Pe. Anderson Alves
Roma, 15 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) – A pergunta que colocamos aqui deve ser bem entendida: não perguntamos se os ateus são racionais, coisa que seria absurda; nem mesmo perguntamos se os ateus são inferiores aos teístas, ou se a crença em Deus “não necessariamente torna uma pessoa melhor”, como apareceu numa recente pesquisa no Brasil[1]. O que questionamos agora é se o ateísmo, enquanto sistema de pensamento seja coerente. Mais precisamente, nos perguntamos se é sensato afirmar a não existência de Deus e contemporaneamente o relativismo. Poderia ser verdade que não haja nenhuma verdade e, ao mesmo tempo, ser verdade que Deus não existe?
Talvez haja quem pense que a questão aqui proposta seja absurda. E pode vir à mente do leitor a recordação do jovem Ivan, personagem de Irmãos Karamázov, que defendia que se Deus e as religiões não existissem, tudo passaria a estar permitido. Aquele personagem manifestava assim o desejo de uma liberação: ao livrar-se da crença em Deus, o homem ficaria livre de todo dogmatismo, tanto teórico, quanto moral. A negação de Deus traria o fim da “lei natural” e do dever de amar o mundo e ao próximo. A mesma liberação quis experimentar F. Nietzsche ao declarar a morte de Deus, ou melhor, ao dizer que os homens o haviam assassinado. De modo que para eles a negação ou “morte” de Deus não estaria fundamentada no relativismo, mas seria a origem mesma do relativismo. A afirmação da não existência de Deus seria uma escolha, algo indiscutível e impossível de ser demonstrado a partir de verdades anteriores. E aceitá-lo seria assumir a crença num novo dogma que faria desmoronar todos os demais dogmas. O ateísmo fundaria assim o relativismo na moral e no conhecimento humano.
Embora isso seja claro, é comum pensar que o relativismo funde o ateísmo; que as pessoas que não aceitam Deus, fazem-no porque não querem aceitar a existência da verdade, à qual deveriam se submeter. Isso é um absurdo. O ateísmo parte de uma afirmação que tem valor de verdade absoluta: Deus não existe. Se essa afirmação não fosse tomada pelos ateus como verdade, eles simplesmente deixariam de ser ateus. O relativismo para eles se dá somente nas “verdades” inferiores e todos deveriam se submeter ao imperativo único da nova moral: é proibido estabelecer regras morais.
O interessante é que F. Nietzsche e outros conhecidos filósofos ateus reconheceram que afirmar o relativismo cognoscitivo e o ateísmo é em si mesmo contraditório. O motivo seria que o relativismo implica a afirmação da não existência de verdades absolutas; mas isso se funda, por sua vez, numa verdade absoluta: a não existência de Deus.
Sendo assim, a afirmação da não existência de Deus implica a afirmação da sua existência. Outros pensadores ateus que perceberam bem as contradições do ateísmo contemporâneo foram M. Horkheimer e Th. Adorno. De fato, eles diziam numa obra conjunta, A Dialética do Iluminismo, citando a Nietzsche: «Percebemos “que também os não conhecedores de hoje, nós, ateus e antimetafísicos, alimentamos ainda o nosso fogo no incêndio de uma fé antiga dois milênios, aquela fé cristã que era já a fé de Platão: ser Deus a verdade e a verdade divina”. Sendo assim, a ciência cai na crítica feita à metafísica. A negação de Deus implica em si uma contradição insuperável, enquanto nega o saber mesmo»[2].
Esses autores, ateus e relativistas, que se reconhecem como “não conhecedores e antimetafísicos” alimentam a verdade de sua fé ateia naquela cristã, já presente em Platão: a fé na existência da verdade divina. De modo que só pode afirmar a não existência de Deus, quem aceita que há uma verdade absoluta, divina. Em outras palavras, só pode negar a Deus quem previamente o afirma. Por isso, o ateísmo, ao negar a Deus e a verdade das coisas (que é sempre relativa ao sujeito que a conhece e é progressiva), reinvindica para si mesmo o caráter absoluto, próprio do mesmo Deus[3], estabelecendo assim um novo dogmatismo. Portanto, o ateísmo não existe; nada mais é do que uma espécie de idolatria que consiste no colocar-se a si mesmo e as próprias convicções pessoais, por mais contraditórias que possam ser, no lugar de Deus, o único que garante toda a verdade.
Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.
[1] http://www1.folha.uol.com.br/poder/1206138-tendencia-conservadora-e-forte-no-pais-diz-datafolha.shtml
[2] Cfr. F. NIETZSCHE, La gaia scienza, Mondadori, Milano 1971, p. 197; M. HORKHEIMER e Th.ADORNO, Dialettica dell’illuminismo, Einaudi, Torino 1966, p. 125.
[3] Para a elaboração do presente texto me foram úteis as reflexões presentes em: U. GALEAZZI, Il coraggio della ragione. Tommaso d’Aquino e l’odierno dibatitto filosofico, Armando, Roma 2012, pp. 22-38.
Fonte: http://beta.zenit.org/pt/articles/o-ateismo-e-uma-escolha-racional
Complemento: é impossível falar em coisas criadas sem a ideia lógica de um Criador. E para ser Criador, é evidente que não foi criado, que preexiste e, mais que isso, SEMPRE existiu. Ora, um Ser assim é absoluto, ou seja, totalmente independente de qualquer realidade que não Ele próprio, totalmente independente até do próprio tempo. Todas essas características somente se encaixam em um conceito e, simultaneamente, realidade: DEUS.
@Manoel Ricardo da Rocha Fiuza Caso tenha entendido bem a exposição de Nelson Oliveira ele procura “salvar a cara” dos ateus argumentando que estes negam a existência de Deus por uma questão semântica. Ora, não parece ser essa a intenção dos ateus que justamente a de negar que haja um ser superior criador de todas as coisas, um ser transcendental. As conceituações que dá é toda ela relativista ou seja que o homem
é capaz de conhecer a verdade atravez das coisas criadas, como se um quadro pintado não refletisse algo do pintor. E me parece existir, como ele mesmo escreve tem o sentido de mostrar-se, quer dizer Deus se mostra ou existe.
Repercussão que recebi e repasso.
To: VerdadeOculta@yahoogrupos.com.br
From: nelsonduarteoliveira@gmail.com
Date: Tue, 5 Feb 2013 14:18:50 -0200
Subject: Re: {VerdadeOculta} FW: O ateísmo é uma escolha racional?
Boa postagem Ricardo!!
Entro, com algumas considerações :
Sempre procuro me pautar pela etimologia da palavras, pela hermenêutica e, neste caso, também da exegese.
Bem !!! Qual o significadao da palavra “existir”?
“Existir” vem do Latim EXISTERE/EXSISTERE, “ser, existir, aparecer, emergir, mostrar-se”.
Ou seja: Tudo que faz parte do mundo fenomenal, da matéria (incluído aqui, até a matéria mais refinada), é porque veio à existência.
Ora , se tudo que existe, foi “criado”, não pode ser “Deus” , o seu próprio Criador. Teria que ter uma origem e essa origem, não é a existência mas, como os orientais denominam… seria a “não-existência” (palavra complexa mas é a única que conceitua algo, que esteja fora da Criação ou, antes da Criação.
Então… Deus, não pode existir. Poderia sim, ter sua expressão material como a expressão da natureza, onde a geometria, as nuances, o equilíbrio e o desequilíbrio representariam a manifestação desta Criação.
Esse é o primeiro aspecto.
O segundo aspecto, diz respeito à palavra…”Deus”. A palavra “Deus”, pertence ao panteão Grego. É o “Zeus”, do panteão grego.
Bem !! O Ateu, não acredita em Deus, simplesmente, por uma questão conceitual, Ele não existe, conforme explícito acima. Querer dar uma existência a Deus, seria diminuí-lo à sua criação. A partir do momento que se conceituar algo mais consistente, quem sabe???
Afirmar que a não existênica de “Deus”, é o mesmo que confirmar sua existência, isso é um sofisma ou uma mera falácia.
Não faz o mínimo sentido. Afirmar que não existe, é colocar às claras que até então… não há como comprovar a sua não-existência.
Se eu afirmo que não existem unicórnios, não estou querendo previamente afirmar que eles existem. Estou apenas negando, porque até então , não se comprovou a existência dos mesmos !! Isto é fato !!
Há um erro tremendo em atribuir a um ateu que ele ao negar, esteja afirmando a existência de Deus !!!
Negar, é o oposto de afirmar. Quem afirma sim!!! Este teria que provar a existência mas… como provar algo que está além da própria existência? Aí é que se cai no campo da fé !! Acreditar, mesmo não vendo ou comprovando.
De forma alguma , o ateu traz para si a verdade absoluta da não existência. Apenas , ao estudar as escrituras , não vê como delegar a alguma entidade sobrenatural, aspectos morais e éticos que contrapõe o que é preconizado.
O exemplo de Abraão e o sacrifício de Isack, é bem clássico. Por mais que se tente explicar o suposto “evento”, não há como se fundamentear algum aspecto moral e ético , neste suposto ensinamento.
Basta trazer para si , essa situação, ou seja, se você, ouvisse uma voz que te dissesse para sacrificar seu único filho, o que você faria ???
Com certeza, muitos ouviram ao longo do tempo, essas vozes, porém, não ouviram nenhuma voz , em seguida, mandando sustar a tragédia, posto que , muitos foram presos, e acusados de assassinatos, pura e simplesmente e, se defendiam dizendo que tinham ouvido uma voz os ordenando a tal ato. Imediatamente, diziam… não foi a voz de DEUS que ele ouviu mas foi a voz do demônio !!!
Sim !! e qual o critério para se distinguir entre a voz de um e do outro??
Que aspecto moral , está intrínseco em uma entidade sobrenatural, que conhece sobre tudo, e mesmo assim, resolve colocar à prova, um simples mortal, mandando matar seu próprio filho ?? será que ele esperava que o sujeito fosse se negar a fazê-lo ?? E se o fizesse? Estaria em amor ao seu próprio e único filho, se negando a tamanha barbaridade? O que dizer dos Islâmicos, que matam em nome de Allah?
Voltando ao ateu… não!! realmente, a postagem tentou enquadrar o ateu como alguém que ao negar, acaba afirmando a existência de Deus. É uma falácia ou um sofisma !
O que ela pretendia, era trazer para si, a veracidade do conhecimento religioso e, aos que não o conhecem, a concordância , por falta de argumentos válidos.
O problema, é que nenhum ser humano, pode afirmar com certeza, comprovando, que Deus existe. É impossível !!!
Fé não se prova, assim como sentimento também não.
Mesmo que afirmássemos que a dor da perda de um ente querido , é uma prova de amor … tente ouvir isso de um sociopata !!!!
Ateus não acreditam em unicórnios, assim como não acreditam em ZEUS, que pertence ao Panteão grego !!! Talvez, se acreditasse em ‘YHWH”, conforme a própria Bíblia o denomina , em sua apresentação. Mas não no Zeus do Olimpo !!!
A existência, para eles (os ateus), são múltiplos aspectos da natureza e, nós ainda não conhecemos tudo sobre ela. Imagine , por exemplo, que tipo de vegetação possa haver num distante planeta, a milhares de anos luz, da Terra !!!
Quem sabe não encontraríamos por lá… uma rosa com pétalas de madeira, se nutrindo de fungos cristalizados ??? Se não conhecemos tudo sobre o Universo, como queremos conceituar , definir aquela Força Cósmica, com os dados que temos em nossa mente ??? Eles são insuficientes para isso!!!
Para ele (essa Força ) existir, teria que ter uma origem. Mesmo que concebamos que ela sempre existiu… onde ela “coabitava” antes de toda a Criação????
abrs,
Nelson Oliveira
Achar que se é uma criatura hunana nesta atual sociedade distorcida, corompendo as leis e sua constituição, elegendo bandidos para gerenciar esta nação, onde muitos se alienam com inutilidades cultivando uma idiocracia sem limites é racional?
Texto perfeito, de dar orgulho em Santo Agostinho, um dos maiores pensadores do Ocidente.