Na aparência, Nosso Senhor Jesus Cristo na sepultura Se apresentava como o grande derrotado. Quem seria capaz de imaginar que depois de tantos milagres, como a transformação da água em vinho, da ressurreição de mortos, da multiplicação de pães e peixes, da pesca miraculosa, da cura de cego de nascença, além do poder que possuía sobre os demônios e a natureza, Ele terminaria a sua vida de maneira tão trágica?
A multidão que se aproximava para ver, ouvir e tocar o Divino Salvador, encontrava-se silenciosa diante de seu Corpo sem vida no Santo Sepulcro, sob a guarda de soldados. Mas Jesus jazia ali como triunfador glorioso, impondo terror aos seus inimigos, pois mesmo apesar de morto, aniquilado e derrotado, precisava ser vigiado como inimigo perigoso, tendo o seu sepulcro sido lacrado com o selo imperial de Roma e provido de guardas.
Por que tanto temor diante de um morto? Ainda havia pouco o Mestre de Nazaré lembrara aos seus inimigos que se eles derrubassem o Templo em três dias Ele o reedificaria… Na verdade, falava de seu próprio corpo mortal. Elucida-o a figura de Jonas em relação a Cristo, pois tendo passado no ventre da baleia três dias e três noites, simbolizou o Filho de Deus no ventre da terra por três dias, quando ressurgiu dos mortos.
Depois que Cristo Nosso Senhor dormiu o sono da morte no alto da Cruz, na Sexta-feira Santa às três horas da tarde, foi sepultado logo depois com ajuda dos seus discípulos José de Arimateia, Nicodemos e São João Evangelista, além de algumas destemidas mulheres que estavam aos pés da cruz. Com a devida permissão para O retirar da Cruz, seu Corpo foi sepultado num jardim próximo dali.
Mas ao terceiro dia, pela madrugada, sua alma santíssima uniu-se ao corpo que estivera morto. Para entender o mistério da Ressurreição, recorremos a uma comparação simbólica. Ao lançar o semeador a semente na terra, para que dela surja nova vida, é imperativo que morra. Assim aconteceu com Cristo que, colocado no sepulcro, resplandeceu como luz ao terceiro dia, o que prova a sua divindade.
A aurora, que é o desdobramento do próprio sol que ela anuncia, desponta para que o dia recomece. Assim, glorioso e refulgente, vitorioso da morte e do mundo, Cristo ressurge nesse dia com o seu próprio poder e virtude; dia glorioso, que passou para a História como primeiro da semana e, portanto, consagrado a Deus, porque Jesus Cristo selou sua missão divina de Homem-Deus. Como Vítima adorável, sacrificou-se pelos homens para redimi-los e lhes abrir as portas do Céu.
Ele funda depois a sua Igreja e A enriquece com os tesouros divinos da salvação. Sua maneira de ressurgir foi própria, pois que “não está nas leis da natureza, nem homem algum teve jamais o poder de passar da morte à vida por própria virtude. Isto cabe ao poder de Deus, como se depreende das palavras do Apóstolo: ‘Embora fosse crucificado na fraqueza, vive, todavia, pelo poder de Deus’” (II Cor. 13, 4 e Catecismo Romano de Trento).
Por ser Homem-Deus, a divindade nunca se separou do corpo nem da alma. De onde estavam postas as condições para que Cristo ressurgisse dos mortos por virtude própria. Por força da união hipostática – pela qual a divindade e a humanidade estão unidas tão estreitamente à pessoa do Verbo numa só pessoa – ao ser homem não deixou de ser Deus, Senhor da vida e da morte.
“Cristo ressurgiu dos mortos, como dos que dormem; porquanto por um homem veio a morte, assim também por um Homem veio a ressurreição dos mortos. E como todos sofrem a morte em Adão, assim todos terão vida em Cristo. Cada qual, porém, conforme sua ordem. Cristo como primeiro de todos, em seguida os que pertencem a Cristo” (Romanos, 6, 9). Nossa Senhora, pela missão que ocupa como Mãe e Corredentora, ao contemplar Cristo Morto e sepultado, é o modelo exímio da Fé, do espírito de Fé e do senso católico.
Hoje, as possibilidades de ressurreição plena de todas as coisas segundo a Lei e a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo parecem tão irremediavelmente sepultadas quanto aos apóstolos parecia irremediavelmente sepultado Nosso Senhor Jesus Cristo no seu sepulcro. Os verdadeiros devotos de Nossa Senhora recebem d’Ela, entretanto, o inestimável dom do senso católico, sabendo que tudo é possível, e que a aparente inviabilidade dos mais ousados e extremados sonhos apostólicos não impedirá uma verdadeira ressurreição de todas as coisas.
Nossa Senhora nos ensina a perseverança na Fé, no senso católico, na virtude do apostolado destemido, mesmo quando parece tudo perdido. A ressurreição virá logo, porque tem a promessa de Nossa Senhora de Fátima, do triunfo do Imaculado Coração de Maria (cfr. Via Sacra de Plinio Corrêa de Oliveira, O Legionário).
*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira – RJ