Sacerdote vítima do ódio comunista

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Apesar do infeliz acordo da Santa Sé com a China comunista em prol da chamada Igreja Patriótica, títere do governo chinês, e em detrimento da chamada Igreja Subterrânea, fiel a Roma, continuam as perseguições naquele país. Bispos fiéis e católicos leigos têm sido perseguidos, igrejas e conventos continuam a ser invadidos e destruídos.

De acordo com o conceituado National Catholic Register, desde dezembro de 2018 — não chegando a três meses depois de assinar seu acordo com o Vaticano —, Pequim aumentou a perseguição religiosa, procurando sinicizar a religião no país. Depois de citar perseguições a outros grupos religiosos, o jornal acrescenta: “Com relação aos católicos, as condições são opressivas também, com santuários no país sendo também demolidos. Os católicos menores de 18 anos são proibidos de assistir Missa, e algumas dioceses permanecem vagas”[i].

Isso porque o comunismo não muda. E é implacável quando está no poder, levando tudo a ferro e fogo para impor sua nefasta ideologia. Seriam muitos os exemplos ao longo da história do século XX e início do XXI, tanto na Rússia quanto noutros países onde ele predominou ou predomina. Escolhemos apenas um, ocorrido nos remotos idos de 1929, para mostrar o ódio diabólico que esses sem-Deus já demonstravam contra os católicos, assim que conquistavam um país. Trata-se do martírio de um sacerdote irlandês, cruelmente morto pelo fato de simplesmente ser católico.

O Pe. Timóteo Leonard [foto] nasceu numa fazenda em Killonan, Ballysimon, no Condado de Limerick, na Irlanda, na festa de São Pedro e São Paulo de 1893. Um dos seis filhos do casal William e Mariana Leonard, dois de seus irmãos se tornariam também sacerdotes.

Timóteo frequentou a Escola Nacional de Monaleen, foi interno no Colégio São Munchin em Limerick e, depois de cursar a Universidade São Patrício, em Maynooth, foi ordenado sacerdote no dia 28 de abril de 1918, para a Diocese de Limerick. Pouco depois entrou para a Sociedade Missionária de São Columbano, que havia sido fundada dois anos antes para enviar missionários à China.

Em 1924 seria fundado o ramo feminino da Sociedade, o das Irmãs Missionárias de São Columbano, para assessorar os missionários em seu apostolado. São Columbano (540-615) foi um monge missionário irlandês que se tornou conhecido pela fundação de inúmeros mosteiros pela Europa, o mais famoso sendo o de Luxeuil, na França, fundado em 590, no qual entraram tantos monges, que foi possível fazer o laus perennis, isto é, o Ofício ininterrupto, dia e noite, a Deus.

O Pe. Leonard foi dos primeiros missionários columbanos a ser enviado à China, em 1920, com o Pe. Eduardo Galvin, co-fundador da Sociedade com o Pe. João Blowick. Os missionários partiram no dia de São Patrício, 17 de março, do porto de Liverpool, na Inglaterra, via Estados Unidos.

Chegando a Shangai, os missionários participaram por vários meses de um curso intensivo de chinês mandarim. Depois do que o Pe. Leonard foi enviado para área de Haniang, começando então seu apostolado em solo chinês. O Pe. Galvin mais tarde seria o primeiro bispo de Hanyang, naquele país.

Memorial em homenagem ao Pe. Timóteo Leonard

Em 1924 o Pe. Timóteo retornou à Irlanda em busca de novos missionários e ajuda financeira para sua missão. Nesse intuito, pregou em paróquias, colégios e escolas, projetando slides do trabalho dos missionários na China. Como tinha nascido numa fazenda, também apresentou seu trabalho numa feira de agricultura, sendo muito bem recebido pelos fazendeiros, que lhe deram bom suporte financeiro.

Durante essa estadia na Irlanda, o Pe. William Fenton perguntou-lhe se ele tinha considerado que poderia ser morto na China. O intrépido missionário respondeu: “E daí? Se eu pensasse que não o poderia ser, ficaria desapontado. Aliás, [o martírio] não será senão por um quarto de hora. Pense então na recompensa eterna!”.

O Pe. Leonard retornou à China em 1926, desta vez para a região de Hubei, na parte central do país. Dois anos depois foi transferido para a província de Jiangxi, ficando pároco de Nan Feng, na diocese de Nan Chang.

O verdadeiro missionário era incansável em seu trabalho, seu entusiasmo não encontrando limites. Além de atender a seus paroquianos da cidade, viajava por péssimos caminhos em lombo de mula para visitar os católicos encontrados em áreas distantes, em lugares às vezes quase inacessíveis.

Ora, os revolucionários comunistas, liderados pelo feroz MaoTseTung, conseguiram penetrar naquela área por volta de 1929. O exército vermelho somava então dez mil homens na região. Todos seus membros odiavam os católicos, principalmente os missionários estrangeiros que trabalhavam no país.

No dia 15 de julho de 1929, os energúmenos chegaram à cidade de Nan Feng, e foram direto para a igreja. O Pe. Leonard estava exatamente terminando a consagração na Missa das 5:00 horas da manhã. Os comunistas o arrancaram do altar, quebrando os vasos sagrados. Nesse instante, a maior preocupação do sacerdote foi a de salvar o Santíssimo Sacramento. Increpou então asperamente os sem-Deus pelo sacrilégio que cometiam, fazendo heróicos esforços para proteger as Sagradas Espécies. Mas os comunistas tiraram-lhe das mãos o cibório, jogaram as hóstias sagradas pelo chão, e nelas pisaram.

Depois intimaram o Pe. Timóteo a pagar grande importância por seu resgate. Como ele recusou, o levaram preso juntamente com 16 fiéis, incluindo seu coroinha. O Pe. Leonardo pediu a seus captores que liberassem o menino sem resgate, com o que eles condescenderam.

Os 17 confessores da fé foram aprisionados. Entretanto o Pe. Timóteo, como o responsável por todos eles, foi levado para o alto de um monte, onde o interrogaram e torturaram por muito tempo, durante o qual o sacerdote recusou qualquer alimento, permanecendo entregue à oração.

No dia seguinte, depois de um simulacro de julgamento, o missionário columbano foi condenado à morte, acusado de ser hostil ao povo da China, isto é, dos comunistas, amigo dos Nacionalistas que contra eles lutavam, e espião do Vaticano. O Pe. Timóteo foi executado no dia 17, sendo parcialmente decapitado.

Três dias depois, seus paroquianos recuperaram o seu corpo, e o levaram para a igreja local, onde foi velado por três dias em meio a lágrimas, cânticos e orações dos seus paroquianos.

No dia 23 de julho o missionário também columbano, Pe. Pat Dermody, e um sacerdote chinês, cantaram solene Missa de réquiem pelo eterno repouso da alma do falecido.

É preciso dizer que os missionários columbanos foram expulsos da China quando os comunistas tomaram o poder no país em 1949.

O Pe. Timóteo Lonard foi o primeiro dos 24 missionários da Sociedade de São Columbanoque deram sua vida pela fé. Ele tinha somente 36 anos de idade quando foi martirizado.

O dia em que sua família recebeu a notícia de seu martírio, foi de muita consternação para a sua mãe e os seus irmãos. Entretanto, em meio à tristeza, veio da Austrália uma nota de fé e alegria. Com efeito, um dos irmãos do falecido, Dr. William Leonard, que se tornara grande erudito naquele país, ao saber da notícia das circunstâncias da morte do irmão, mandou um telegrama à mãe, no qual dizia: “Congratulações! A senhora se tornou a mãe de um mártir”. 


[i]NationalCatholicRegister, disponível em http://www.ncregister.com/daily-news/china-and-the-catholic-church-yesterday-today-and-tomorrow

Outras fontes consultadas:

https://columbans.ie/new-headstone-columban-martyr-fr-timothy-leonard/
http://www.ncregister.com/daily-news/from-ireland-to-china-and-martyrdom-the-legacy-of-father-timothy-leonard
http://www.limerickcity.ie/media/olj%202011%20p046%20to%20048.pdf

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