Observamos na ilustração o célebre Palácio dos Doges de Veneza que, pelo fato de estar a dois passos do mar, tem um especial encanto.
A cor do palácio é de difícil definição. A meu ver, ela varia um pouco de acordo com a luz do dia, por vezes parecendo de um róseo muito delicado, mas não homogêneo. E nas ogivas góticas percebe-se a cor rósea e branca.
De acordo com a lei da gravidade, o mais pesado deve carregar o que é mais leve. Nesse sentido, seria explicável que tal edifício fosse construído de tal maneira que essa espécie de “caixotão” róseo — é quase um ultraje chamá-lo assim, mas enfim, permitam-me a liberdade de expressão — ornado por ogivas (deliciosamente simétricas, pensativas, calmas, tranqüilas e nobres, parecendo estar elas mesmas contemplando o mar) fosse edificado diretamente sobre o solo; e que as colunas do andar inferior, juntamente com a colunata que toca o solo, fossem colocadas em cima.
Por um contraste interessante, tem-se a impressão de que, construído como foi, o palácio causaria uma sensação de peso medonho, e que a qualquer momento o “caixotão” iria esmagar a colunata.
Entretanto, está calculada com tanta inteligência a distribuição dos corpos e dos volumes do edifício, que ele não causa essa impressão. Pelo contrário, a colunata carrega sem esforço o grande “caixote”. E ele, recusando-se a pousar na terra, é suportado por colunas magníficas, de maneira que por debaixo dele circula o ar. E a arte consiste em apresentar uma primeira série de ogivas muito bonitas; e depois, embaixo, outra linha de arcos. Assim, o palácio parece estar suspenso no ar.
Chamo a atenção para o que há de bem pensado em cada detalhe da fachada. Por exemplo, como ela ficaria monótona se, bem no meio, não houvesse uma porta dando acesso ao terraço; se figurasse ali mais uma ogiva, o palácio tornar-se-ia insuportável; e aquele terraço tem exatamente o tamanho adequado para a porta.
Eis aí alguns elementos para se analisar e contemplar bem, e de modo um tanto leve, uma das maravilhas do Universo: o Palácio dos Doges de Veneza.
(*) Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plinio em 2 de dezembro de 1988. Sem revisão do autor. Fotos: Paulo Roberto Campos.
- Publicado originalmente na Revista Catolicismo, N° 651, Março de 2005
http://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_881202_veneza_palacio_doges.htm#.WdRIt2hSzIX