Com o assunto da educação em voga, publicaremos uma sequência de artigos sobre Paulo Freire e a educação que saíram no mensário Catolicismo.
O primeiro artigo dessa sequência é de 1975 e traz qual é o objeto do método criado pelo Paulo Freire. Desejamos a todos uma boa leitura.
Paulo Freire: educação como prática da “libertação”
Autor: P. Ferreira e Mello
Catolicismo n° 296-298, agosto-outubro de 1975
O festejado Paulo Freire, após dirigir um programa de alfabetização no Brasil durante o período janguista, exilou-se no Chile depois de Março de 64, sendo no país andino encarregado pela administração democrata-cristã do Plano de Educação em Massa.
Dali passou-se à Europa, onde preside o INODEP (Instituto Ecumênico para o Desenvolvimento dos Povos), que tem sedes em Paris e Genebra, e é mantido pelo Conselho Ecumênico das Igrejas, organismo notoriamente esquerdista.
Sua notoriedade veio do método de alfabetização que idealizou pelos anos 1961-1962, e que foi largamente difundido por obra e graça das esquerdas ditas católicas.
Agora a Editora Paz e Terra, do Rio de Janeiro, acaba de reeditar suas obras principais: Educação como Prática da Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Extensão e Comunicação (este último aparece com o prefácio da edição original chilena, escrito por Jacques Chonchol, então Ministro da Agricultura de Frei, e executor de sua reforma agrária socializante — como o havia sido da reforma agrária de Fidel Castro).
O que P. Freire tem em vista
Paulo Freire pretende com seu método destruir a educação tradicional, que, segundo ele, “domestica“, “aliena“, fazendo do educando objeto e não sujeito da ação educativa.
Assim, ele procura “desalienar“, “ativar” o alfabetizando, tornando-o uma pessoa crítica da sociedade. Considera que sem a “conscientização“, a alfabetização é até prejudicial, por ligar ainda mais o indivíduo à “sociedade opressora“.
E aqui chegamos à ideia-chave do método Paulo Freire: “conscientização“; palavra que de si pode não querer dizer nada, mas que também pode significar muita coisa. Será interessante conhecer o que P. Freire entende a respeito.
Uma palavra que diz muita coisa
No livro El Mensaje de Paulo Freire —Teoria y Práctica de la Liberación (Editorial Marsiega, Madrid, 1973) — que reúne vários escritos do professor pernambucano — podemos ler: “Crê-se geralmente que sou o autor desse estranho vocábulo conscientização, pelo fato de ele ser o conceito central de minhas ideias sobre a educação. Na realidade ele foi criado por uma equipe de professores do Instituto Superior de Estudos do Brasil por volta de 64. […] Ao ouvir pela primeira vez a palavra conscientização, dei-me conta imediatamente da profundidade de seu significado […]. Desde então, esta palavra passou a formar parte de meu vocabulário. Mas foi Helder Camara quem se encarregou de difundi-la e de traduzi-la para o inglês e o francês” (pág. 35).
“A conscientização convida-nos a assumir uma posição utópica perante o mundo, posição que converte o conscientizado em “fator utópico”. Para mim […] a utopia […] é a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, o ato de DENUNCIAR A ESTRUTURA DESUMANIZANTE eANUNCIAR A ESTRUTURA HUMANIZANTE.
Por esta razão a utopia é compromisso histórico […]. Por esta razão somente os utópicos podem ser PROFÉTICOS e portadores de esperança. Somente podem ser proféticos os que anunciam e denunciam, COMPROMETIDOS PERMANENTEMENTE NUM PROCESSO RADICAL DE TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO para que os homens possam ser mais. Os homens reacionários, os homens opressores não podem ser utópicos. Não podem ser proféticos e, portanto, não podem ter esperança” (pp. 37-38) (destaques nossos).
Para onde a “conscientização” nos levará? Evidentemente, para a denúncia da “estrutura desumanizante” e o anúncio da “estrutura humanizante“. Qual será essa “estrutura humanizante“? Paulo Freire indica: “Com exceção da CUBA PÓS-REVOLUCIONÁRIA, essas sociedades [latino-americanas] são ainda fechadas; são sociedades dependentes” (p. 91) (destaques nossos). Ou seja, desumanizantes.
A mecânica do método
Vistas em seu Núcleo as ideias educacionais de Paulo Freire, passemos ao método. Temos à vista o livro Educação como Prática da Liberdade (Paz e Terra, 5.a ed., 1975) e um número de IDOC internacional (n.° 29, 15 de Agosto-1.o de Setembro 1970) — revista do organismo interconfessional de mesmo nome, promotor da subversão eclesiástica por toda parte. Uma vez que Paulo Freire utiliza uma “linguagem difícil em seus escritos” — como reconhecem seus discípulos do MIRJAC —Movimento Internacional da Juventude Agrícola e Rural Cristã (IDOC internacional, p. 32) — é preciso traduzi-la em termos mais simples.
Uma “escola” sem professores nem alunos, sem classes nem aulas
No método Paulo Freire, não há professor, aluno, classe ou aula. O que existe é coordenador de debates, participante de grupo, círculo de cultura e diálogo (ou debate).
O coordenador é o elemento adrede preparado para levar adiante o processo de alfabetização. Cabe a ele conscientizar, alfabetizando.
O método consta de duas etapas, uma de elaboração, outra de execução prática. Ambas comportam várias fases, que resumiremos:
1.a — LEVANTAMENTO DO UNIVERSO VOCABULAR: A equipe de coordenadores conversa informalmente com os moradores da área visada, para conhecer o vocabulário de uso comum, registrando as palavras mais empregadas.
2.a — ESCOLHA DAS “PALAVRAS GERADORAS”
(“Palavras geradoras — explica Paulo Freire são aquelas que, decompostas em seus elementos silábicos, propiciam, pela combinação desses elementos, a criação de novas palavras” – ob. cit. p. 112, nota 13). Três critérios presidem a escolha dessas palavras:
“a) o da riqueza fonêmica;
- b) o das dificuldades fonéticas; […]
- c) ode teor pragmático da palavra, que implica numa maior pluralidade deENGAJAMENTO DA PALAVRA NUMA DADA REALIDADE SOCIAL, CULTURAL, POLÍTICA, etc.” (id. pp. 113-114)
(destaques nossos).
3.a — DEBATE EM TORNO DA “PALAVRA GERADORA”: Projeta-se numa tela um slide, ou se apresenta uma gravura relacionada com a palavra em discussão. As situações que tal palavra evoca são exaustivamente debatidas entre os coordenadores e os alfabetizandos.
4.a — DECOMPOSIÇÃO DA “PALAVRA GERADORA”: A palavra geradora é decomposta em sílabas; formam-se novas sílabas, mudando-se as vogais.
5.a — FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS A PARTIR DA “PALAVRA GERADORA”: A partir dos grupos silábicos já obtidos, formam-se novas palavras, juntando-se as diferentes sílabas.
Exaurida a primeira palavra geradora, passa-se à seguinte.
O método pode ser aplicado, indistintamente, a adultos, adolescentes e crianças.
Exemplificação
Tomemos um exemplo do próprio Freire. Digamos que a palavra geradora escolhida seja FAVELA. Projeta-se um slide ou apresenta-se uma gravura representando aspecto de uma favela. Debate-se, então, a “situação existencial” que a favela apresenta, isto é, os seus problemas: habitação, alimentação, vestuário, saúde, educação etc. Descoberta a favela como uma “situação problemática“, passa-se à visualização da palavra pela projeção de um slide:
FAVELA
Depois outros, sucessivamente:
FA-VE-LA
FA-FE-FI-FO-FU
VA-VE-VI-VO-VU
LA-LE-LI-LO-LU
Nesta fase, o grupo aprendiz é auxiliado — ou o faz por conta própria — a formar palavras, tais como FILA, FIVELA, VELA etc.
Com tal sistema, segundo Paulo Freire, é possível alfabetizar em 45 dias.
Apresentamos a seguir outras palavras geradoras, selecionadas para o Estado do Rio e Guanabara, e os respectivos temas de debate:
Palavra geradora – Aspectos para a discussão
CHUVA Influência do meio-ambiente na vida humana. O fator climático na economia de subsistência. Desequilíbrios regionais do Brasil.
ARADO Valorização do trabalho humano. O homem e a técnica: processo de transformação da natureza. O trabalho e o capital. Reforma agrária.
TERRENO Dominação econômica.
Latifúndio. Irrigação. Riquezas naturais. Defesa do patrimônio nacional.
COMIDA Subnutrição. Fome — do plano local ao nacional. Mortalidade infantil e doenças derivadas.
BATUQUE Cultura do povo. Folclore. Cultura erudita. Alienação cultural.
PROFISSÃO Plano social. O problema da empresa. Classes sociais e mobilidade social. Sindicalismo. Greve.
ENGENHO Formação econômica do Brasil. Monocultura. Latifúndio. Reforma agrária.
RIQUEZA O Brasil e a dimensão universal. Confronto da situação de riqueza e pobreza. O homem rico x o homem pobre. Nações ricas x nações pobres. Países dominantes e dominados. Países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Emancipação nacional. Ajudas efetivas entre as nações e a Paz Mundial.
Uma “educação libertadora”
Conforme seus propugnadores, o método propicia uma “educação libertadora“, pois destrói no educando as noções antigas e introduz aí a desalienação, libertando-o de preconceitos daninhos, como as noções de propriedade, hierarquia, concórdia de classes, etc.
A verdade é que o método Paulo Freire é adequado a levar os alunos a aceitar a ideia da luta de classes, ao desejo de destruir as estruturas tradicionais, à rejeição das legítimas desigualdades. Basta observar os temas propostos ao diálogo, para notar o quanto são susceptíveis de exploração comunista, desde que bem manipulados pelos coordenadores.
Análise do método Paulo Freire
O método utiliza o contato entre professor e aluno como instrumento de vital importância para o rápido aprendizado. A motivação do aluno é provocada pela participação no diálogo e pelo desejo de formar novas palavras. O interesse despertado pela discussão propicia uma alfabetização fluida e rápida.
A ideia de interessar os alunos por meio de uma maior comunicação com o professor nada apresenta de novo, tendo sido largamente utilizada em épocas anteriores.
Entretanto, o ensino de épocas passadas conservava e cultivava as distinções entre mestre e discípulo. O mestre era cercado de respeito e procurava-se transpor para o campo educacional o tipo de relações existentes entre pai e filho. Almejava-se um ensino paternal.
Paulo Freire preconiza o igualitarismo, a camaradagem entre professores e alunos. Aliás, como vimos, os termos professor e aluno, que contêm a ideia de um que ensina e outro que aprende, são evitados.
O método explora o justo anelo do analfabeto de sair do seu estado, para introduzir ideias marxistas, através da análise orientada dos temas, habilmente lançados para discussão.
Aqui, pela conscientização o educando torna-se paciente de uma perigosíssima manobra de baldeação ideológica inadvertida.
Paulo Freire utiliza um linguajar pedante e complicado. Assim, atinge duplo objetivo. Primeiro, faz-se entender pelos leitores que têm as chaves da interpretação. Em segundo lugar, ele pode passar junto ao público até como teórico moderado, por não pregar abertamente a revolução comunista.
Sua doutrinação é criptográfica. Com um pouco de esforço, o sentido real salta inequívoco. E o que sai é a pura teoria marxista da ação.
Os lados positivos do método tornam-no mais nocivo, assim como um bom fuzil nas mãos de um mal-intencionado fá-lo mais temível do que se ele tivesse apenas um trabuco enferrujado.
Próximos artigos que serão publicados sobre Paulo Freire:
- Multinacional da subversão -Catolicismo n° 315, março de 1977
- Pobre ensino nacional… – Catolicismo n° 506, fevereiro de 1993
- Escolas infectadas de marxismo – Catolicismo n° 695, novembro de 2008
[…] issue, 1975, “Paulo Freire: educação como prática da ‘libertação’”, available at: https://ipco.org.br/paulo-freire-educacao-como-pratica-da-libertacao/#.XN6p-fZFyUk, last accessed January 29, […]