. As declarações do presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri [foto], a respeito da falta de liberdades fundamentais na Venezuela e sobre a necessidade de uma posição firme do Mercosul em relação ao regime venezuelano, não foram bem recebidas pela presidente Dilma Rousseff, nem pelo Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores; assim como por aquele que representa uma espécie de ministro paralelo do governo petista, o pró-castrista e assessor presidencial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.

    2. Com efeito, mesmo não tendo sido mencionada a Sra. Rousseff nas declarações de Macri, suas palavras deixaram em evidencia o silêncio sistemático da presidente e da diplomacia brasileira sobre o drama venezuelano.

    3. O assassinato de um líder da oposição venezuelana durante recente manifestação contra o governo bolivariano alguns dias antes das eleições parlamentares, foi um novo elemento de pressão sobre o insustentável silêncio do governo brasileiro. Assim, Dilma viu-se obrigada a mandar Marco Aurelio Garcia a Caracas levando uma carta ao presidente Maduro, na qual manifesta preocupação com o clima de violência que antecede o pleito e pede garantias eleitorais.

    4. Outra causa de desconforto da presidente Dilma com o presidente eleito da Argentina é a disposição de Mauricio Macri de que a Argentina e o Mercosul se aproximem de seus aliados naturais, a Europa e os Estados Unidos, e se distancie do Irã, da China e dos governos esquerdistas da região.

    5. À anterior constatação sobre a vulnerabilidade da política externa favorecedora da esquerda por parte do governo brasileiro soma-se outra vulnerabilidade de caráter interno: o governo Dilma Rousseff encontra-se praticamente paralisado devido aos escândalos de corrupção que continuam surgindo todos os dias. Tais noticias de corrupção atingem especialmente a presidência e o PT; mas também afetam os governos esquerdistas da América Latina e o mito da incorruptibilidade com o qual galgaram o poder em vários países da região.

    6. Neste momento, o presidente eleito da Argentina tem em suas mãos a oportunidade de influenciar numa mudança de rumo na política externa, não apenas na Argentina, mas em toda a América Latina. As próximas eleições venezuelanas, em 6 de dezembro; a cúpula do Mercosul, que será realizada na capital paraguaia em 21 de dezembro; e a violação institucional dos direitos humanos em Cuba, são três testes decisivos para ver se a mudança de rumo se consolida ou se dissipa.

    7. A opinião pública latino-americana deveria acompanhar atentamente o desenvolvimento da nova política externa argentina com um atinado espírito crítico e, ao mesmo tempo, com grande cautela. A análise realista deve prevalecer sobre o otimismo e pessimismo exagerados — ambos obnubilam uma crítica lúcida. Por fim, ninguém sabe com certeza qual é a autenticidade anti-esquerdista do presidente eleito Mauricio Macri, um líder projetado em laboratórios argentinos de marketing. O espírito crítico é saudavelmente desconfiado e um requisito indispensável para se analisar a consistência e coerência do presidente eleito da nação vizinha. O mesmo poder-se-ia dizer sobre alguns líderes políticos que estão despontando em varias nações latino-americanas, apresentados como centristas e até mesmo como novos direitistas.

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    (*) Notas de “Destaque Internacional”, 29 de novembro de 2015. Responsável: Javier Gonzalez. Este texto — traduzido do original espanhol por Paulo R. Campos — pode ser divulgado livremente.

    1 COMENTÁRIO

    1. Sobre o item 7, quando o autor diz “Por fim, ninguém sabe com certeza qual é a autenticidade anti-esquerdista do presidente eleito Mauricio Macri, um líder projetado em laboratórios argentinos de marketing”, creio que tenho uma resposta bastante esclarecedora num artigo que escrevi dias atrás em meu blog, cujo título é “Mauricio Macri, forte aliado do homossexualismo militante”. Eis o link:

      http://altodagoiabeira.blogspot.com.br/2015/11/mauricio-macri-forte-aliado-do.html

      Se tivermos que “rotular politicamente” o sr. Macri, creio que ele está muito mais próximo dos “Libertarians”, que, em termos anti-esquerdismo, são uma piada, ou seja, defendem a liberdade total em termos econômicos, mas também em termos morais, o que, no fim das contas, ajuda sobremaneira a agenda comunista.

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