1º Turno
Quem no domingo 25 de outubro foi procurar na Internet os números das eleições gerais argentinas no horário anunciado pelo tribunal eleitoral platino, teve uma decepção.
Teve que suportar uma longa espera de quase seis horas para além do prazo previsto. Já na alta madrugada, os inevitáveis vazamentos enunciavam a causa: a derrota do governo nacionalista bolivariano de Cristina Kirchner havia sido muito maior do que todos imaginavam.
E o governo aguardava dados de circunscrições eleitorais longínquas, a priori compradas com os programas sociais tipo as Bolsas brasileiras, para maquiar o desastre.
O discurso do candidato kirchnerista Daniel Scioli no estádio coberto Luna Park passou uma imagem desoladora de derrota. Noticias parciais transmitidas de boca em boca chegadas de diversos bairros do Grande Buenos Aires confirmavam a sensação de fim de uma era.
A grande nota dominante nos eleitores não foi a simpatia por este ou aquele candidato. Mas, o desejo como que incontido de por fim a uma era de atropelo e desmandos.
A abstenção fora muito baixa e – como se comprovou depois – os quase dois milhões de votantes a mais compareceram às urnas para dizer: qualquer coisa, mas que esses peronistas vão embora!
O mal-estar com a prepotência populista e as irregularidades para nas eleições estaduais na província de Tucumán revoltou a um número muito elevado de cidadãos.
Esses se apresentaram como observadores do processo eleitoral, direito concedido pela lei. Foi necessário fazer cursos para formar esse grande número de controladores.
O efeito foi que o “índice de fraude” (sic!) caiu de um estimado 15% a 3%!
E quando os primeiros dados surgiram nas telas da rede, simplesmente não pareciam dignos de crédito. O oposicionista Mauricio Macri aparecia na frente. Dados de províncias remotas acabaram dando uma estreita maioria ao candidato governista, muito abaixo do aguardado.
Na província [equivalente a um estado] de Buenos Aires [por volta de 40% do padrão eleitoral], o candidato oficialista havia sido batido por uma candidata oposicionista bisonha.
Grandes cidades como Mar del Plata, Bahia Blanca e La Plata, além da Grande Buenos Aires haviam sido perdidas pelo governo populista.
Na Câmara dos Deputados, o populismo havia perdido a maioria [o Senado não entrava na disputa]. Logo viu-se o deprimente espetáculo de os deputados de outros partidos da “base aliada” trocarem desavergonhadamente de camiseta partidária em previsão da nova hegemonia.
Desde então cada dia trazia degradantes imagens que pode gerar uma democracia deturpada. Altos responsáveis do antigo sistema fugindo com os computadores que registravam o que tinham feito em suas gestões. Caminhões carregados com mobília que pertencia ao Estado saiam das dependências de governo sem rumo conhecido.
Uma chuva de portarias, medidas provisórias e outras figuras legais ou administrativas elevando ordenados desmesuradamente, contratando centenas de amigos para cargos públicos, nomeações de juízes, e até a criação de uma categoria deles [logo anulada pela Suprema Corte de Justiça] integrada por amigos do sistema, e visando fornecer cobertura futura nas investigações dos desvios de dinheiro, incêndio suspeito dos arquivos da Justiça na província de Santa Cruz onde correm processos de corrupção de personagens da família da presidente, etc.
Os candidatos oposicionistas não precisaram fazer muito esforço para reunir eleitores. Eles tinham pouca influência sobre os votantes. E esses só queriam uma coisa: acabar com uma era negra de socialismo e atropelo. A convergência na pessoa do único oposicionista que ficou na corrida se fez espontaneamente.
Por fim, no último debate público entre os candidatos oposicionista Maurício Macri e o oficialista Daniel Scioli, embora nenhum dos dois se tenha destacado pela profundidade das propostas, o primeiro mostrou uma desenvoltura de ganhador e o segundo uma agressividade de mal perdedor que depôs fortemente contra sua imagem.
Para a Folha de S. Paulo, 09.11.15, a “eleição na Argentina pode reforçar recuo da esquerda latino-americana” e o país pode estar prenunciando um movimento “antibolivarianista” do continente.
Que o resultado obtido no 2º turno pela cadeira presidencial da Argentina confirme essa apreciação! Mas, não achemos que os problemas terão terminado para o país vizinho.
Que os efeitos positivos se façam sentir no Brasil!
O PROBLEMA É CONSEGUIR GOVERNAR
No momento estou cético quanto ao Sr. Macri, prefiro esperar as sua ações. Estas sim irão mostrar que ele realmente é. A Argentina tem um longo histórico de peronismo. precisamos ter cautela.