O agro exporta coisas inimagináveis

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Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. Além de gergelim para o México; sêmen bubalino para o Panamá; gengibre, algodão e sementes para o Egito

EVARISTO DE MIRANDA

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-164/o-agro-exporta-coisas-inimaginaveis/

Muita gente sabe: o Brasil é o maior exportador mundial de soja, açúcar, suco de laranja, café, carne bovina e de frango. Pouca gente sabe: as exportações agropecuárias não dependem apenas de comodities. Desde 2019, o país abriu mercados para mais de 200 novos produtos agropecuários em dezenas de países. E ninguém duvide: a concorrência internacional é acirrada e joga duro com o Brasil.

Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. A exportação de limões e limas, da ordem de US$ 125 milhões/ano, representa cerca de 10% do comércio internacional de frutas frescas do Brasil. Também houve acordo com os chilenos sobre os requisitos fitossanitários para exportar mamão fresco. Hoje, os principais destinos do mamão são Portugal, Espanha, Holanda, Reino Unido, Argentina e Itália.

O Brasil exporta maçãs para a Colômbia, Honduras, Nicarágua e outros países como a Índia, principal importador. A manga é a fruta mais exportada, cerca de US$ 248 milhões/ano e 20% do total na exportação de frutas. Seguem os melões, com US$ 165 milhões e 14% de participação. Nozes e castanhas ganham espaço na diversificação das exportações, com cerca de US$ 150 milhões/ano.

Mangueira em Goiânia, Goiás | Foto: Marcia Cobar/Shutterstock

Essa diversificação das exportações inclui novos mercados e produtos como: gergelim para o México; sêmen bubalino ao Panamá; gengibre, algodão e sementes ao Egito. Em 2022, o mel, um produto de baixo volume exportado, com pouco mais de 8 mil toneladas, chegou aos EUA, Alemanha, Canadá, Austrália, Bélgica, Reino Unido, Holanda, Panamá, China e Dinamarca.

Nos mercados abertos, a proteína animal tem destaque: gelatina bovina para a Malásia; carne suína e bovina ao México; carne de aves para a Polinésia Francesa; bovinos vivos a Argélia e Turquia; mucosa intestinal para o Chile; carnes bovina e suína ao Canadá; cortes suínos para a Coreia do Sul; genética, embriões e bovinos para o Iêmen, o Senegal e o Vietnã; ovos férteis, aves de um dia e embriões bovinos e bubalinos para Angola. Recentemente, foram aprovados os produtos de 11 plantas frigoríficas para a Indonésia e de quatro novas plantas para exportar carne bovina à China. E 183 mil cabeças de gado vivo foram para o exterior em 2022.

O protocolo para exportação de proteína processada de aves e suínos (farinha de carne, ossos, sangue, penas etc.), utilizada na fabricação de ração para animais, também foi aprovado com a China. Em abril passado, 63 indústrias de reciclagem animal receberam autorização para exportar proteína processada não comestível de aves e suínos, para uso na alimentação animal à China. Em maio, foi aprovada a exportação de subprodutos de origem animal (farinha de proteínas, sangue e gorduras de aves, suínos e bovinos) para alimentação animal na África do Sul, cuja negociação iniciara em 2017.

Granja em Bastos, São Paulo | Foto: Celio Messias/Shutterstock

A Argentina é o país com o maior número de novos mercados abertos recentemente para os produtos brasileiros: cerca de 30. Além de embriões de equinos congelados e aditivos à alimentação animal com componente lácteo, o país sul-americano passou a importar do Brasil pênis bovino. O vergalho ou pênis bovino serve de petisco desidratado mastigável a cães e gatos. Tem baixo teor de colesterol, é resistente e auxilia na limpeza de dentes e gengivas em animais domésticos. 

Essas aberturas para subprodutos de origem animal permitem diversificar e aumentar oportunidades aos produtores brasileiros. A mucosa intestinal dos suínos, por exemplo, é usada para obtenção da heparina, um anticoagulante usado na profilaxia, prevenção e tratamentos das tromboses. Essas matérias primas devem ser oriundas de animais nascidos e criados no Brasil em áreas livres de Febre Aftosa, Peste Suína Clássica, Peste Suína Africana, Doença Vesicular Suína e Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, abatidos em estabelecimentos oficialmente aprovados.

Fazenda de porcos em Itabuna, Bahia | Foto: Joa Souza/Shutterstock

Todo novo mercado dessa natureza envolve negociação bilateral. Elas definem os parâmetros de sanidade animal, os certificados sanitários, fitossanitários, veterinários e até adequações na produção em função de costumes sociais e religiosos dos países destinatários.

É o caso das carnes halal exportadas a países muçulmanosHalal significa permitido, lícito, autorizado pela Lei Islâmica (Shariah). No Brasil, o certificado Halal é concedido principalmente pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e por organizações certificadoras como a Fambras Halal. Se o sistema de produção afetou a saúde, o solo, comprometeu recursos naturais ou utilizou mão de obra infantil, não pode receber o certificado Halal. O Brasil é hoje o maior exportador mundial de proteína halal e referência nesse mercado. O mercado halal global está estimado em mais de US$ 3 trilhões, essencialmente nos 58 países de maioria muçulmana.

Na África, açúcar, soja, trigo, milho e carnes representam 87% das importações do Brasil. Arroz, feijão, farinha de milho e amendoim também são importados. Dos 54 países da África, 38 importam produtos brasileiros, inclusive genética animal, máquinas e equipamentos agrícolas.

O Brasil, com 8% da produção total mundial, é o segundo maior exportador de grãos do mundo (19%). Globalmente, a China é o maior parceiro comercial do agronegócio: quase 32% das vendas externas do setor. As principais aquisições são soja em grão, carnes (bovina, suína e de frango), celulose, açúcar e algodão. Do outro lado, existe um número crescente de países adquirindo grãos do Brasil. Na soja, Irã, Vietnã, Espanha, Japão, Tailândia e Turquia importam quantidades significativas. No trigo, o crescimento da produção nacional refletiu-se nas exportações do cereal. Além da China, a Arábia Saudita, o Marrocos, o Sudão e o Egito são destinos das exportações do trigo brasileiro. Em 2021, os países árabes importaram 240 mil toneladas de trigo. Em 2022, o volume ultrapassou 1 milhão de toneladas.

Plantação de trigo no Paraná, Brasil | Foto: Alf Ribeiro/Shutterstock

Europa e Estados Unidos representaram 16% e 7% das exportações do agronegócio brasileiro em 2022. Os 27 países da Zona do Euro adquirem produtos florestais, café, frutas e suco de laranja. Por outro lado, como nos grãos, os dados globais das vendas externas do agro apontam para 38% do total adquirido por um grupo de mais de 180 países com pequena participação individual. Juntos, eles cresceram sua relevância em 2022.

A agropecuária nacional busca diversificar os destinos e as exportações brasileiras para reduzir a concentração da pauta exportadora em produtos e países. Aberturas de mercados são sempre resultado de negociações bilaterais. Elas resultam em acordos sobre os parâmetros de sanidade e os certificados correspondentes, sanitário, fitossanitário ou veterinário.

Desde janeiro de 2019, o governo brasileiro abriu mais de 200 novos mercados para produtos da agropecuária brasileira. No total, mais 50 países passaram a receber alimentos e tecnologia em um comércio cada vez mais globalizado do agronegócio. Abrir mercado não significa exportação imediata. Apenas os trâmites legais já estão acertados. Até chegar aos embarques é preciso preparar produtores e exportadores, atender às demandas de cada novo cliente, desenvolver a promoção comercial etc.

Foto: Shutterstock

A ampliação da pauta de exportações de produtos agropecuários reforça a participação brasileira na segurança alimentar do planeta e mantém a balança comercial brasileira superavitária com o restante do mundo. Sem o agro, o saldo seria negativo. O Brasil gastaria mais com importação e ganharia menos com exportação. Quando isso ocorre, o país fica sem dólares, sem divisas. Tem dificuldades em importar bens como vacinas, medicamentos, equipamentos e até alimentos. É a crise atual da Argentina.

Graças ao agronegócio, o saldo positivo da balança comercial brasileira não para de crescer. Em 2000, o agronegócio exportou US$ 20 bilhões. Em 2022, apresentou um recorde histórico de US$ 160 bilhões. O índice de preços dos produtos exportados pelo agronegócio cresceu 22,1%, relativo a 2021. E o volume embarcado, 8,1%. As vendas externas do agronegócio representaram 47,6% do total exportado pelo Brasil em 2022. Alta de 32% em relação a 2021. E um superávit comercial da ordem de US$ 60 bilhões.

Foto: Shutterstock

A entrada líquida de divisas ou de moeda estrangeira permitiu ao Brasil ampliar importações em outros setores da economia, sem pressão sobre o valor do câmbio. Houve até uma valorização do real diante do dólar, da ordem de 13%, apesar da disputa e das eleições presidenciais no Brasil.

As cooperativas são um dos caminhos para pequenos e médios produtores participarem da diversificação das exportações. Elas já respondem por quase 10% das exportações do agro. Convênio celebrado em 2022 entre o Sistema OCB e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) capacitará 50 cooperativas com potencial de exportação nas áreas de cafés especiais, frutas frescas, lácteos, meles e proteína animal.

Um paradoxo para as exportações do agronegócio nacional ocorreu, em março, durante evento em Pequim, na China. O novo presidente da Apex, Jorge Viana, relacionou problemas ambientais com a produção de grãos e a pecuária no Brasil (sic). Viana afirmou: “É preciso reconhecer que o Brasil tem problemas ambientais”. Até buscou números para impor uma relação entre o agronegócio brasileiro e a destruição da Floresta Amazônica. Ele opôs-se ao otimismo do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na véspera, cuja intervenção fora bem adequada. A manifestação repercutiu mais aqui do que lá. Parece. Os produtos brasileiros exportados são a imagem do país no exterior. Mais uma vez: é preciso buscar convergências e a paz na terra pelos homens de boa vontade.

Jorge Viana, novo presidente da Apex | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

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