A alma feminina é um manancial de graça, delicadeza e sensibilidade, que enriquece a vida moral e social da humanidade com valores espirituais que o homem está longe de poder dar-lhe. O equilíbrio do gênero humano exige mulheres com o feitio mental rico em todos os dons próprios ao seu sexo, como exige homens de alma profundamente varonil. Seria absurdo educar uma geração de meninos do modo mais efeminado possível. Não menos seria educar uma geração de meninas com a intenção de as fazer tão másculas quanto possível.
Esta verdade trivial, certa pedagogia de nossos dias parece esquecê-la inteiramente. E, em lugar de formar meninas para o papel que naturalmente terão na vida social, forma-as precisamente como um menino destinado a arcar de futuro com o peso e as responsabilidades próprias ao homem.
Nosso clichê dá disto um exemplo. Trata-se de um quarto de brinquedo para menina. Embutido na parede algo que lembra uma pedra de contorno rude e irregular, na qual estão algumas figuras pseudo-infantis, na realidade tão parecidas quanto possível com as figuras de arte do homem primitivo. Dir-se-ia um pedaço de caverna pré-histórica aproveitado para criar ambiente – o ambiente que lhe é próprio, já se vê – no pequeno mundo em que esta criança deve formar sua alma.
Ao lado, uma diversão do gênero das que as crianças da era das cavernas hão de ter tido quando conseguiram sair de seu antro para brincar um pouco: trepar numa árvore. Aí está um tronco seco, ao longo do qual a menina pode subir e descer quanto quiser. Junto ao tronco, uma tábua com grandes furos assimétricos para variar a diversão: a menina pode enroscar-se pelos furos, se achar que o sobe-desce pelo tronco está monótono. E como terceira diversão a menina pode atirar-se ao chão, felizmente substituído, no caso (a própria pedagogia moderna ainda é um tanto burguesa), por um colchão. Outra diversão que uma menina pré-histórica apreciaria! Do ambiente da selva primitivo, só falta neste quarto o ar livre, o sol, as estrelas, aqui substituídas por lâmpadas elétricas. Um céu elétrico, para formar a sensibilidade de uma menina da era atômica, não é demais.
De tudo aquilo que não deve faltar numa atmosfera destinada a formar meninas – harmonia, flores, pássaros – só se nota uma pomba desenhada ao alto na parede, hirta, dura, fria, como se fosse de arame.
Que mundo nos prepara uma tal pedagogia?
Publicado originalmente em “Catolicismo” Nº 27 – Março de 1953 na seção “Ambiente, Costumes, Civilizações”
“Que mundo nos prepara uma tal pedagogia?” Eu acredito que é o mesmo mundo onde as meninas e mulheres buscaram aprender a arte marcial com o propósito de auto defesa da violência que sofriam enquanto desprotegidas dentro de casa ou mundo afora. Eu sou um exemplo disso, e querendo ou não, é nítido ver que as mulheres se tornaram pouco femininas ao aprender as artes marciais, pois vivemos num tempo onde nem o ser mais belo e mais frágil do mundo (um recém-nascido) é protegido pelas mãos humanas. Então, não vejo com maus olhos preparar e ensinar crianças de ambos os sexos um pouco de desafios para quando adultos estiverem preparados para enfrentar. Como mulher eu não espero que um homem apareça para me proteger quando eu precisar de proteção, pois sei que não acontecerá, como nem sempre aconteceu quando eu precisei. Seria ótimo, mas eu falo de uma realidade nua e crua da qual há muita gente que já viu, passou ou experimentou. É claro que sou a favor que toda criança tenha o direito de ser criança e ter brincadeiras saudáveis. Mas desde pequenos, toda criança pode aprender a arte da disciplina, regras e desafios. Isso não vale só para meninos. Isso vale para todos, pois isso ajuda a desenvolver a astúcia e inteligência. Precisamos de homens e mulheres tenham um desenvolvimento emocional para saber formar uma família, e um desenvolvimento prático e fortalecido para quando tiver de enfrentar desafios (principalmente quando o pai de família vai para a guerra defender os seus, a mãe estará firme e forte protegendo os seus na ausência do protetor).