O monstro Frankenstein anda em torno de nós, e não o notamos

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O arquiteto João Filgueiras Lima, amigo de Oscar Niemeyer ‒ portanto insuspeito em sua apreciação crítica da arte moderna ‒ compara as produções dela com a feiura de Frankenstein, visível na imagem acima

O Pe. Anthony Brankin, desenhista, pintor, escultor, orador e atualmente pároco da igreja de Santo Odilon, em Berwyn, Illinois (USA), concedeu entrevista à revista Catolicismo [1] sobre o culto à feiura no mundo moderno. Ele assevera: Não pretendo mencionar cada caso possível de feiura na nossa sociedade atual. Isso seria fatigante, quando não simplesmente desalentador. Vivemos de fato imersos numa cultura incrivelmente feia; não podemos escapar disso. Meu propósito é manter as pessoas atentas quanto ao real perigo de não perceberem a feiura, nem de se darem conta da verdadeira destruição que ela opera em suas almas.

Muitos pensam como ele a respeito. Mas, desde a infância, estamos acostumados com a arte moderna e, segundo reza um provérbio, “quem cultiva cebolas não sente mais seu odor”. Falta coragem ou reatividade para contrariar uma opinião ‒ ou um hábito mental ‒ dominante.

Não devemos nos acostumar com essa terrível circunstância em que vivemos, cedendo à lei do menor esforço e, por preguiça de reagirmos interiormente, passamos a considerar normal a feiura da cultura que nos cerca. É o que pensa o sacerdote:

De fato, o culto da feiura é tão penetrante, nos cerca tão completamente e preenche todos os interstícios de nossa vida, que corremos a cada momento o risco de não analisá-lo e deixar, assim, de rejeitá-lo.

A arte moderna invadiu até nossas igrejas, e em muitos lugares, Frankenstein posa ao lado de santos de nossa devoção. Prossegue o sacerdote:

Poder-se-á pensar que, ao menos no domingo, seríamos poupados de toda essa feiura visual e espiritual indo à igreja. Mas a feiura também lá está, pois, possivelmente, sua igreja já foi despojada pelos modernos bárbaros católicos, que não possuem sequer senso artístico. O senso remanescente de beleza em nossas mentes e corações, pelo qual ainda podemos reconhecer a feiura existente, tanto em edifícios como na filosofia ou na vida, deve ser alimentado e protegido como a nossa última arma na batalha com o “Não-Deus”.

Tragicamente, nosso mundo não reconhece sequer o que é o feio. A beleza é aquilo que quando visto agrada e, portanto, o lógico seria que o feio fosse aquilo que, quando visto, desagrada. Mas olhem para a nossa sociedade, na qual o que agrada é o macabro, o esquisito, o torto e o deformado;

Olhe para as nossas igrejas e catedrais mais recentes. Muitas delas são atordoantes e terríveis. Não pela homenagem à tradição e ao senso católico de beleza. Elas são atordoantes e terríveis na sua total desumanidade, na sua falta de proporções completa e horrenda, na sua minuciosa e total esterilidade. Não há um ângulo que agrade ou um arco que conforte. Nem sequer um pedaço de moldura que nos contenha em sua sombra.

Dr. Plinio ensina em sua obra “Revolução e Contra-Revolução”: Quanto às artes, como Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes, sabores, e certos estados de alma, é claro que por estes meios se podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas avançadas. [2]

A objeção vem de onde não se esperava:

Nessa matéria, encontrei sempre, em alguns, uma espécie de pouco caso, uma coisa assim como quem diz: “Não, o importante é a gente não pecar contra a castidade, cumprir os mandamentos. Essa história de ambientes revolucionários é um fundo de quadro, mais ou menos científico, que querem inserir no assunto, mas que para efeitos práticos não é preciso tomar em consideração”.

Ora, tem-se que tomar em consideração. Por quê? Porque o espírito de qualquer ambiente revolucionário diz diretamente respeito ao 1º Mandamento, ao amor de Deus. É algo que quebra, que prejudica o amor de Deus. O amor de Deus é o meio que temos para nos santificarmos, é o modo pelo qual tomamos energia para o cumprimento dos outros mandamentos, é o que dá até valor ao cumprimento deles, porque o mandamento que não for cumprido por amor de Deus não vale nada. Uma debilidade no Primeiro Mandamento debilita todo o resto, e tira ao apostolado sua fecundidade. [3]

Para terminar, remataJoão Filgueiras Lima, o amigo de Niemeyer:

A moda “cria essa linguagem, até mesmo para os prédios. Eles têm de se vestir daquela forma, todos iguais, para ficar na moda. E os arquitetos, para sobreviver, vão a reboque dessas pressões. Então são indiretamente culpados. Mas a sociedade também manda. Estamos em um ciclo vicioso.

O arquiteto acrescenta:

Você adensa áreas e cria problemas em outras. Imagine um corpo humano, todos os órgãos têm de estar integrados. De repente alguém diz ‘ah, vamos fazer aqui um coração enorme!’ Não adianta, o peito vai estourar porque o coração é muito grande […] O arquiteto deveria ser o clínico da cidade. No entanto, não tem uma visão global e as obras viram um Frankenstein. A cidade é o maior Frankenstein de todos.[4]


[1] Número 746, fev. 2013.

[2] Capítulo IV, 1.

[3] Sem data.

[4] OESP, 14-3-2013.

9 COMENTÁRIOS

  1. Concordo plenamente com o artigo.

    Esse subjetivismo da forma nos dias atuais, representado em “artes” como a de Picasso etc, deveriam servir apenas para mostrar a angústia e tormentos do artista, e não tentarem enfiar de goela abaixo, tais obras como referenciais de beleza, pois definitivamente não é belo!

    Vejo beleza até hoje, no desenho de uma criança, que pinta uma casinha ladeada ou fronteada por uma estrada, com árvores ao redor; ou um pequeno barco à deriva em um mar calmo, representando paz e calmaria; ou ainda quaisquer outras gravuras/pinturas desse gênero e seus sucedâneos. Aprecio isso como referenciais de beleza artística. O belo sempre será belo e não comporta subjetivismos de almas doentias carentes de paz e cura interior.

  2. La Verdad, el Bien y la Belleza, que se encuentran en su forma absoluta en Dios y pálidamente reflejadas en este mundo, son inseparables entre si. Si la Verdad y el Bien desaparecen de este mundo, también deja de existir la Belleza.
    Por ese motivo todas las formas de satanismo (por ejemplo, el conjunto musical KISS) son horripilantes.
    No es casualidad que las pagodas “conciliares”, donde ni se predica la Verdad ni se exhorta a los “creyentes” a practicar el Bien, sean casi siempre “modernas”, leáse horribles.

  3. O que vemos em materia de arte em nosos dias, nada mais do que reflexo do que acontece dentro de cada ser humano que as compõe. Com o afastamento de Deus, que é a beleza incriada, lamearam-se na feiura condenada.
    Eis ai o resutado por não quererem mais o Belo Infinito nascido daquela que é Toda Bela! Toda Bela! Toda Bela!
    Salve Maria.

  4. `A “arte” moderna aplica-se a fábula do Rei Nu: todos sabem que é uma aberração, disforme, feia, mas ninguém quer se comprometer. Há duas fórmulas simples para se descobrir se uma obra é de arte ou não: 1ª. Quem exclama à sua presença nunca fica embevecido ou diz “que lindo!” “que maravilha!” mas sim: Que diferente! Maneiro! Legal! Caraca! Caramba! 2ª: quando for um monumento, escultura, arquitetura ( como Brasília) ou outra aberração qualquer, preste atenção – o guia turístico nunca olha para a obra que está mostrando, mas sim para o grupo ao qual se dirige, aguardando manifestações de aprovação que, se vierem, vêm sob a forma das palavras acima. Já em Roma, quando um guia turístico mostra uma fonte ou monumento de Michelangelo, p. ex., mesmo que seja pela milésima vez, ELE OLHA PARA A OBRA QUE ESTÁ MOSTRANDO. Reparem isso, quando tiverem oportunidade: é infalível.

  5. @MARCELO CABRAL
    Maquiavel jamais estara certo de nada, visto que ele veio fazer os desserviços que fez, esses sim p/ o demônio e não p/ Deus, já que durante toda sua vida, percebe-se através de suas lombrigas – ” o príncipe” que na verdade ele quis perverter as pessoas.

  6. Caríssimos, se pensarmos no ponto de vista do outro e procurarmos ver as coisas tão bem pelo ângulo dela quanto pelo seu, você perceberá que tudo isso descrito é uma das muitas formas de persuadir as pessoas. O que é belo para um, poderá não ser para o outro.Tudo depende de como você enxerga as coisas e não de simples funcionalismo.Nem sempre o bonito é bonito e nem sempre o feio é feio.Fomos condicionados desde o nosso nascimento. Lembra-se do mito da caverna?Devemos sair de dentro do quadrado e ver como as coisas funcionam fora dele, a verdade é essa.Maquiavel estava certo na sua obra o príncipe, pois o que funciona não é a razão teórica, mas a prática.O que se faz é mais importante do que se diz. Fujam do condicionamento e procure observar as coisas fora do quadrado e tire suas próprias conclusões.

  7. Me chama a atenção o fato de, nos dias atuais, não se encontrar nenhum arquiteto que resgate de verdada o explendor da idade média em construções fabulosas como o Duomo de Milão, Notre Dame e a Catedral de Barcelona. Onde estão estes artífices da mais pura arte em nossos dias? É uma pergunta que não quer calar! E segue a vida com Igrejas galpão…

  8. Muito me alegrou o coração esta publicação , pois entendo que tal analogia veio ao encontro de algumas reflexões pessoais que,à tempos havia desenvolvido . Observei que o “Belo de Deus” é a Verdade e, toda Alma que A busca ,aprimora os sentidos em sua direção, cultivando e refletindo exteriormente a Sua imagem . Contrapondo-se à “Belezada Verdade” , a “Feiura da Mentira” cultivada interiormente pela alma ,revela-nos explicitadamente nestes útimos tempos,suas formas concretas e visíveis aos nossos olhos , a terrível imagem do “Frankenstein Espiritual” .

  9. DISCORDO. Precisa ser alienado(a) o “ser” que não percebe as horrorosas manifestações
    denominadas “ARTE”. Basta que se olhe as pichações que estão em vias públicas, (muros
    portões, paredes de edifícios), há que se citar também a degradação em que se encontram
    obras artísticas nas praças, museus, etc. Eu entendo ainda que, essa “manifestação tida
    artística”, nada mais, nada menos é do que o retrato de seus autores. SIMPLES, pessoas
    sem nenhum tipo de formação, lares constituídos sob a égide do “maldito”, drogas várias
    (alcóol, maconha, cocaína, heroína {em casas mais abastadas}, entre outras). Complementa a E D U C A Ç Ã O, que nas terras tupiniquins deixa à desejar, e por aí afora.
    PAZ E BEM À TODOS.

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