Assim iniciava Luis de Camões a estrofe do seu canto 5 de Os Lusíadas, na qual o ilustre poeta relata a Conquista da Ilha da Madeira, “das que nós povoamos a primeira”.
Terra de clima e vegetação invejáveis — que deslumbraram os olhos de uma arquiduquesa da Áustria que por lá passara em sua viagem ao Brasil, país do qual seria a primeira Imperatriz —, também fora local de exílio do piedoso Imperador Carlos, último dos Habsburgo a ocupar o trono austríaco.
Ilha onde abundavam famílias ilustres pelo sangue enobrecido em guerras e conquistas, de homens bravos e intrépidos que participaram ativamente na colonização do Brasil tanto nos primórdios do povoamento das capitanias hereditárias, quanto nas imigrações mais recentes, em meados do século XX.
Pois bem, com toda esta magnífica história, parte integrante da epopeia marítima portuguesa, cuja grandeza pode ser sintetizada neste trecho de Os Lusíadas — “Cessem do sábio grego e do troiano, as navegações grandes que fizeram; cale-se de Alexandro e de Trajano, as famas das vitórias que tiveram…” —, o governo regional da Ilha da Madeira, ao tentar encontrar um novo nome para o seu aeroporto, não encontrou outro melhor do que o de um jogador de futebol lá nascido…
Não houve consenso para tal iniciativa, e, embora a grande mídia faça pouca alusão, na verdade muitos dos portugueses em seu bom senso foram contra essa escolha e acharam absurda a ideia de homenagear alguém ainda vivo e cujo mérito não vai além de jogar, segundo alguns entendidos, com maestria o futebol e nada mais.
Este fato não deixa de ser emblemático da decadência do mundo hodierno e da desconexão entre os governantes e o povo que os elege, diria mesmo, do sentido do que é a “democracia”.
No mundo de hoje, sobretudo em povos com antiga história e, mais ainda, onde a história está intimamente ligada à ideia de cristianismo, tudo é feito para apagá-la. O relativismo contemporâneo odeia a desigualdade e relativiza tudo. Portanto, correr atrás de uma bola é o mesmo que enfrentar mares tempestuosos, pois, afinal, “somos todos humanos com virtudes e defeitos, somos iguais”.
Nesse contexto, o homem comum, com vida imoral e temperamento amoral, passa a ser apresentado como exemplo, no intuito revolucionário de quebrar os paradigmas de uma sociedade burguesa e cristã; de acordo com este pensamento, a tradição e a família são conceitos que devem ser superados para a criação de uma “nova humanidade”.
Quanto aos governantes das “democracias” modernas, eles pouco se importam com a vontade do povo, governando nessa perspectiva de “mudança” numa espécie de gnosticismo político, onde poucos têm o conhecimento da verdade para retirar o povo e o País de uma fatídica ignorância, produto, segundo eles, de muitos séculos de cristianismo. No caso da Madeira, circularam três petições, uma contrária à mudança do nome do aeroporto; duas a favor. Porém, o número das pessoas que assinaram a petição contrária era maior que o das duas outras somadas. Em um regime político que se autoproclama “governo do povo, para o povo e pelo povo”, isso seria o suficiente para impedir a referida medida ou para que houvesse maior discussão e participação popular sobre a questão. Porém, não foi o que aconteceu.
Se pensarmos em valores puramente naturais, a humanidade nunca esteve tão decadente, nem mesmo nos piores tempos do Império Romano, onde muito do Direito natural ainda era praticado e a imoralidade que reinava não era regularizada pelo Senado Romano, como o é hoje em dia pelos nossos legisladores.
O que pensar de um mundo onde reina a vulgaridade e se despreza a virtude? Onde a Religião é posta de lado e o laicismo é a regra? Onde os nomes dos heróis que derramaram seu sangue pela expansão da Fé e do Império são esquecidos e suplantados pela vontade de burocratas e demagogos…?