Na sequencia de nossa meditação, a respeito dos erros do comunismo, veremos hoje o importante aspecto das relações da Igreja com os Países Comunistas. Transcrevemos trechos de A Liberdade da Igreja no Estado Comunista, do Prof. Plinio — obra traduzida em inúmeros idiomas e distribuída aos Padres Conciliares — a finalidade claramente é mostrar que não é possível a coexistência pacífica católico-comunista.
“À vista dessa mudança no procedimento das autoridades comunistas de alguns países, abrem-se para a Igreja duas vias: aceitar um acordo com o regime comunista, ou recusá-lo, permanecendo na clandestinidade. A escolha entre essas duas vias depende da solução do seguinte problema moral: é lícito aos católicos aceitar relações harmoniosas com um regime comunista?
Mudado assim em alguma medida o procedimento das autoridades comunistas, nos referidos países se abrem agora para a Igreja Católica duas vias:
a) Deixar a existência clandestina e de catacumba que tinha até aqui atrás da cortina de ferro, e passar a viver à luz do dia, coexistindo com o regime comunista em um “modus vivendi” tácito ou explícito;
b) ou recusar qualquer “modus vivendi” e conservar-se na clandestinidade.
Escolher entre estas vias é a questão tática muito complexa que se põe no momento atual para a consciência de numerosos católicos. Dizemos “para a consciência” porque a decisão, nessa encruzilhada, está na dependência da solução que se dê ao seguinte problema moral: é lícito aos católicos aceitar um “modus vivendi” com um regime comunista? É este problema que, como dissemos, o presente artigo pretende estudar.
III – Importância do problema na ordem concreta
Esta mudança tática do comunismo em relação à Religião vem trazendo para a causa comunista um benefício imenso: a opinião dos meios católicos, que outrora constituía um muro intransponível para a propaganda comunista, se dividiu quanto à orientação a seguir. Rompeu-se
assim o maior dique de oposição ideológica ao comunismo.
A ruptura é obra imediata dos chamados católicos de esquerda, ou progressistas.
Antes de entrar no mérito do problema, digamos algo sobre sua importância concreta. A importância desse problema para as nações sob regime comunista é óbvia.
Parece-nos necessário dizer algo sobre o alcance dele nos países do Ocidente. E isto particularmente no que toca aos planos de penetração do imperialismo ideológico nesses países.
O temor de que, no caso de uma vitória mundial dos comunistas, a Igreja venha a ficar por toda parte sujeita aos horrores que sofreu no México, na Espanha, na Rússia, na Hungria ou na China, constitui a causa principal da deliberação dos 500 milhões de católicos espalhados pelo mundo, Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e leigos, de resistir até à morte contra o comunismo. Também é esta, com relação às respectivas religiões, a principal causa da atitude anticomunista de centenas de milhões de pessoas que professam outros credos.
Essa deliberação heróica representa, na ordem dos fatores psicológicos, o obstáculo maior – ou talvez até o único ponderável – a que o comunismo venha a se instaurar e manter-se em todo o orbe.
Quaisquer que sejam os motivos táticos que determinem a aludida mudança de atitude de alguns governos comunistas em relação aos vários cultos, o fato é que a tolerância religiosa que atualmente praticam, e que sua propaganda anuncia de modo exagerado a todo o mundo, já lhes vem trazendo um benefício enorme: em face da alternativa que ela cria, as opiniões dos meios religiosos se vêm dividindo quanto à orientação a seguir, e com isto se vai rompendo o dique de oposição maciça e “à outrance” contra o comunismo, mantido à uma pelos homens que crêem em Deus e Lhe prestam culto.
Com efeito, o problema da fixação de uma atitude dos católicos, e dos sequazes de outros credos, em face da nova política religiosa de certos governos comunistas, vem dando lugar a perplexidades, a divisões e até a polêmicas. Segundo o seu nível de fervor, seu otimismo ou sua desconfiança, muitos católicos continuam a achar que a luta “à outrance” permanece a única atitude coerente e sensata perante o comunismo; mas outros pensam que mais valeria aceitar desde logo, e sem maior resistência, uma situação como a da Polônia, do que lutar até o fim contra a penetração comunista e cair na situação tão mais opressiva em que está a Hungria.
Além disso, parece a estes últimos que uma aceitação do regime comunista – ou quase comunista – pelos povos ainda livres poderia evitar a tragédia cósmica de uma guerra nuclear. A única razão que os levaria a aceitar com resignação o risco de uma tal hecatombe, seria o dever de lutar para evitar para a Igreja uma perseguição mundial com amplitude sem precedentes e intuito radicalmente exterminador. Mas, uma vez que esse perigo talvez não se ponha – pois se tolera em certos países comunistas que a Igreja sobreviva, embora reduzida a uma liberdade mínima – a disposição de enfrentar o perigo da guerra atômica diminuiu muito. E ganha terreno entre tais católicos a idéia de se estabelecer por toda parte, e em escala quase mundial, um “modus vivendi” – à maneira polonesa – entre a Igreja e o comunismo, aceito como um mal, mas um mal menor.
Entre estas duas correntes, começa a se formar uma imensa maioria desorientada, indecisa e, por isto mesmo, menos preparada psicologicamente para a luta do que estava até há pouco.
Se este fenômeno de debilitação na atitude anticomunista se produz em pessoas inteiramente infensas ao marxismo, quão natural é que seja mais intenso nos chamados católicos de esquerda, cada vez mais numerosos, os quais, sem professar o materialismo e o ateísmo, simpatizam com os aspectos econômicos e sociais do comunismo!
Em síntese, em todos ou quase todos os países não sujeitos ainda ao jugo marxista, milhões de católicos, que ainda ontem morreriam de bom grado em exércitos regulares ou em guerrilhas, para evitar a implantação do comunismo em suas pátrias, ou para o derrubar caso tivesse chegado a conquistar o poder, já hoje não sentem igual disposição. Na hipótese de uma crise de pânico – por exemplo, um “suspense” na iminência de uma guerra nuclear universal – este fenômeno poderá acentuar-se ainda mais, levando eventualmente nações inteiras a capitulações catastróficas ante as potências comunistas.
Tudo isto põe em relevo toda a importância de se estudarem quanto antes, em seus vários aspectos, as questões morais inerentes à encruzilhada em que a conduta de relativa tolerância religiosa de alguns governos comunistas coloca a consciência de milhões e milhões de homens em nossos dias.
É lícito afirmar que da solução deste problema depende em parte considerável o futuro do mundo.”
Acesse gratuitamente: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ALIEC_1974_bucko.htm
Os Papas condenaram reiteradamente a seita marxista desde o Papa Pio IX. Consulte nossos artigos https://ipco.org.br/o-papa-pio-xii-condenou-a-colaboracao-com-o-comunismo/