O demônio nunca dá o que promete. Como ele é o pai da mentira, este dito popular antigo será sempre atual, pelo menos enquanto o diabo for diabo, ou seja, para sempre. Como sacerdote, tenho testemunhado ao longo dos anos quão árduo tem sido o apostolado, sobretudo nos últimos tempos, pois são tantas lantejoulas a brilhar e tantos pratos de lentilhas a comer!
Em seu livro Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira trata do homem revolucionário, aquele moldado pela Revolução várias vezes secular, que se julga autossuficiente e agnóstico, mas idolatra a ciência e a técnica. Nelas ele espera e crê poder resolver todos os seus problemas, eliminar a dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo aquilo a que chamamos efeito do pecado original.
Não podendo se autoproclamar Deus, o revolucionário afirma que Ele não existe. Nega a redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas vai procurá-la na ciência e na técnica à espera de tempos cada vez melhores, e, quiçá, um dia poder vencer a morte. Com essa vã expectativa ele quer trabalhar cada vez menos e se divertir desbragadamente tanto quanto lhe for possível.
Então, ele faz uma espécie de bloqueio mental para qualquer cogitação sobre a vida sobrenatural, sobre um pensamento no Sagrado Coração de Jesus, fonte de vida e santidade; sobre o Imaculado Coração de Maria, por meio do qual obtemos as graças suficientes e necessárias para nos manter nas vias traçadas por Deus, ou nos reconduzir à verdadeira paz e à reconciliação com Ele por meio da Confissão.
Por outro lado, constato também algo de muito novo, ou seja, um estado de espírito, um sentimento de reação à Revolução igualitária que amadurece e se transforma em ideias, que por sua vez desemboca em ação contra a degringolada moral da sociedade. É de causar regozijo a um espírito reto, e amargura àqueles que não temem a Deus, ver o lado polêmico e ideológico desta reação.
Esta reação profunda na opinião pública, que não se cinge apenas ao Brasil, vem sendo ostentada com galhardia no mais das vezes por pessoas jovens, demonstrando que Deus em sua infinita misericórdia vem em socorro dos homens. Pelas atitudes dos revolucionários diante desta sadia reação, vê-se que ela não é vã, pois se fundamentada em princípios da lei natural e da religião.
Uma coisa é considerar as ideias em tese, outra é avaliá-las de perto, num indivíduo ou num grupo de pessoas, analisar as suas metas, métodos, modos e procedimentos. Costuma-se dizer que o ‘discurso’ da esquerda — religiosa ou não — é bonito, mas não passa de uma utopia. Basta ver o resultado da aplicação dessas ideias esquerdistas e socialistas nos países onde elas foram ou são aplicadas. Só produzem miséria e desolação.
O que foi e vem sendo feito no Brasil tanto nos meios religiosos quanto públicos — no executivo, legislativo e judiciário — não foi pouco. De mãos dadas esses poderes, somados à grande mídia e aos adeptos da teologia da libertação, já pintaram e bordaram a fim de implantar aqui os seus propósitos despóticos, prepotentes e ditatoriais, dilapidatários, subvertendo toda ordem. Infelizmente, não cessaram…
Por que desejam eles, por exemplo, a legalização do aborto, do incesto, da libertinagem, da poligamia, do divórcio, da eutanásia e das piores sem-vergonhices? Por que no campo social e econômico visam sempre a abolição da propriedade privada com a velha política da Reforma Agrária, acrescida de outros ardis recentes como a questão indígena, quilombola e trabalho escravo?
Na verdade, eles não visam o bem comum, mas o caos e a instabilidade em todos os campos da vida social. Com essas iniciativas antinaturais, pretendem regular uma modalidade temperamental difusa, a fim de discriminar os que defendem a família monogâmica e natural estabelecida pelo Criador e assim implantar a libertinagem que acabará o que ainda resta de civilização cristã. Eis a agenda da esquerda.
Contrariando a lei natural, os fautores revolucionários parecem não ter calculado bem os seus passos, e em sua ânsia de destruir a estrutura social vigente avançaram muito depressa, o que causou nas forças vivas do País uma reação ordeira, saudável e eficaz em sentido contrário, provocando como consequência, uma polarização ideológica na opinião pública, por eles tão temida.
Em minha opinião, esta luta se estabeleceu como um bem para a causa católica, pois deixa manifesta a esperança em um futuro melhor para as almas e para o País. Este fenômeno de opinião pública não ocorreu sem a graça divina, que ajudou as almas a conhecer o mal enquanto tal, refletido na falta de piedade e na compreensão da caridade cristã, ou seja da bondade que norteia a vida em sociedade.
Alguém poderia perguntar se eles realmente amam os pobres, que eles propalam defender e dar suas vidas. Acontece que as Escrituras afirmam o contrário, ou seja, os ímpios são impiedosos em relação aos pobres, eles fazem perecer os indigentes da terra, roubam deles, e se servem deles apenas para se enriquecer e tirar vantagens. Portanto, não nos iludamos.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).