O Tratado Marial de São Luís Grignion (II)

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Continuamos a publicação de tópicos do Tratado da Verdadeira Devoção, comentados pelo Prof. Plinio, em reuniões de formação para colaboradores do movimento em torno do mensário Catolicismo. Essa série foi proferida nos anos 50.

São Luís Grignion de Montfort, autor do Tratado da Verdadeira Devoção a Maria Santíssima

Finalidade do “Tratado da Verdadeira Devoção” 

“Encontramos no tópico 13 do “Tratado” o fundo do pensamento contido na sua introdução: 

Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido até aqui desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser“. 

Eis a razão de ser da introdução e de todo o livro: Maria Santíssima é desconhecida; Maria Santíssima deve ser conhecida; e, sendo conhecida, virá o reino de Cristo. O livro destina-se, pois, a propagar a devoção a Nossa Senhora, para que venha o reino de Cristo. Trata-se, portanto, de uma obra de larga visão e de alcance histórico muito amplo, fixando-se no desejo de trazer o reino de Cristo para um mundo que não o possui, fazendo-o preceder, em certo sentido, pelo reinado de Maria Santíssima. 

A razão teológica pela qual o reino de Cristo será precedido pelo reinado de Maria, São Luís Grignion a coloca no tópico 1: “Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo“, isto é, se Maria Santíssima não tivesse vindo ao mundo, Jesus Cristo não teria vindo; “e é também por meio d’Ela que Ele deve reinar no mundo“, ou seja, a devoção a Jesus Cristo deve vir ao mundo por intermédio de Maria Santíssima. Espalhar a devoção a Maria Santíssima é, pois, nesta perspectiva, a maior obra a que um homem pode se dedicar. 

Devoção a Nossa Senhora e preparação do reino de Cristo 

Este objetivo de São Luís Grignion presta-se desde logo a um comentário. O santo profeta propõe-se a preparar o futuro reino de Cristo fazendo o que lhe parece ser o mais essencial, o mais importante, o mais urgente, o que, na ordem concreta dos fatos, produzirá quase que automaticamente o resto: espalhar a perfeita devoção a Maria. 

A derrota do espírito do mundo e a restauração da civilização sobre os princípios da Igreja Católica não se começam, portanto, por meio da política, das obras, do talento ou da ciência. Na época mesma de São Luís Grignion, Bossuet encantava e deslumbrava Versailles e Paris com seus sermões; entretanto, para evitar a derrocada religiosa da França, não foram decisivos. O começo da regeneração de todas as coisas está na piedade, no afervoramento da vida interior, está propriamente nos fundamentos religiosos da vida de um povo. O apostolado essencial é de caráter estritamente religioso: afervorar, formar na piedade, formar o caráterO mais são conseqüências, são complementos. Importantes, é verdade, mas complementos. 

E a grande lição que São Luís Maria Grignion de Montfort fixa já no início do “Tratado”, e desenvolve mais longamente depois, é a de que na formação do caráter é condição básica e indispensável a devoção a Nossa Senhora. Possuindo-se verdadeiramente esta devoção, o caráter terá todos os meios sobrenaturais necessários para florescer, com a correspondência da vontade. Não se formando esta devoção, o próprio regime de expansão da graça na alma fica comprometido, e nada será possível conseguir. 

Portanto, a devoção a Nossa Senhora é condição necessária para tudo quanto diz respeito à salvação individual, à salvação da civilização e à salvação eterna de todos quantos constituem, em dado momento, a Igreja militante. São Luís Grignion tinha pois em mente, com esse livro, uma obra da mais alta importância para a renovação dos séculos futuros. A nós cabe, portanto, ser sôfregos em possuir esta devoção a Nossa Senhora, por ele pregada. Em outros termos, fomos chamados a uma obra definida, com objetivos definidos, e só a realizaremos se tivermos em nosso espírito esta devoção. Se ela é, como vimos, indispensável para que o mundo se regenere em Nosso Senhor, e se queremos trabalhar para isso, é necessário ir em busca desta devoção. 

O “Tratado da Verdadeira Devoção” não é, pois, um livro qualquer de piedade, apresentando uma devoção a algum santo, boa por certo, mas que se pode indiferentemente ter ou não ter. A devoção a Nossa Senhora é uma devoção essencial, “conditio sine qua non” para nosso trabalho. E só a atingiremos no mais alto grau com a forma e os fundamentos desenvolvidos por São Luís Grignion de Montfort. 

D. Chautard explana a tese de que a vida interior é fundamental para o desenvolvimento das obras, e de que o apóstolo deve possuí-la para que sejam fecundas. Explica, ainda, o que é a vida interior e quais os meios para obtê-la; entre estes, refere-se à devoção a Nossa Senhora. São Luís Grignion pressupõe todas estas afirmações (que já eram doutrina da Igreja, e que seriam desenvolvidas por D. Chautard) mostrando, porém, que a viabilidade delas está na dependência de uma grande devoção a Nossa Senhora. Pressupondo o essencial – a vida interior – ele toma um caminho que é de algum modo o essencialíssimo: a devoção a Maria Santíssima. É este o canal por onde passam todas as graças necessárias para vivificar toda a estrutura da vida interior e da vida de apostolado.”

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Tenhamos muito presentes essas verdades em 2023, quando pensamos na restauração religiosa, moral e social da Terra de Santa Cruz.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_1951_comentariosaotratado01.htm#.Y7TmxXbMJPY

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