Um dos vezos do chamado esquerdismo católico consiste em tratar da questão social, da justiça social, do serviço social como se fossem unicamente coisas de nossos dias. Os séculos que nos precederam teriam, pois, desconhecido por inteiro os deveres de justiça e de caridade em relação aos pobres, etc., etc.
Esta concepção é totalmente desacreditada pelos estudos históricos sérios, de nossa época como de qualquer outra. Mas as mentiras têm vida dura. E em conseqüência esta impostura revolucionária continua a circular.
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Correm tranqüilas as águas do Regnitz, na nobre cidade de Bamberg, antiga residência de Soberanos e Bispos. Nelas se refletem as fachadas a um tempo sérias e risonhas, destas velhas casas, quase todas com quatro pavimentos.
Primorosamente bem cuidadas, adornadas com alegre vegetação, elas deixam transparecer um teor de vida sem pretensões, mas estável e farto, uma vida de família intensa, íntima e tranqüila. Em suma, tudo aí se apresenta de modo a atrair vivamente o trabalhador contemporâneo. E pudera, à vista de um tão apetecível conforto burguês!
Entretanto, não se trata de habitações de magistrados, professores, ou funcionários. Trata-se de… velhas residências de pescadores!
Que diferença entre esta graça, esta placidez, esta harmonia, e a vulgaridade, a sordície, os mil ruídos de tanto subúrbio de babilônias modernas.
E assim, quantos outros exemplos poderíamos mencionar.
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Mas de pouco adiantaria fazê-lo. Vista a foto, lidos os comentários, nosso “esquerdista católico” não argumentaria. Ele se limitaria ao seu desabafo habitual: que reacionário é o homem que escreveu isto!
E depois continuaria a repetir a mesma cantilena contra o passado.
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Publicado originalmente pela revista “Catolicismo” Nº 164 – Agosto de 1964
- http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0164/P06-07.html