Meditações sentimentais, elucubrações adocicadas, considerações apenas em tese sobre a Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, sem qualquer vinculação com a Paixão por que passa a Santa Igreja Católica em nossos dias, e sem referência a nossas próprias culpas, sempre foram criticadas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. É uma constante em suas exposições, por ocasião da Quaresma, a aplicação aos dias atuais do Sagrado Drama vivido pelo Divino Redentor há quase 2000 anos.
De pouco nos adianta meditar sobre esse Drama, sem darmos provas sinceras de nossa dedicação, devoção e amor a nosso Salvador. E uma dessas provas é não permanecermos tíbios e indiferentes aos sofrimentos atuais da Santa Igreja (Ela é o Corpo Místico de Cristo), que vem sendo vilipendiada e escarnecida por seus adversários e até por muitos de seus maus filhos, na época presente.
Neste sentido, meditemos a Paixão do Divino Redentor nesta Semana Santa, com base nas seguintes considerações escritas por Plinio Corrêa de Oliveira no “Legionário” de 6-4-41.
Domingo de Ramos
“Um defeito que diminui, frequentemente, a eficácia das meditações que fazemos, consiste em meditar os fatos da vida de Nosso Senhor sem qualquer aplicação ao que sucede em nós ou em torno de nós. Assim, espanta-nos a versatilidade e ingratidão dos judeus, já que estes, depois de proclamarem com a mais solene recepção o reconhecimento que deviam ao Salvador, pouco depois O crucificaram com um ódio que a muitos chega a parecer inexplicável.
“Entretanto, essa ingratidão e essa versatilidade não existiram apenas nos judeus dos tempos da existência terrena de Nosso Senhor. Hoje ainda, no coração de quantos fiéis, tem Nosso Senhor que suportar essas alternativas de adorações e de vitupérios. E isto não se passa apenas no recesso geralmente indevassável das consciências. Em quantos países Nosso Senhor tem sido sucessivamente glorificado e ultrajado, a curtos intervalos de tempo?
“Não empreguemos nosso tempo exclusivamente em nos horrorizarmos diante da perfídia do povo deicida. Para nossa salvação ser-nos-á utilíssimo refletirmos em nossa própria perfídia. Olhos postos na bondade de Deus, poderemos assim conseguir a emenda de nossa vida.
Reparar as atuais ofensas a Nosso Senhor
“Ninguém ignora que o pecado é um ultraje feito a Deus. Quem peca mortalmenteexpulsa Deus de seu coração, rompe com Ele as relações filiais que Lhe deve como criatura, e repudia a graça.
“Assim, há uma frisante analogia entre o gesto dos judeus, matando o Redentor, e nossa situação quando caímos em pecado mortal.
“Ora, quantas e quantas vezes, é depois de termos glorificado a Nosso Senhor ardentemente, por nossos atos ou ao menos depois de termos tomado com os lábios ares de quem O glorifica, que caímos em pecado e O crucificamos em nosso coração! […]
“Nosso Senhor, indubitavelmente, é muito ultrajado em nossos dias. Sejamos nós algumas daquelas almas reparadoras que, se não pelo brilho de nossa virtude, ao menos pela sinceridade de nossa humildade — humildade inteligente, razoável, sólida, e não apenas humildade de palavrório sonoro e pescoço torto —, reparemos nestes dias santos, junto ao trono de Deus, tantos ultrajes que incessantemente Lhe são feitos”.