Por que a cor dos paramentos dos padres muda ao longo do ano?

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Paramentos tradicionais expostos na Catedral de Ávila (Espanha) [Foto PRC]

Pergunta — O senhor poderia explicar por que o padre aos domingos, ou mesmo nos dias de semana, celebra a missa com paramentos de cores diferentes? Agradeço de antemão.

Padre David Francisquini

Resposta — A Igreja Católica se utiliza de nossos sentidos — o aroma do incenso, os sons dos sinos e do coro, as imagens da Natividade, da Crucifixão e outras — para nos elevar nos mistérios cíclicos dos tempos litúrgicos. As cores são uma das formas pela qual a Igreja inspira os católicos, pelo sentido da vista, a perceber melhor o sentido espiritual de uma determinada festa religiosa ou de um mistério da fé.

Nisso a Santa Igreja atende a uma apetência natural dos fiéis, já que as pessoas gostam de variedade e também entram em maior sintonia com os sentimentos que a Igreja deseja suscitar nos fiéis com uma celebração em particular. De fato, cada cor tem seu próprio significado simbólico: o negro exprime o luto, o roxo a dor, o dourado a magnificência, e assim por diante.

As principais cores litúrgicas

Em algumas igrejas há também o belo costume de trocar a cortina que cobre o tabernáculo (chamada conopeu) para que seja da mesma cor dos paramentos do celebrante.

De onde a escolha das cores que fazem parte da liturgia desde os primórdios da Igreja não ter sido aleatória ou simplesmente decorativa. À medida em que os fiéis passam pelo ano litúrgico ou honram um santo ou um mistério especial, a cor litúrgica acentua o seu significado. É natural que o branco seja a cor dos paramentos nas missas das virgens e o vermelho a cor dos mártires.

A Igreja ordena, por meio da lei litúrgica, a cor dos paramentos a serem usados por seus ministros sagrados no ofício do dia. Em algumas igrejas há também o belo costume de trocar a cortina que cobre o tabernáculo (chamada conopeu) para que seja da mesma cor dos paramentos do celebrante. Nas grandes festas, era tradição colocar um pano da mesma cor na parte inferior do altar, entre a mesa do altar e o piso, chamado antependium (do latim ante, diante e pendere, pendurar), porque originariamente colocavam-se relíquias sob o altar, as quais eram ocultadas durante a missa.

As cores assim sancionadas pela Igreja em conexão com seu culto público são chamadas cores litúrgicas e, no rito latino, elas são atualmente cinco principais: branco, vermelho, verde, roxo e preto. Nas grandes solenidades pode-se utilizar o dourado. No meio da Quaresma e do Advento, que são tempos litúrgicos de penitência, pode-se usar a cor rosa em dois domingos específicos, como será explicado mais adiante. Nas festas de Nossa Senhora, o azul é autorizado na Espanha e nas suas antigas colônias, ou seja, na América hispânica e nas Filipinas. Posteriormente, tal privilégio foi estendido à Áustria, aos carmelitas e a alguns santuários marianos.

O Brasil não possui este privilégio e, para adquiri-lo, seria necessário que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil fizesse um pedido formal à Santa Sé e recebesse uma resposta favorável, pois só ela tem autoridade para alterar as cores litúrgicas (contrariamente à imensidade de abusos que se veem por todos os lados, o pior dos quais é utilizar as cores do arco-íris em apoio ao movimento LGBT!).

Museu de Arte Sacra de Ouro Preto – divulgação

Tratado definindo as cores no calendário litúrgico

Demorou certo tempo até a Igreja fixar suas regras para as cores litúrgicas. Nos ritos mais antigos (por exemplo, o de Jerusalém), o paramento do Dia do Senhor era simplesmente uma túnica não tingida, bem limpa, feita de linho e, mais raramente, de lã, que lembrava a cor branca. Isso era apropriado, pois o branco é a cor cristológica por excelência, que lembra a inocência do divino Cordeiro. Dizemos que era uma cor que lembrava o branco, porque as técnicas de branqueamento dos tecidos foram lentas e caras, então se usavam, na verdade, vários tons de cinza.

A partir do século VII, em âmbito diocesano, as cores principais passaram a ser as três cores clássicas utilizadas desde a antiguidade: vermelho, branco e preto. Vários matizes foram sendo introduzidos, dependendo do feriado, os quais diferiam entre si essencialmente pela intensidade e brilho, chegando-se a um total de sete cores: havia três tons de vermelho, dois de branco e dois de preto. No branco, o candidus era mais brilhante do que o albus. No preto, o niger era mais brilhante do que o ather. Nos três vermelhos, o purpureus era mais brilhante do que o coccinus ou o ruber. O ouro, que na verdade era mais um amarelo, começou a ser adicionado a essas três cores. Depois foram integrados o verde e o roxo. Apesar de algumas diretrizes gerais e pouco claras, a escolha da cor era geralmente uma decisão do celebrante.

Havia padres que celebravam a Páscoa com vestes brancas, enquanto outros usavam vestes vermelhas ou mesmo verdes. Alguns padres confeccionaram casulas muito caprichosas e despropositadas, que logo foram condenadas pelos bispos locais por serem consideradas pouco decentes (casulas listadas, multicoloridas ou muito vistosas, combinando mais de duas cores, com significados totalmente diferentes).

A partir do século XII foram feitas tentativas de uniformizar as cores nos ritos da Igreja. Os liturgistas da época concordavam em atribuir significados precisos às três cores principais. O vermelho era a cor da Paixão, do martírio e do Espírito Santo. O branco era a cor da Páscoa da Ressurreição, enquanto o preto era a cor da abstinência, da penitência e do luto. O roxo foi considerado um subniger, ou seja, um derivado e substituto, passando a substituir o preto na época do Advento.

Foi o Papa Inocêncio III (1198 a 1216) quem oficializou quatro cores litúrgicas: branco, vermelho, preto e verde.

O cardeal Lottario dei Conti de Segni escreveu, no fim do século XII, um tratado intitulado De sacrosancti altari mysterio, que incluía uma seção sobre as cores litúrgicas. Depois de eleito Papa, sob o nome de Inocêncio III, ele governou a Igreja de 1198 a 1216 e oficializou quatro cores litúrgicas: branco, vermelho, preto e verde. No seu tratado, ele deu um sentido definitivo às cores e às correspondências no calendário litúrgico, a fim de evitar interpretações vagas de cada celebrante: o vermelho devia ser usado apenas nas festas dos apóstolos, dos mártires, da Santa Cruz e em Pentecostes; o branco, nas festas da Quinta-Feira Santa, Páscoa, Natal, Epifania, Ascensão, Todos os Santos, dos anjos e na comemoração das virgens e dos confessores. O preto devia ser usado apenas nas festas dos mortos e durante o Advento e a Quaresma, assim como na festa dos mártires Inocentes (isso depois mudou). Nos demais dias, deve-se usar apenas a cor verde, porque — escreve ele no seu tratado — é uma cor “a meio caminho entre o vermelho, o preto e o branco”. O roxo às vezes podia substituir o preto e o amarelo podia substituir, em casos específicos, apenas o verde.

Beleza da variedade harmônica das cores na liturgia

Foi somente nos séculos XIII e XIV que o azul (pela sua associação com o céu) foi introduzido na liturgia, como cor a utilizar-se nas festas marianas e exclusivamente nos ritos nativos da Espanha (como o moçárabe), mas nas outras áreas, o branco permaneceu como a cor oficial para as festas marianas.

Durante a era barroca (século XVII), duas novas cores litúrgicas foram introduzidas: o ouro e o rosa. A primeira cor, já em voga como substituto do branco e do verde, foi amplamente utilizada nas solenidades marianas do rito romano, em vez do azul espanhol e do branco romano anterior. No entanto, ficou estabelecido que a cor dourada, símbolo da majestade de Deus, poderia substituir qualquer cor, exceto roxo e preto, cores de penitência.

O rosa, uma novidade absoluta, foi introduzido apenas para o terceiro domingo do Advento (chamado de Gaudete) e quarto domingo da Quaresma (chamado de Laetare), como uma cor a meio caminho entre o roxo (típico desses tempos litúrgicos) e o branco, porque nesses dois domingos são lembradas, respectivamente, as promessas venturosas da Natividade e da Ressurreição, assim como da instituição da Eucaristia, pela leitura do milagre da multiplicação dos pães.

Num mundo que oscila entre uma uniformidade pardacenta e uma chocante estridência multicolor, a variedade harmônica de cores dos paramentos dos celebrantes e da decoração das igrejas, assim como seu desfile gradual ao longo do ano litúrgico, com um pontilhado de interrupções por causa de festas religiosas específicas, constituem um regalo para os olhos e para o espírito, povoando a alma dos fiéis com pensamentos elevados a propósito dos mais sagrados mistérios da religião católica.

Em breve começará um novo Ano Litúrgico (no primeiro Domingo de Advento). É uma boa ocasião para meditarmos a respeito das belezas dos ritos da Igreja e pedirmos a Nossa Senhora que ponha fim o quanto antes aos inúmeros abusos litúrgicos que desnaturam a Sagrada Liturgia, particularmente no augusto sacrifício do altar.

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Fonte: Revista Catolicismo, Nº 852, Dezembro/2022

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