Quando ouvimos falar de economia, a não ser que sejamos estudiosos da matéria, costumamos ter impressões sucessivas. Primeiro, que não sabemos nada, pois para muitos de nós a linguagem do economês é tão ou mais estrangeira do que o polonês… Mas depois, acabamos percebendo que entendemos vários dos fenômenos, apenas não temos o vocabulário para dar nome a cada um deles.
Assista ao vídeo da conferência
Como leigo no assunto, foi o que senti após ter acompanhado a esclarecedora palestra sobre a situação atual da economia no Brasil, proferida por um especialista em economia. Trata-se do Dr. Marcel Domingos Solimeo, superintendente do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo.
A palestra teve lugar no Club Homs da Avenida Paulista, promovida pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, no dia 16 de maio último.
Passo a dar algumas pinceladas a respeito da densa exposição.
Ciclo “virtuoso”
No passado recente, vivemos alguns anos de relativa prosperidade. Isso se deveu a um ciclo “virtuoso” da economia, gerado por:
- um “bônus externo”, isto é, tivemos a nosso favor uma demanda de bens, sobretudo referentes à agricultura, o que acabou beneficiando também os setores da indústria, do comércio etc.;
- um “bônus demográfico”, isto é, tivemos mais gente trabalhando e produzindo do que vivendo da previdência social;
- a expansão tecnológica, sobretudo na agropecuária;
- a expansão do crédito, gerando uma inclusão gigantesca de pessoas no mercado consumidor (o que gerou um crescimento a curto prazo e consequências funestas a longo prazo, de onde as aspas de “virtuoso”).
Ciclo vicioso
Entretanto, esse panorama róseo logo se evanesceu, dando lugar a um ciclo vicioso, no qual vivemos hoje.
O “bônus demográfico” em breve já não estará de nosso lado. Por causa do hedonismo, do aborto e de outras causas similares, a natalidade vai diminuindo a cada dia, e logo veremos no Brasil o que acontece hoje na Espanha e outros países europeus: o número de pessoas que ainda trabalham é insuficiente para manter a população que depende da previdência social.
A expansão despropositada do crédito pode gerar consequências indesejadas. Em primeiro lugar, porque as pessoas começam a ter um padrão de vida que não podem sustentar. O crédito fácil gera a tentação de comprar mais do que seu capital permite. O prejuízo é sempre postergado, pois, afinal, podemos pagar em 12 vezes! Ao cabo de algum tempo vem a inadimplência, fazendo com que o paraíso prometido pelo crédito fácil se volte contra o consumidor, com o pesadelo da insolvência e em certos casos do nome sujo.
Além disso, o aumento exagerado do crédito superaquece o consumo, fazendo inchar o setor de serviços. Como não há concorrência externa, o setor de serviços gera um aumento no preço dos produtos. A par disso, como há pouca mão-de-obra qualificada, o preço dos salários para os serviços qualificados cresce. O setor de serviços pode pagar, mas a indústria não, pois enfrenta concorrência externa. A indústria decai, e seus déficits cedo ou tarde transbordam para os demais setores.
Apesar disso, segundo mostrou o conferencista, o governo continua aquecendo o consumo pela expansão intemperante do crédito, pois isso eleva, na fachada, o padrão de vida da população e atrai votos. Em outras palavras, o governo faz como alguém que gasta toda a despensa da casa em uma só festa, para fazer bonito junto aos convidados, mesmo sabendo que nos dias seguintes virá a carestia.
O gasto excessivo do governo, somado ao gasto excessivo das famílias atraídas pelo crédito fácil, gera a inflação generalizada e a perda da competitividade da indústria. É o ciclo vicioso que continua a dominar o cenário.
Crise de confiança
Mas o pior está em outro fator. Segundo o palestrante, o desenvolvimento econômico de um país depende dos investimentos que nele são feitos. E esses investimentos dependem da confiança que os investidores tenham nas instituições daquele país. Ora, tal confiança está sendo abalada no atual governo, em vários pontos. Por exemplo:
1) Política intervencionista — atrapalha e sufoca a livre iniciativa;
2 ) Desrespeito aos contratos;
3) Desrespeito ao direito de propriedade;
4) Legislação trabalhista abusiva;
5) A justiça trabalhista gera insegurança, pelas atuais súmulas vinculantes que sufocam os empregadores;
6) Política de desapropriações a pretexto de favorecer indígenas, quilombolas, etc., gerando medo de investimento em várias áreas.
7) Excesso de medidas “casuísticas”, isto é, favorecimento de áreas e produtos específicos durante um curto período de tempo, sem consideração pelo conjunto dos setores.
Conclusão
A solução de curto prazo seria voltar a um padrão temperante de consumo e a uma retração razoável do crédito, evitando a inflação e a queda da indústria. Sobretudo, seria necessário que o governo abdicasse de sua tendência socialista e intervencionista, e passasse a defender o direito de propriedade, incentivar a livre iniciativa e tomar todas as medidas para recobrar estavelmente a confiança dos investidores.
Entretanto, como mostrou em suas palavras de encerramento o Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, por detrás de todo o jogo econômico do governo há uma tendência socializante, com a qual toda e qualquer solução razoável fica comprometida.
É de homens com essa lucidez que o Brasil precisa. Causa estranheza é que ele não seja convidado pela mídia para fazer debates , ou entrevistas (na Globo News, por exemplo).
O grande público fica alheio ao que realmente acontece e os seus reflexos em suas vidas e cotidiano.
Estava ainda hoje conversando com um amigo, sobre a situação do país. Na verdade estamos sofrendo um golpe de estado. Sorrateiramente manipulam o povo dando pão e circo, e vão podando um e outro que se levanta contra esta ideologia que se instalou no poder. Vivemos literalmente num regime comunista, sem que ninguém se dê conta, camuflado de democracia. Quero ver no que vai dar, quando faltar recursos para pagar tantos benefícios; meu Deus, até para quem vive no vício do crack, recebe uma pensão de, R$ 1.000.00, pela informação que me deram. E outros tantos abusos contra o povo brasileiro, que trabalha honestamente para ganhar o pão de cada dia. É inacreditável. Fazer o que o povo se deixa manipular.
Matéria de hoje do Financial Times:
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/otimismo-do-brasil-e-de-fachada-diz-ft
Em meu comentário anterior uma errata, onde se lê consumo externo e o correto é interno.
grato
Devemos ter um Estado menos intervencionista e mais regulatório. A globalização da economia e do livre comércio não reconhece mais as fronteiras ideológicos, principalmente as de regime socialistas e comunistas, deveria incentivar a poupança interna. O Brasil é um forte candidato a ter a o descontrole da inflação e uma bolha de inadimplência nos próximos anos, atingimos níveis pífios de crescimento, dado a elasticidade, facilidade e ampliação do crédito para o consumo externo, protecionismo, moeda forte do R$ frente ao US$ e perdas que temos com gastos principalmente o de turismo internacional, com nosso potencial turístico este responde apenas com 2% do nosso PIB. Esquecem os economistas que ainda temos o capital especulativo e não aqueles que desejam investir, até mesmo por certa desconfiança da atual gestão governamental.
Muito bom! vamos tirar proveito.
Peço que também coloquem o vídeo no site. Obrigada.
O texto foi muitíssimo proveitoso, concordo com todas as afirmações, mas gostaria dar a minha humilde opinião a respeito. Acredito que os senhores da economia do governo não tem nunhuma formula para sairmos da situação que a economia irá se colocar. As empresas que estão com o governo não tem problemas, pois a intenção socialista do governo é ter empresas que o apoiem não tendo estas impecilhos de créditos no BNDES. A forma com que os espaços foram ocupados de forma grammsciniana, corrobora essa afirmação. Tenho pena das empresas que não apóiam o governo, pois elas terão tempos muito difíceis.
Precisamos nos preparar para os tempo que virão.
…o texto é D I D Á T I C O … e fala por si … Realmente, é a triste realidade … …. A gigantesca malha do ASSISTENCIALISMO. que, em vez de gerar emprego, gera acomodados com mão-de-obra ociosa … … sem falar na mão-de-obra qualificada … cada vez mais escassa … pela inexistência de cursos técnicos e assemelhados para a sustentação de um desenvolvimento contínuo …. O pior é a hipocrisia do crédito fácil … e sua nefasta consequência …
Srs.,
Após ler atentamente o texto redigido por Daniel F.S. Martins e analisar os pontos abordados na palestra proferida pelo dr. Maciel Domingos Solimeo, concordo com o que foi descrito. De fato vivemos um período de credulidade e incerteza, é notório que o atual governo vem produzindo através de irresponsável expansão de crédito um consumo exacerbado que acarretará em inadimplência futura grande parte da população mais carente de tudo ( a começar por EDUCAÇÃO); os IRRESPONSÁVEIS “gastos governamentais” somados aos gastos familiares só farão aumentar os índices inflacionários e o desrespeito do governo com uma política intervencionista onde contratos, direito a propriedade e a vida não são respeitados só trazem indignação e dúvidas. Há porém dois itens em que, na minha opinião cabe contestar. Com relação a indústria brasileira, sabemos todos que se encontra sucateada, com tecnologia defasada por falta de investimentos e interesse de seus titulares em DESENVOLVIMENTO. Muito se fala e muito pouco ou quase nada se faz, o que é LÓGICO, pois temos taxas de juros elevadíssimas que remuneram o capital em detrimento a produção. Esse proceder afeta toda classe trabalhadora ativa e inativa e faz trazer de fora profissionais que poderiam ser formados em terras brasileiras, além de, atingir a seguridade social, ou seja, poucos produzindo para manter os que já estão aposentados. É muito triste ver um país como o BRASIL conduzido por “comunistinhas de M.”, haveremos SIM de buscar encontrar SOLUÇÃO VIÁVEL e a mais urgente, (em meu modesto entender), ainda está na EDUCAÇÃO, que requer INVESTIMENTO MACIÇO.
PAZ E BEM À TODOS.
Graças aos importantes trabalhos desenvolvidos pe Instituto Plinio Correa de Oliveira, têm contribuído significativamente para formação de opinião.
Agora por que não conseguimos também influir as bancadas dos católicos, evangélicos e os de centro-direita para lutarem por nos, se contrapondo à marcha contraria aos interesses da sociedade que esse governo caminha a passos largos?
Seria muito difícil convidar os lideres das bancadas citadas para ouvirem nossos entendimentos e reproduzirem aos seus liderados?
Temos que deixar de alardear nos impressões apenas entre nós e sim buscar quem possa realmente interceder por nossos direitos e entendimento.
Estive presente e fiquei mais esclarecido sobre um ponto: a socialização do Brasil não é solução.