Revolução em estilo colonial

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Na seção “Ambientes, costumes e civilizações” da revista Catolicismo, edição maio de 1962, Plinio Corrêa de Oliveira comparou o estilo moderno de Brasília ao colonial. Ressaltou, contudo, que ao construir para si uma residência em estilo tradicional, Niemeyer não deixou de colocar nela a sua marca socialista.

Brasília foi e continua a ser objeto de discussões, no âmago das quais se encontra, como é claro, o problema dos altos predicados ou dos graves defeitos da chamada arte moderna. Esta polêmica se generalizou tanto que, do Brasil, passou para outros países. E um dos indícios de quanto ela continua vivaz pode encontrar-se no fato pitoresco narrado em recente telegrama de Lisboa.

A cidadezinha de Moimenta da Beira, próxima de Vizeu, resolveu construir um estabelecimento de ensino, e adotou um projeto inspirado no símbolo de Brasília. “Estava o edifício em fase de acabamento — informa a AFP — quando a Câmara Municipal, achando-o demasiado arrojado, resolveu mandar demolir sua fachada”.

A corrente modernista da vila não se deu por vencida, e tentou um golpe de força para impor a conservação da fachada “brasílica”. Arregimentando seus fiéis, avançou rumo ao edifício, a toque de apitos de fábrica e repicar de sinos.

Espantados, os pobres operários que davam início à demolição pararam. Os próprios manifestantes procederam à reconstrução do que fora destruído. E a arte de que é corifeu o arquiteto Oscar Niemeyer triunfou em Moimenta da Beira.

Brasília

A casa da foto é nova. Sua construção começou em 1961. Mas, como se vê, seu estilo é colonial. Fachada longa, monótona, melancólica, sem graça. Parece a reconstrução de alguma antiga senzala.

A que vem ela? Perguntará sobressaltado algum leitor liberal. Catolicismo vai afirmar que essa casa oferece melhores condições de habitabilidade que alguma das novas e modernas residências de Brasília? Seria levar realmente o “reacionarismo” muito longe, a um extremo que tocaria as raias do delírio, e afrontar a sabedoria da população “moderna” de Moimenta da Beira, bem como do mundo inteiro!

Aquiete-se nosso leitor. Quem prefere morar nessa casa, com esse jeito, é o arquiteto Oscar Niemeyer. Pois essa é a residência que para si ele construiu em Brasília, quase em frente ao Sítio do Ipê.

E, diz um matutino paulista, quando “lhe perguntaram a razão por que fizera para si próprio uma casa em estilo colonial, respondeu com simplicidade: é nela que vou morar”. O que significa, ao que parece, que o estilo Brasília é bom para os outros. Para ele não, ó habitantes progressistas de Moimenta da Beira e outros lugares do mundo!

A casa está situada num terreno de 100 m x 200 m e tem 563 metros quadrados de área construída. Faz duas concessões apenas ao moderno. Uma é o traçado irregular de sua piscina. Da outra falaremos depois.Brasilia-2

Quer dizer que, uma vez pelo menos, batemos palmas ao Sr. Oscar Niemeyer? Não. Nem sequer quando constrói ele em estilo tradicional, a influência socialista deixa de se fazer sentir em suas obras.

Assim, por que fazer esta casa com ares de senzala? A construir em estilo colonial, por que não se inspirar nos modelos tão simples e tão nobres que ele oferece em abundância?

Brasilia-3Considere-se, por exemplo, na segunda fotografia, esta fachada da Casa dos Governadores, no bairro do Garcia, em Salvador, também chamada a Casa do Conde dos Arcos (de D. Marcos de Noronha Brito, Governador de 1810 a 1817). Apesar da nobreza de suas linhas, tem as dimensões da residência de um particular e estaria acessível ao Sr. Niemeyer. Por que, em lugar de se inspirar nela, ou em modelos análogos, foi se inspirar em construções tão pouco representativas do que nosso passado tem de melhor?

Economia? Simplicidade? Gosto de viver como os pobres?

Será que o criador de Brasília não teve remuneração suficiente para fazer para si habitação condigna? E por que então revestiu de mármores os cinco banheiros da casa? Por fim, qual a razão que o levou a relegar seus empregados em dependências que têm pé-direito de apenas 2,45 m, com cobertura de zinco, o que deve ser tremendamente quente nos dias de verão (e constitui a segunda concessão que a casa faz à arquitetura moderna)?

Vemos nisto, não amor à tradição, mas gosto da contradição e da vulgaridade.

O que, com escândalo para os habitantes de Moimenta da Beira e outros lugares, nos parece presente como deplorável sintoma, em toda Brasília.

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