Iniciamos, na semana passada, as considerações sobre o Reino de Cristo na Terra, mostrando a fundamental diferença entre o mundo, condenado no Evangelho, e a sociedade temporal católica.
Conforme explica o Prof. Plinio, “o Reino de Cristo não é deste mundo, mas é neste mundo que está o caminho pelo qual chegaremos até ele”. Distinção precisa e muito importante para a correta formação do espírito católico: A vida eterna e a vida terrena não constituem dois planos que se contradizem.
Veremos hoje em que consiste a perfeição cristã, na esfera individual, sem a qual é impossível o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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A perfeição cristã na esfera individual
Escreveu o Prof. Plinio: “● O Evangelho nos aponta um ideal de perfeição “sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mat. 5,48). Este conselho que nos foi dado por N. S. Jesus Cristo, Ele mesmo no-lo ensina a realizar. Com efeito, Jesus Cristo é a semelhança absoluta da perfeição do Pai Celeste; o modelo supremo que todos devemos imitar.
N. S. Jesus Cristo, suas virtudes, seus ensinamentos, suas ações, são o ideal definido da perfeição para o qual o homem deve tender.
● As regras desta perfeição se encontram na Lei de Deus, que N. S. Jesus Cristo “não veio abolir, mas completar” (Mat. 5,17), nos preceitos e conselhos evangélicos. E para que o homem não caísse em erro no interpretar os mandamentos e os conselhos, N. S. Jesus Cristo instituiu uma Igreja infalível, que tem o amparo divino para nunca errar em matéria de Fé e moral. A fidelidade de pensamento e de ações em relação ao magistério da Igreja é pois o modo pelo qual todos os homens podem conhecer e praticar o ideal de perfeição que é N.S. Jesus Cristo.
São Luis: estátua da capela inferior da Sainte Chapelle. Fundo: capela superior. Coroa de Espinhos no relicário atual. |
● Foi o que fizeram os Santos, que, praticando de modo heróico as virtudes que a Igreja ensina, realizaram a imitação perfeita de N. S. Jesus Cristo e do Pai Celeste. É tão verdadeiro que os Santos chegaram à mais alta perfeição moral que os próprios inimigos da Igreja quando não os cega o furor da impiedade, o proclamam. De São Luís, Rei de França, por exemplo, escreveu Voltaire: “Não é possível ao homem levar mais longe a virtude”. O mesmo se poderia dizer de todos os Santos.
● Deus é o autor de nossa natureza, e, pois, de todas as aptidões e excelências que nela se encontram. Em nós, só o que não provém de Deus são os defeitos, frutos do pecado original ou dos pecados atuais.
O Decálogo não poderia ser contrário à natureza que Ele próprio criou em nós: pois, sendo Deus perfeito, não pode haver contradição em suas obras.
Por isto, o Decálogo nos impõe ações que a nossa própria razão nos mostra serem conformes com a natureza, como honrar pai e mãe, e nos proíbe ações que pela simples razão vemos serem contrárias à ordem natural, como a mentira.
● Nisto consiste, no plano natural, a perfeição intrínseca da Lei, e a perfeição pessoal que adquirimos praticando-a. É que todas as operações conformes à natureza do agente são boas.
● Em conseqüência do pecado original, ficou o homem com propensão de praticar ações contrárias à sua natureza retamente entendida. Assim, ficou sujeito ao erro no terreno da inteligência, e ao mal no campo da vontade.
Tal propensão é tão acentuada, que, sem o auxílio da graça, não seria possível aos homens conhecer nem praticar, duravelmente e em sua totalidade, os preceitos da ordem natural. Revelando-os, no alto do Sinai, instituindo, na Nova Aliança, uma Igreja destinada a protegê-los contra os sofismas e as transgressões do homem, e os Sacramentos e outros meios de piedade destinados a fortalecê-lo com a graça, remediou esta insuficiência do homem.
A graça é um auxílio sobrenatural, destinado a robustecer a inteligência e a vontade do homem para lhe permitir a prática da perfeição. Deus não recusa a graça a ninguém. A perfeição é, pois, acessível a todos.
● Pode um infiel conhecer e praticar a Lei de Deus? Recebe ele a graça de Deus? Cumpre distinguir. Em princípio, todos os homens que têm contato com a Igreja Católica recebem graça suficiente para conhecer que ela é verdadeira, nela ingressar, e praticar os Mandamentos. Se, pois, alguém se mantém voluntariamente fora da Igreja, se é infiel porque recusa a graça da conversão, que é o ponto de partida de todas as outras graças, fecha para si as portas da salvação. Mas se alguém não tem meios de conhecer a Santa Igreja — um pagão, por exemplo, cujo país não tenha recebido a visita de missionários — tem a graça suficiente para conhecer, pelo menos os princípios mais essenciais da Lei de Deus, e os praticar, pois Deus a ninguém recusa a salvação.
● Cumpre entretanto observar que, se a fidelidade à Lei exige sacrifícios por vezes heróicos dos próprios católicos que vivem no seio da Igreja banhados pela superabundância da graça e de todos os meios de santificação, muito maior ainda é a dificuldade que têm em praticá-la os que vivem longe da Igreja, e fora desta superabundância. É o que explica serem tão raros — verdadeiramente excepcionais — os gentios que praticam a Lei.”
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Estabelecido o conceito de perfeição na esfera individual temos o caminho pavimentado para tratar da perfeição na esfera temporal: o Reino Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/1951_001_%20CAT_%20A_cruzada_do_seculo_XX.htm