O pão, o suor e a voz do sangue

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A australiana Gina Rinehart, a mulher mais rica do mundo, possuidora de uma fortuna avaliada em US$ 30 bilhões, critica os “invejosos”: “Se sentem inveja dos que têm mais dinheiro que vocês, não fiquem sentados reclamando. Façam algo para ganhar mais, passem menos tempo bebendo, fumando e brincando, trabalhem mais […] Se transformem em uma dessas pessoas que trabalham duro, investem e constroem e, ao mesmo tempo, criam emprego e oportunidades para os demais“[1], recomenda.

Esse pensamento de uma maneira geral afina-se com o que se encontra nos escritos, inspirados pelo Divino Espírito Santo, do grande São Paulo Apóstolo. Com ênfase, ele diz, levantando uma bandeira que é, ou deve ser, seguida por todos os católicos: ”se alguém não quiser trabalhar, não coma também”. [2]

É impossível ser mais enfático e taxativo! E acrescenta: “ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por Nosso Senhor Jesus Cristo que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão”.

Este crítica pode ser aplicada aos sem-terra, que pouco  produzem nas áreas tomadas pela força, as quais geralmente só lhes servem para construir suas famosas ou famigeradas favelas rurais.

Se é assim, como fica o direito à herança, defendido pela Igreja? O herdeiro não trabalhou para possuir, teve apenas o trabalho de nascer…

No caso da sra. Rinehart, justamente, uma parte da fortuna lhe foi atribuída por seu pai, em herança. Assim, um esquerdista a poderia interpelar: “E o trabalho? Quanto a sra. trabalhou para merecer esta larga fatia? Para isso, a sra. também só teve o trabalho de nascer…”

Não conheço a sra. Gina Rinehart, por isso, não devo tomar sua defesa nem criticá-la. Mas está em causa um direito ‒ o direito de herança ‒ e neste ponto não posso ser omisso. Se é preciso trabalhar, como fica um filho que também não teve outro trabalho que nascer? Que pode receber de seus pais sem trabalhar um modesto legado, ou uma enorme herança?

Diz Dr. Plinio: “À primeira vista, há aqui uma aparência de justiça [em ser contra a herança]. Porque se o que funda a propriedade é o trabalho, como pode ser proprietário quem não labutou?”

Mas não há contradição entre a obrigação de trabalhar e o direito de herança. Um princípio genérico pode ter sub itens. Por exemplo, o mandamento “Não matarás” comporta como complemento por exemplo matar em legítima defesa. Assim também, é sem trabalhar para isso que se recebe um legado, sem incidir na censura de São Paulo.

É normal que um homem trabalhe em favor de seus filhos e não pelos filhos dos outros, não é?  Por  que razão?

O mesmo Dr. Plinio responde: “O Evangelho diz que devemos amar o próximo porque é nosso próximo. E portanto, quanto mais o próximo é próximo de nós, tanto mais devemos amá-lo. É por causa disso que os filhos devem amar mais os pais do que amam um qualquer”. [3]

O quarto mandamento ordena que se honre pai e mãe. “Se há uma obrigação de honrar pai e mãe, o corolário é que há uma obrigação dos pais de amar o seu filho. E de amar o filho mais do que amam os outros. Porque todas as relações humanas são recíprocas. E o honrar pai e mãe envolve para o pai, ou para a mãe, a obrigação de amar o filho, de proteger o filho, de ajudar o filho”.

E acrescenta:

“Um pai que faz assim, não segue a voz do sangue? Um pai que faz assim não segue a voz da natureza? Um pai que procede por essa forma não segue a lei de Deus? E se ele procede dessa forma, não está roubando os outros. Está dando a essa criança o que tinha obrigação de dar. Talvez ele deva servir de exemplo para os outros pais que não fazem o mesmo para seus filhos, isso sim. Mas ele, pelo seu, deve fazer o que não faz pelos outros”.

Que dizer de sem terras que roubam as propriedades, e depois não produzem? Ficam ociosos em suas favelas rurais? O que diria deles a australiana Gina Rinehart? E, sobretudo, o apóstolo São Paulo? Já transcrevemos acima seu pensamento. Seria uma frase muito dura, mas justa!


[1] Folha de São Paulo, 30-8-2012.

[2]  Epístola 2 Tess, 3.

[3] Conferência em 6-7-71.

2 COMENTÁRIOS

  1. ISSO QUER DIZER QUE:

    O deficiente incapaz de trabalhar é vagabundo?

    O que está afastado do trabalho por doença é vagabundo?

    A criança pobre abandonada pelos pais é vagabunda?

    O aposentado por idade é vagabundo?

    O desempregado (que procura emprego, mas não encontra) é vagabundo?

    Os que não tiveram estudo por falta de oportunidade e estão fora do mercado de trabalho são vagabundos?

    Nem sempre trabalhar basta. Tem pessoas que trabalham literalmente três jornadas por dia e o dinheiro mal dá para cobrir as necessidades, como então “poupar”? Trabalhando três jornadas não sobra tempo para estudar, como “melhorar de vida”?

    Tomem cuidado para não condenar as vítimas.

  2. Ao meu ver o trabalho dignifica o homem, mesmo porque uma mente sem trabalho, sobra espaço para coisas do maligno. Só que é bom deixar claro aqui o que muitos estão fazendo, inclusives católicos, que ao invés de trabalhar para viver, vivem para trabalhar, se entregando totalmente a seus bens materiais, não tendo tempo, nem para ele, nem para a família e muito menos para DEUS. De que adianta uma herança, se não a levarmos para o céu. Quando lá chegarmos se assim o fizermos por merecer, DEUS não nos irá julgar pelo que acumulamos na terra e nos dará o céu, mais sim pelo que fizemos aos nosso semelhantes. JESUS nos diz:”Não acumulei bens materiais que atraça roi, o ladrão rouba, acumulai tesouro no céu”. Resumindo: Todos devemos trabalhar sempre. Como já dizia meu falecido pai: “Filho, de trabalhar ninguém morre”.Quanto a aqueles que receberam herança, e se ela for legítima, pois existem heranças adquiridas com sangue de empregados, com maldades, trapaças, mais partamos para aquela que os pais trabalharam dignamente como manda o SENHOR, que os filhos ao recebe-las, pelo menos tenham a dignidade de mante-las e que ela não sirva para divisão em suas famílias.

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