Reproduzimos artigo do Prof. Plinio publicado no Legionário (1939) — Pro Maria fiant maxima! — anunciando o projeto de construção da nova basílica de Aparecida. Prestamos aqui nossa homenagem à Rainha e Padroeira do Brasil.
O Instituto esteve presente em Aparecida, nesse domingo, dia 10, a fim manifestar à Nossa Senhora Aparecida a devoção filial que anima seus membros.
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“É um fato ao mesmo tempo curioso e edificante na vida da Igreja que, sendo esta depositária das verdades teológicas as mais altas e complexas, a massa dos fiéis, servida, entretanto, por uma especial acuidade de visão, penetra e vive estas verdades ainda mesmo quando seu nível cultural pareceria vedar-lhe o acesso a qualquer atividade intelectual de ordem superior.
“Em tudo que se relaciona com a devoção a Nossa Senhora, esta observação se comprova com toda a clareza. Em dois artigos anteriores (De Grignion de Monfort e Grignion de Monfort (II)), expus sucintamente a doutrina espiritual do Bem-aventurado Grignion de Montfort (*) a respeito da verdadeira devoção a Nossa Senhora, e procurei mostrar aos leitores todo o vigor e toda a profundeza dos argumentos em que a Santa Igreja alicerça sua doutrina marial.
Ação do Espírito Santo nas almas
“Como os leitores tiveram ocasião de ver, doutrina marial e a devoção a Nossa Senhora, se tem crescido constantemente, desenvolvendo-se, porém, não à moda de hipérboles afetivas e meramente literárias que se vão ultrapassando umas às outras, mas como uma torre de raciocínios, firme como o granito, à qual cada geração de teólogos acrescenta mais alguns andares solidamente esteados no esforço diligente desenvolvido pela razão a fim de descobrir todo o alcance e extensão das verdades reveladas. Entretanto, é tocante observar como a piedade popular, ignorando muitas vezes os argumentos da Teologia sagrada, e deixando-se guiar em grande parte pela finura de sua sensibilidade, desce até o âmago profundo das verdades teológicas ensinadas pela Igreja e sabe viver tais verdades com uma autenticidade de convicções e de sentimentos que se não poderia explicar sem a ação do Espírito Santo.
“Grignion de Montfort mostra que as grandes verdades da maternidade sobrenatural de Nossa Senhora em relação aos homens e de sua mediação universal são corroboradas pela extensão do culto a Nossa Senhora em todas as regiões do globo. Realmente, não há um único povo que não se afirme particularmente amado por Nossa Senhora, e isto com plena razão, porque é próprio do coração materno, por mais numerosos que sejam os filhos, dedicar a cada qual um amor especial, baseado em títulos particulares. Não há um povo que não tenha ao menos um grande Santuário nacional erigido em honra de Maria Santíssima, no qual a Rainha do Céu faça chover sobre os homens, com abundância, as graças espirituais e temporais. Mais ainda, em cada região há uma Igreja ou Capela particularmente venerada pelos fiéis, e em cada Igreja ou Capela há ao menos uma imagem de Nossa Senhora. E esta regra se aplica sem exceção às mais variadas nações do globo, desde a Polônia até a jungle africana, e desde o Brasil até a China.
Universalidade e espontaneidade da devoção marial
“Qual a razão da universalidade absoluta deste culto, universalidade esta que, se bem que rigorosamente conforme ao ensinamento da Igreja, se distingue pela singular espontaneidade das manifestações através das quais se exprime? A Igreja nunca mandou que cada povo erigisse um Santuário particularmente dedicado a Nossa Senhora, com foros de Santuário nacional, nem que em cada Igreja Nossa Senhora tivesse um altar próprio. Jamais uma autoridade eclesiástica se lembrou de obrigar os fiéis a prestar a Nossa Senhora todos e cada um dos atos de piedade com que Ela é venerada. A Igreja se limitou a definir as verdades mariais e, na maioria dos casos, a piedade espontaneamente entusiástica da massa dos fiéis tem seguido seu curso, de tal forma que se pode sustentar que quase todas as festas de Nossa Senhora e quase todas as formas de piedade com que Ela é honrada nasceram na massa dos fiéis espontaneamente ou por meio de revelações particulares, sendo posteriormente sancionadas pela Igreja.
“Por que tudo isto? Porque a piedade popular sente viva e profundamente que Nossa Senhora é, na realidade, a Mãe de todos os homens, e especialmente aos que vivem no aprisco da Igreja de Deus. E sente, ainda, que a mediação de Nossa Senhora é a porta segura, direta, certa, para se ter acesso junto ao Trono do Criador.
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“Fazendo estas reflexões, lembro-me invencivelmente de Aparecida do Norte, e das impressões profundas que tenho colhido sempre que ali vou rezar aos pés de Nossa Senhora.
Em Aparecida Nossa Senhora fala às almas
“Onde, no Brasil inteiro, um lugar para o qual, com tanta e tão invencível constância, se voltam os olhos de todos os brasileiros? Qual a palavra que tem entre nós o dom de abrir mais facilmente os corações? Qual a evocação que mais ardentemente do que a Aparecida nos fala de toda a sensibilidade brasileira retificada em seu curso e nobilitada em seus fins sobrenaturais? Quem, ao ouvir falar em Nossa Senhora Aparecida, pode não se lembrar das súplicas abrasadoras de mães que rezam por seus filhos, doentes, de famílias que choram no desamparo e na miséria o bem-estar perdido e se voltam para o Trono da Rainha da clemência, de lares trincados pela infidelidade, de corações ulcerados pelo abandono e pela incompreensão de almas que vagueiam pelo reino do erro à procura do esplendor meridiano da Verdade, de espíritos transviados pelas veredas do vício, que procuram entre prantos o Caminho, de almas mortas para a vida da graça, e que querem encontrar nas trevas de seu desamparo as fontes de uma nova Vida?
“Onde se pode sentir de modo mais vivo o calor ardente das súplicas lancinantes, e a alegria magnífica das ações de graças triunfais? Onde, com mais precisão, se pode auscultar o coração brasileiro que chora, que sofre, que implora, que vence pela prece, que se rejubila e que agradece, do que na Aparecida? E sobretudo, onde é mais visível a ação de Deus na constante distribuição das graças, do que na vila feliz, que a Providência constituiu feudo da Rainha do Céu?
“Nada, no ambiente de Aparecida, impressiona a imaginação pela grandeza das linhas arquitetônicas ou pela riqueza do acabamento. Mas o ar está tão saturado de eflúvios de prece e de orvalhos de graça, que qualquer pessoa sente perfeitamente que Aparecida foi designada, pela Providência, para ser a capital espiritual do país.
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A construção da nova basílica
“A esta capital, entretanto, muita coisa falta. E quem vai a Aparecida sente perfeitamente que paira sobre o lugar um grande anelo coletivo, uma grande aspiração anônima, por uma obra de construção e de Fé que exprima e traduza na ordem das realidades naturais e sensíveis todas as realidades sobrenaturais e insensíveis de que o ambiente está saturado.
“A maternidade de Maria e a onipotência de Sua mediação universal precisam ser promulgadas em mármore e bronze, depois de terem sido proclamadas com lágrimas, com preces e com sorrisos de gratidão, pelo Brasil inteiro.
“A futura Basílica deve ser como aqueles documentos de bronze dos tempos antigos, em que se gravavam para a posteridade fatos, leis ou nomes já imortalizados na memória dos povos. A consagração afetiva não basta: ela tem no interior de sua essência uma força que o leva a se exteriorizar em monumentos de arte e de Fé.
(…)
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“Este monumento se fará, volente Deo, tendo como condição de sucesso a persuasão firme e tranquila de que não se trata de uma grande obra a se realizar de modo amesquinhado graças à exiguidade dos recursos e do tempo. Os anos poderão correr, assistindo ao desenvolvimento lento e prudente da obra. Nem por isso, entretanto, ela se fará menor, ou deixará de se fazer.
“E se ela exceder os limites da existência desta geração, uma coisa ao menos se poderá dizer: que o Brasil teve a glória de, exceção honrosa em um século frívolo e imediatista, argamassar com o fator tempo um monumento que por isto mesmo o tempo não destruirá.”
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Nada mais oportuno do que essas palavras do Prof. Plinio aplicadas a 2021: as dilacerações familiares aumentaram; a crise de Fé, os problemas morais, o aborto e a agenda lgbt, a ideologia de gênero. E, sobretudo, a crise na Santa Igreja.
Nossa Senhora Aparecida rogue por todos nós.
(*) Nessa época ainda não elevado à honra dos altares.