Nuvem radioativa chegou da Rússia, mas Moscou nega

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Premido pelas eleições, Putin nega tudo

O Ocidente teme mais um tremendo acidente nuclear na Rússia. Mais exatamente em Mayak, uma instalação que está no coração do programa nuclear russo, comentou o “New York Times”. 

E não é o primeiro no local. Em 1957, 60 anos atrás, ali aconteceu um dos piores acidentes da era nuclear. Mas foi afogado no segredo de Estado a ponto que os moradores vitimados adoeciam ou morriam sem saber por que.

Naquela vez, por volta de 272.000 pessoas ficaram submetidas à radiação. Taisia A. Fomina, acabava de nascer contou o jornal de Nova York. Os pais não foram informados, ela foi irradiada enquanto dormia, ficou cega e sua mãe morreu três dias depois.

Agora, autoridades em radiação da França e da Alemanha identificaram na região sul dos Urais, no próprio local de Mayak, o provável ponto de partida da nuvem contaminada com o isótopo radioativo rutênio 106 que soprou sobre a Europa.

O rutênio 106 é produzido em usinas nucleares e não é perigoso demais, porque tem uma “vida” curta: 373 dias.

A nuvem radioativa veio da região da usina de Mayak

Para as autoridades alemãs nada está claro. Para as francesas só está claro que a nuvem provém de algum local perto de Mayak a 1.600 quilômetros ao leste de Moscou.

As autoridades francesas dizem que se a ocorrência tivesse acontecido na França teriam sido tomadas precauções. Precisamente o que a Rússia não fez.

As autoridades da região de Chelyabinsk, onde está a planta, garantem que os testes recomendados pela Rosatom, agência do governo, deram tudo azul.

A imprensa ligada do regime, como a agência RIA, Sputnik e Russia Today garantem que está “tudo dentro das normas”.

Mas a agência responsável de monitorar a radiação na Rússia falou o contrário: denunciou níveis “extremamente altos” de rutênio 106 perto de Mayak.

Frank N. von Hippel, físico em Princeton, EUA, diz que o fato pode ser perturbador para Putin que está tentando a reeleição. Então “foi imposto o silencio no local”.

O serviço de imprensa da estatal Rosatom não responde aos apelos da imprensa.

As águas do Lago Karachay contaminado em 1957 matariam um banhista numa hora

Rashid R. Alimov, pesquisador da Greenpeace, disse ser espantoso que o governo russo recuse informação sobre um fato que pode ter imprevisíveis consequências na saúde de uma população numerosa.

Stepan Kalmykov, professor de química na Universidade de Moscou declarou que embora a ocorrência tal vez seja limitada, ela causa pavor, porque “ninguém mais pode garantir que havendo um acidente mais sério ou perigoso, ele será advertido”. E tampouco se pode saber se não está acontecendo ou pode acontecer algo pior.

O governo russo nega tudo, ainda quando a agência meteorológica Rosguidromet noticia que concentrações “extremamente elevadas” de rutênio-106 foram detectadas nas estacoes de Arguaiach e de Novogorny excedendo 986 vezes os registros anteriores.

Cartaz afasta visitantes da cidade de Ozersk, na região de Chelyabinsk, onde fica central nuclear de Mayak

Mas a suspeita central de Mayak garante que as doses registradas são “20.000 vezes inferiores à dose anual admissível”.

O Instituto de Radioproteção e de Segurança Nuclear (IRSN) francês confirmou a procedência e estimou que a fonte da poluição não é um reator nuclear.

A causa poderia ser atribuída a uma má manipulação de combustível nuclear ou a um defeito no fabrico de elementos radioativos, informou a agencia AFP. 

Após o desastre de Chernobyl em 1986, a nova Constituição russa proibiu o segredo de informação sobre problemas ambientais.

Mas no regime de Putin, lei escrita é puro papel manchado de tinta.

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