Reforma Agrária – Questão de Consciência 50 anos de um livro cuja eficácia repercute até nos presentes dias (II)

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    Durante os governos dos presidentes Jânio Quadros e João Goulart, iniciou-se uma luta contra-revolucionária para impedir a implantação no Brasil da Reforma Agrária socialista e confiscatória. No cerne dessa luta, o livro Reforma Agrária – Questão de Consciência, cuja solidez doutrinária muitas personalidades reconhecem. Atualmente ainda persiste essa luta, suscitando um caloroso debate, que envolve essa “questão de consciência” em favor da propriedade privada.

    Juan Gonzalo Larraín Campbell

    “Bíblia dos latifundiários e dos inimigos da Reforma Agrária”

    Coleta de assinaturas para o manifesto de apoio às teses de Reforma Agrária – Questão de Consciência, em abril de 1964

    Vinte e seis anos depois de sua publicação, o livro ecoa na mente do sacerdote agro-reformista Antonio Vieira. Sem ocultar sua aversão, ele escreve: “Mas o livro constituiu a bíblia dos latifundiários e dos inimigos da Reforma Agrária, dos ultra conservadores, e para demagogia política de personalidades do estofo moral de Armando Falcão.

    Felizmente, o livro provocou dentro do episcopado e das forças mais atuantes da mentalidade católica e humanista do Brasil uma repulsa contra estas ovelhas negras do rebanho de Cristo (sic).(16)

    Os autores de RA-QC bem poderiam exclamar: “A indignação da esquerda católica prova a eficácia de nossa ação!”.

    O sol que ilumina todo o livro são os documentos da Igreja

    Este artigo perderia em objetividade se deixássemos de citar algumas manifestações de pessoas que viram com lucidez, sabendo elogiar com destemor a envergadura da luta ideológica suscitada pelo livro.

    No livro Em defesa, Mons. Francisco Sales Brasil, um dos polemistas mais inteligentes e brilhantes do Brasil daquele tempo, refere-se aos documentos oficiais da Igreja transcritos em RA-QC, e afirma: “Documentos que não se compõem de textos insulados ou frases de algibeira; compõem-se de um longo sistema, de um denso contexto — que, diga-se de passagem, é o sol que ilumina toda a paisagem, todo o sítio das idéias tão sociais e anti-socialistas de Reforma Agrária – Questão de Consciência”.(17)

    “Documentos que não se compõem de textos insulados ou frases de algibeira; compõem-se de um longo sistema, de um denso contexto — que, diga-se de passagem, é o sol que ilumina toda a paisagem, todo o sítio das idéias tão sociais e anti-socialistas de Reforma Agrária – Questão de Consciência”

    Mais adiante, acrescenta: “Mas é um livro fertilíssimo. Tão fértil que já tem provocado na atmosfera da imprensa brasileira relâmpagos nervosíssimos e grossas trovoadas, algumas, de todo, secas. Outras serão seguidas da chuva e do orvalho com que Deus costuma abençoar o grupo dos que Lhe continuam fiéis, o qual, na comparação do Divino Agricultor, é aquele terreno bom que produz cento por um”.(18)

    “Não me consta que os nossos fazendeiros tenham encontrado, nas imprensas brasileiras dos últimos tempos, alguma defesa mais científica e mais vigorosa, mais de acordo com as leis da justiça e da caridade — para com eles e para com os trabalhadores — do que a que foi organizada pelos autores do livro RA-QC. Nesta hora em que a propriedade particular está sofrendo a mais cruel e a mais profunda perseguição conhecida da História”.(19)

    “O livro não teve adversário digno”

    Um valente sacerdote espanhol, Pe. Ricardo M. Cacho, defendeu RA-QC em seu artigo Un problema, una ley, un libro:

    Marcha da Família com Deus pela liberdade

    Apesar de tudo isso, creio que o livro atingiu seu fim, […] mas desgraçadamente não teve adversário digno. Este livro, que suscitou uma guerra jornalística como não se tinha visto outra no Brasil, vai dizendo e provando a verdade desde o princípio até o fim”.(20)

     

    Em seguia ele denuncia a campanha de silêncio de que foi objeto o livro, quando os adversários se viram derrotados: “Queremos concluir este artigo informando que aquela incandescência da crítica, que vomitava fogo contra o livro nos primeiros meses, foi amainando […].

    Conjuntamente com aquela chuva de insultos, saíram nos primeiros tempos artigos favoráveis ao livro, e não poucos. Mas o maior contraste aparece agora quando a crítica, sem crítica, se cala. É um silêncio eloqüente. Se tinham razão, por que desanimaram em tão pouco tempo?

    Por que esses líderes estão sumidos em significativo silêncio, se o livro continua vendendo-se com o mesmo ritmo ao aparecer sua terceira edição? Por que o Sr. Gustavo Corção não contestou a refutação que lhe fez o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira? Por que não se responde aos artigos que continuam sendo escritos por aqueles que tiveram tempo de ler o livro? Por que todo este silêncio? Os adversários em perigo recorrem ao refúgio”.(21)

    Implantação das medidas socialistas tornou-se impossível

    João Goulart pouco antes de abandonar o poder

    Nos Estados Unidos, uma lúcida avaliação da situação foi apresentada por David Allen White em sua obra The Mouth of the Lion (A boca do leão): “A TFP saiu a público em forte oposição ao movimento favorável à Reforma Agrária. Sua mais poderosa arma apareceu em forma de livro, concebido por Plinio e escrito com a assistência dos dois bispos e de um economista brasileiro. […] Recebeu o título de Reforma Agrária – Questão de Consciência. […] A batalha subseqüente mostrou ao público as divisões na hierarquia da Igreja no Brasil.

    Muitos bispos apoiavam a Reforma Agrária, e o faziam com aberta simpatia para com o socialismo. […] O aparecimento na televisão também proporcionou uma bem visível plataforma de onde atacar RA-QC. A ruptura na hierarquia brasileira, uma fenda na rocha da Igreja, podia ser vista pela primeira vez por milhares de brasileiros. Ao longo dos anos, a fenda haveria de se alargar a ponto de se tornar um abismo aberto.

    “Com o passar do tempo, a batalha tornou-se mais intensa e as divisões aumentaram. […] As medidas socialistas do presidente João Goulart tornaram-se mais pronunciadas e continuaram a ganhar amplo apoio de muitos bispos. As atividades da TFP também se tornaram mais públicas e mais difundidas. Ela foi às ruas para demonstrações públicas de patriotismo. […]

    “Plinio e os dois bispos continuaram a batalha nas páginas de Catolicismo e alhures. Seus esforços foram incessantes, e sua influência profunda. Eles haviam provocado tal reação em todo o País, que logo o movimento pela implantação das medidas socialistas tornou-se impossível”.(22)

    O escritor salvadorenho José René B. Ferrufino assim viu o papel do livro como freio para o comunismo no Brasil: “Publicaram um livro intitulado Reforma Agrária – Questão de Consciência, que praticamente foi a chispa do movimento anticomunista brasileiro que terminou por derrocar o regime comunistóide de ‘Jango’”.(23)

    Plinio Corrêa de Oliveira e RA-QC

    Além de dar seu aval doutrinário ao livro, D. Sigaud e D. Mayer desempenharam papel de destaque nas polêmicas que

    Plinio Corrêa de Oliveira

    se travaram pela imprensa e televisão durante a campanha de difusão de RA-QC. Não obstante, o idealizador e a alma da obra foi Plinio Corrêa de Oliveira.

    Assim, neste cinqüentenário do livro-bandeira no combate ao agro-reformismo confiscatório, parece-nos justo finalizar com uma homenagem ao seu principal autor.

    Esta não é de nossa lavra, mas de Mons. Sales Brasil na sua já citada obra: “É também autor desta primeira parte [de RA-QC] o não menos erudito e não menos famoso Plinio Corrêa de Oliveira, simples congregado mariano, simples leigo, cuja ciência religiosa e ortodoxia — vivesse ele nos primórdios do cristianismo — talvez lhe conquistassem, com os louros da combatividade impertérrita, o título de Santo Padre da Igreja”.(24)

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    Notas:

    15. Pe. Aloísio Guerra, op. cit., pp. 55-56.

    16. Pe. Antonio B. Vieira, A Igreja, o Estado e a questão social, Ed. Fortaleza, Fortaleza (CE), 1986, pp. 123-125.

    17. Mons. Francisco de Sales Brasil, Em defesa, Salvador (BA), 1961, p. 243.

    18. Mons. Francisco de Sales Brasil, op. cit., p. 244.

    19. Mons. Francisco de Sales Brasil, op. cit., pp. 247-248.

    20. Pe. Ricardo M. Cacho, Un problema, una ley, un libro. Religión y cultura, Madrid, 1961, julho-outubro, 23-24. vol. VII, p. 514.

    21. Pe. Ricardo M. Cacho, op. cit., julho-outubro, 23-24, vol. VII, p. 544.

    22. David Allen White, The Mouth of the Lion, Ed. Angelus Press, Kansas, 1993, pp. 80-84.

    23. José René Baron Ferrufino, Penetración comunista en El Salvador, Ahora S. A., El Salvador, 1970, pp. 218-219.

    24. Mons. Francisco de Sales Brasil, op. cit., p. 244.

    2 COMENTÁRIOS

    1. Faço minhas as sábias palavras do Sr. Luiz Antonio. Que falta faz a doutrina social da Igreja no Catecismo! E a acrescento outra falta: quase nenhum Católico conhece o HINO PONTIFÍCIO, o Hino Oficial da Santa Igreja. Esta é uma falha grave que evita a construção de uma maior IDENTIDADE Católica. Que tal se fomentarmos a divulgação desse belíssimo hino e da doutrina social da Igreja? SUGESTÃO DADA!

    2. Caros Senhores Diretores do INSTITUTO PLINIO CORREA DE OLIVEIRA,

      Cordiais Saudações.

      Neste grave momento, vésperas de eleição presidencial,
      ante ameaça grave de Congresso benévolo com o PNHD 3,
      vejo com esperança um lance supremo nosso à maneira
      de RA-QC.

      Talvez um número monográficao da Revista Catolicismo
      EXPLICITANDO, explicando, mostrando no que vai dar
      tal PLANO… e divulgando quanto possível em Caravanas
      o Catolicismo.

      Para fazer obra mais consistente e para o futuro vejo
      como indispensável anexar um sumário de Doutrina
      Social da Igreja, no formato de CATECISMO SOCIAL de 50 a 100
      perguntas e respostas. Sabemos que o Catecismo tradicional
      até hoje não foi acrescido do conteúdo de doutrina social,
      que tem revelado fazer falta, e prejudicar o apostolado leigo
      que depende tanto da respectiva doutrina social, aliás,
      fundamento da Civilização Cristâ, obra específica do
      apostolado leigo.
      Queira nossa Rainha e Padroeira, Nossa Senhora Aparecida,
      iluminar-nos nesta quadra. Obrigado.

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